terça-feira, dezembro 20, 2016

"Quién dijo que todo está perdido? Yo vengo a ofrecer mi corazón"

quarta-feira, dezembro 07, 2016

golo

"Não sei porque ainda penso em ti. Tanto tempo depois, e ainda me vens ao pensamento, por tudo e por nada. Como hoje, como agora, quando passava em frente ao café da minha rua e um grupo de gente gritou "Goolo!". Imaginei-te. Incrível como as imagens me aparecem, assim, do nada, contigo lá dentro. Custou-me tanto tirar-te daqui, da minha vida, da minha rua, da minha casa, da minha cama. Não sei como é que ainda penso em ti. Mas penso. Imaginei-te num café de beira de estrada, a luz amarelada, inclinado sobre a mesa, frente a uma cerveja e um prato de tremoços, a olhar para o ecrã verde, lá em cima. No balcão alguns homens, as garrafas de "minis", as cascas de tremoços e amendoins a serem atiradas ao chão, as vozes ao fundo, risos, discussões, a que estás ao mesmo tempo alheio e atento. E depois a rapariga, de decote generoso e calções curtos, que passa a varrer o que os homens sujaram, a discutir com eles, chama-te a atenção. Vejo-te a olhares para ela, de soslaio, como quem não olha, e nesse momento já estás a fervilhar. Apetece-te. Imagino-te a seres seduzido por aquela putazinha de subúrbio, ela a mostrar-se, a perguntar-se se queres mais alguma coisa, um sorriso e olhar que dizem tudo. E depois... Depois paro de imaginar. Não quero ver o que vem a seguir. O que suspeitei várias vezes. Os sinais que trazias. Mais do que o sexo, magoou-me a mentira. É talvez por isso que ainda penso em ti. Depois de ti, deixei de confiar."

sexta-feira, novembro 11, 2016

so long

(thank you, Mr. Cohen)

segunda-feira, outubro 24, 2016

sombras



Quase não te lembras
do rasto do seu corpo
e no entanto pesam-te
as suas palavras
como o eco duma avalanche
que se aproxima.

Não existes, não és nada,
não imagines amor
onde apenas há sombras.

És a estrada secundária
o desvio de um dia sem pressas
para alguém que brinca
a mudar de destino
mas leva uma bússola
e volta sempre a casa.


Ana Merino
Tradução Maria Sousa

sábado, outubro 22, 2016

segunda-feira, outubro 17, 2016

tréguas



Este poema é para ti.
é uma oferta de tréguas
dizendo que
nada no teu coração negro
me poderá assustar.
Olhei tempo demais
para o meu próprio coração.
Obrigada pela dádiva
das tuas incertezas.


Eunice de Souza

domingo, setembro 25, 2016

tarde



Micke Berg, Kvarteret Mullvaden, Krukmakargatan, Stockholm, 1977

segunda-feira, agosto 01, 2016

quarta-feira, julho 20, 2016

numbers and figures



When numbers and figures no longer
Are keys to everything created,
When those who sing or kiss
Know more than the learned scholars,
When the world returns to a free life
And the whole world rewinds,
Then once more light and shadow will couple 
To produce genuine clarity,
And people will recognize that the true histories of the world
Lie in fairy tales and poems,
Then at a single secret word
This whole wrongheaded existence will fly away.



Novalis, 1801

segunda-feira, junho 20, 2016

gosto

encontrado num papel, dentro de um livro:


gosto de cerejas, de sol no inverno e da brisa no verão. gosto dos contrastes.
gosto do cheiro dos castanheiros, gosto das ruas das cidades.
gosto que me mexam no cabelo, gosto que me agarrem pela cintura, gosto que me abracem apertado, abraços inteiros e interiores.
gosto de massagens nos pés e de festas nas mãos.
gosto de mãos.
gosto das costas dos homens e dos seios das mulheres.
gosto do suor dos corpos que se amam.
gosto da poesia, das folhas que caem e das primeiras flores.
gosto de mar e de montanhas, de milhafres e de cães.

domingo, junho 12, 2016

to be or not to be

(cruzamo-nos algumas vezes, nunca falamos além do olá, mas, como ontem se dizia, era uma pessoa presente. um choque. não consigo deixar de ver na minha cabeça, como num filme, a silhueta esguia, a ponte, a queda. ainda parece mentira.)

