terça-feira, fevereiro 21, 2017

parque subterrâneo

estaciono. fecho os olhos. deixo-me cair no banco ao lado. como se fosse possível, com um fechar de olhos, apagar tudo. não é. procuro dentro de mim o "verão invencível", um consolo, uma palavra mágica. fecho os olhos.
uma laranja na serra da estrela. a fusão com o mar. ruelas de barcelona. uma rua em viseu. um instante antes de entrar em palco. um gelado em ljubljana. uma conversa à beira rio. todos os sorrisos que recebi. o sol. a bahia de todos os santos. as oliveiras da cerca. as portas abertas na páscoa. as ruelas da alta. o suryanamaskar. todo o amor que me dão. todo o amor que dou.
todas as palavras não ditas. não ouvidas. a incompreensão.
sinto-me presa.
regresso.
está tudo aqui ao mesmo tempo.
para romper o casulo.
outra vez.

sábado, fevereiro 18, 2017








preciso de uma alegria 
muito 
grande





quarta-feira, fevereiro 01, 2017

acordar

Com a tua letra

Fala-se de amor para falar de muitas
coisas que entretanto nos sucedem.
Para falar do tempo, para falar do mundo
usamos o vocabulário preciso
que nos dá o amor.
Eu amo-te. Quer dizer: eu conheço melhor
as estradas que servem o meu território.
Quer dizer: eu estou mais acordado,
não me enredo nas silvas, não me enredo,
não me prendo nos cardos, não me prendo.
Quer também dizer: amar-te-ei
cada dia mais, estarei cada dia
mais acordado. Porque este amor não pára.
E para falar da morte; da enorme
definitiva irremediável morte,
do carro tombado na valeta
sacudindo uma última vez (fragilidade)
as rodas acendedoras de caminhos
- eu lembraria que o amor nos dá
uma forma difícil de coragem,
uma difícil, inteira possessão
de nós próprios, quando aveludada
a morte surge e nos reclama.
Porque eu amo-te, quer dizer, eu estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.
Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.


Fernando Assis Pacheco