sexta-feira, outubro 09, 2009

decisões

"Não são as ideias nem as decisões que importam - interessam, mas não importam. É a convicção. É o convencimento. Qualquer decisão é mais eficaz do que a inteligência. O pensamento é um luxo e um atraso.

Há uma experiência que estão sempre a repetir. Quando se remove o córtex a um bicho qualquer, ele deixa de pensar e de duvidar; de se sentir seguro ou não; de medir as oportunidades. E qual é a consequência? Torna-se imediatamente o chefe dos outros bichos. Os pensadores, no reino animal, são seguidores. Foi o que aconteceu com as pessoas com as piores ideias do século XX: Hitler, Estaline, Mao. Foram as que tiveram mais poder e mais mal fizeram. Porque não hesitavam e o nobre ser humano, hesitante, não resiste a quem não hesita.

Cada vez mais se ouve dizer que qualquer decisão, por muito estúpida ("vou deixar crescer um bigode!"), é mais benéfica do que a dúvida mais inteligente. Na verdade, a pessoa inteligente só decide por instantes. A decisão é emitida como os talões de estacionamento. Pode (e deve) mudar a qualquer momento porque, felizmente, nunca se sabe. Aprende-se a não saber. Aprende-se a viver com isso. Aprende-se a ser enganado, de vez em quando, quando se acerta nalguma coisa.

Recuperamos de ter tido razão, naquela vez sem exemplo. Passa-nos. Esquece-nos. A convicção é convincente, mas é perigosa, por ser o contrário da inteligência e da condição humana, que é não ter bem a certeza de quase nada.

Custa - mas assim é que é bonito."


Miguel Esteves Cardoso
um destes dias, no Público



(não estou a conseguir tomar decisões e a máxima que costumo usar - "quando não sabes o que fazer, não faças nada" - também não está a resultar. e não estou a falar de grandes decisões, neste momento a dificuldade atinge as coisas pequeninas e mesquinhas do dia a dia - talvez tenha havido aqui um contágio, e não conseguir decidir sobre as "coisas grandes" tenha invadido as decisões mais quotidianas: o que vestir, o que comer, o que fazer com o tempo de trabalho e o tempo livre. é um coisa perigosa: se por um lado não tomo decisões erradas, também não tomo as certas, fico só por aqui, à espera.)


2 comentários:

Anónimo disse...

OBRIGADO NAT, não resisti a copiar para o meu hi5. Espero que não te importes!

Também me é um tema que me toca bastante, intrínseca e extrinsecamente. Mais uma peça no meu interminável puzzle do conhecimento humano...

E porque não usar a máxima "quando não sabes o que fazer, faz qualquer coisa diferente do habitual"! Vemos sempre realidades diferentes que nos permitem ver outras formas do mundo girar.

Beijo, e mais uma vez obrigado :-)

Alex

natalie disse...

obrigada Alex.

um amigo falou-me de um livro, que ainda não li, cujo título era qualquer coisa como "whatever you think, think the opposite".
sim, às vezes tb sigo essa máxima, de experimentar fazer o contrário do habitual!

um beijo