domingo, junho 05, 2016

sábado, maio 14, 2016

the journey


Above the mountains
the geese turn into
the light again
Painting their
black silhouettes
on an open sky.
Sometimes everything
has to be
inscribed across
the heavens
so you can find
the one line
already written
inside you.
Sometimes it takes
a great sky
to find that
first, bright
and indescribable
wedge of freedom
in your own heart.
Sometimes with
the bones of the black
sticks left when the fire
has gone out
someone has written
something new
in the ashes of your life.
You are not leaving.
Even as the light fades quickly now,
you are arriving.
 David Whyte

terça-feira, maio 03, 2016

quarta-feira, abril 13, 2016

chá

Amedeo Bocchi,1920

segunda-feira, abril 11, 2016

despedida



MANUAL DE DESPEDIDA PARA MULHERES SENSÍVEIS



Ser digna na partida, na despedida, dizer adeus com jeito,
não chorar para não enfraquecer o emigrante,
mesmo que o emigrante seja o nosso irmão mais novo,
dobrar-lhe as camisas, limpar-lhe as sapatilhas
com um pano húmido, ajudá-lo a pesar a mala
que não pode levar mais de vinte quilos
(quanto pesará o coração dele? e o meu?),
três pares de sapatos, um jogo de lençóis, o corta-vento,
oferecer-lhe a medalha que a Mãe usava sempre que partia
e que talvez não tenha usado quando partiu para sempre,
ter passado o dia à procura da medalha pela casa toda
(ninguém sai mais daqui sem a medalha, ninguém sai mais daqui),
pensar que a data escolhida para partir é a da morte da Mãe,
pensar que a Mãe não está comigo para lhe dobrar as camisas
e mesmo assim não chorar, nunca chorar,
mesmo que o Pai esteja a chorar, mesmo que estejam todos a chorar,
tomar umas merdas, se for preciso: uns calmantes, uns relaxantes,
uns antioxidantes para não chorar; andar a pé para não chorar,
apanhar sol para não chorar, jantar fora para não chorar, conhecer gente,
mas gente animada, pintar o cabelo e esconder as brancas,
que os grisalhos são mais chorões, dizer graças para não pôr também
os amigos a chorar, os amigos gostam é de nós a rir, ver séries cómicas
até cair, acordar mais cedo para lhe fazer torradas antes da viagem,
com manteiga, com doce de mirtilo, com tudo o que houver no frigorífico,
e não pensar que nunca mais seremos pequenos outra vez,
cheios de Mãe e de Pai, no quarto ao lado,
cheios de emprego no quarto ao lado quando ainda existia Portugal.

É tanto o que se pede a um ser humano do século vinte e um.
Que morra de medo e de saudade no aeroporto Francisco Sá Carneiro.
Mas que não chore.


Filipa Leal, "Vem à quinta feira", Assírio&Alvim

quinta-feira, março 31, 2016

segunda-feira, março 28, 2016

sábado, março 26, 2016

sexta-feira, março 18, 2016

drink water






 "Zol shoyn kumen di geule"

 "When you're feeling low, take a little drink! If sorrow persists, then let's sing a song. If there is no whiskey, we can drink water. Fresh water is life itself, and what more does a Jew need?"

quinta-feira, março 17, 2016

terça-feira, março 08, 2016

you are disappointed



IV

You looked for a flower
and found a fruit.
You looked for a well
and found a sea.
You looked for a woman
and found a soul -  
you are disappointed.


Edith Södergran, 1916



http://englishings.com/nvinprint/sodergran-poems-1916.html

domingo, março 06, 2016

domingo, fevereiro 14, 2016

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

let it kill you

My dear,
Find what you love and let it kill you.
Let it drain you of your all. Let it cling onto your back and weigh you down into eventual nothingness.
Let it kill you and let it devour your remains.
For all things will kill you, both slowly and fastly, but it’s much better to be killed by a lover.


Charles Bukowski

domingo, janeiro 31, 2016

doce

segunda-feira, janeiro 25, 2016

é isto


Buster Keaton, 1931

segunda-feira, janeiro 11, 2016

floating in the most peculiar way









https://play.spotify.com/user/ipsilonpublico/playlist/3OCaiIoRYBLix3UEMm5nwM

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/david-bowie-condensado-72-cancoes-para-ouvir-sem-parar-1719817

terça-feira, janeiro 05, 2016

heart


electricos


Às vezes tenho desejos
de me aproximar serenamente
da linha dos eléctricos
e me estender sobre o asfalto
com a garganta pousada no carril polido.
Estamos cansados
e inquietam-nos trinta e um
problemas desencontrados.
Não tenho coragem de pedir emprestados
os duzentos escudos
e suportar o peso de todas as outras cangas.
Também não quero morrer
definitivamente.
Só queria estar morto até que isto tudo
passasse.
Morrer periodicamente.
Acabarei por pedir os duzentos escudos
e suportar todas as cangas.
De resto, na minha terra
não há eléctricos.

Rui Knopfli