quinta-feira, junho 29, 2006

sonho

Shakespeare
A Midsummer Night's Dream

excerto do I Acto


Enter HELENA

HERMIA
God speed fair Helena! whither away?

HELENA
Call you me fair? that fair again unsay.
Demetrius loves your fair: O happy fair!
Your eyes are lode-stars; and your tongue's sweet air
More tuneable than lark to shepherd's ear,
When wheat is green, when hawthorn buds appear.
Sickness is catching: O, were favour so,
Yours would I catch, fair Hermia, ere I go;
My ear should catch your voice, my eye your eye,
My tongue should catch your tongue's sweet melody.
Were the world mine, Demetrius being bated,
The rest I'd give to be to you translated.
O, teach me how you look, and with what art
You sway the motion of Demetrius' heart.


HERMIA
I frown upon him, yet he loves me still.

HELENA
O that your frowns would teach my smiles such skill!

HERMIA
I give him curses, yet he gives me love.

HELENA
O that my prayers could such affection move!

HERMIA
The more I hate, the more he follows me.

HELENA
The more I love, the more he hateth me.

HERMIA
His folly, Helena, is no fault of mine.

HELENA
None, but your beauty: would that fault were mine!

HERMIA
Take comfort: he no more shall see my face;
Lysander and myself will fly this place.
Before the time I did Lysander see,
Seem'd Athens as a paradise to me:
O, then, what graces in my love do dwell,
That he hath turn'd a heaven unto a hell!

LYSANDER
Helen, to you our minds we will unfold:
To-morrow night, when Phoebe doth behold
Her silver visage in the watery glass,
Decking with liquid pearl the bladed grass,
A time that lovers' flights doth still conceal,
Through Athens' gates have we devised to steal.

HERMIA
And in the wood, where often you and I
Upon faint primrose-beds were wont to lie,
Emptying our bosoms of their counsel sweet,
There my Lysander and myself shall meet;
And thence from Athens turn away our eyes,
To seek new friends and stranger companies.
Farewell, sweet playfellow: pray thou for us;
And good luck grant thee thy Demetrius!
Keep word, Lysander: we must starve our sight
From lovers' food till morrow deep midnight.

LYSANDER
I will, my Hermia.

Exit HERMIA
Helena, adieu:
As you on him, Demetrius dote on you!

Exit

HELENA
How happy some o'er other some can be!
Through Athens I am thought as fair as she.
But what of that? Demetrius thinks not so;
He will not know what all but he do know:
And as he errs, doting on Hermia's eyes,
So I, admiring of his qualities:
Things base and vile, folding no quantity,
Love can transpose to form and dignity:
Love looks not with the eyes, but with the mind;
And therefore is wing'd Cupid painted blind:
Nor hath Love's mind of any judgement taste;
Wings and no eyes figure unheedy haste:
And therefore is Love said to be a child,
Because in choice he is so oft beguiled.
As waggish boys in game themselves forswear,
So the boy Love is perjured every where:
For ere Demetrius look'd on Hermia's eyne,
He hail'd down oaths that he was only mine;
And when this hail some heat from Hermia felt,
So he dissolved, and showers of oaths did melt.
I will go tell him of fair Hermia's flight:
Then to the wood will he to-morrow night
Pursue her; and for this intelligence
If I have thanks, it is a dear expense:
But herein mean I to enrich my pain,
To have his sight thither and back again.

Exit

vindimas 2005

O mosto, um cheiro que se impregna a tudo.
As mãos sujas, os cachos gordos de sumo, os baldes ora cheios ora vazios, num permanente vai e vem, as conversas, cantigas e brincadeiras.

O calor. A terra tão perto do corpo todo. A terra no corpo todo. A tesoura já é parte da mão. O peso do balde já é parte do meu braço.

O cansaço. Os joelhos, as costas, as pernas, os braços, todo o corpo em acção, movimento, todos os músculos a doer.
Descansar é só abandonar o corpo na terra, numa sombra que se ofereça.

Comer. Compensar o corpo do esforço. Carne, batatas, sopa, feijão, vinho.
A comida numa tigela, a sofreguidão a vencer as regras de boa educação.

O gesto repetido. Cortar, cortar, cortar. Despejar o balde. Começar de novo a cortar.

A conversa repetida, a pequena brincadeira que se repete até ao nojo; o uso de pequenos poderes sobre os imbecis; a pequena intriga, os duplos sentidos.

O trabalho físico e o intelectual.

A colheita. O ar que se renova, a terra que se renova.
Um novelo que se enrola e desenrola, uma malha que se faz e desfaz.
No céu as nuvens passam, o sol a todos aquece, a chuva a todos molha.
Uma voz.
Uma presença, o abraço da natureza.
A presença que se faz promessa.
Na próxima colheita.

sexta-feira, junho 23, 2006

otelo pelo folias

Flavio Tolezani (Rodrigo), Nani de Oliveira (Emília), e Bruno Perillo (Cássio)

que pena não ter encontrado uma foto do Danilo Grangheia (Iago), da Simoni Boer (Desdémona) e do Carlos Francisco (Otelo).

(inesquecível o Rodrigo "agarrado" e as suas linhas de coca nas espadas e punhais! inesquecível o espectáculo todo!)

http://www.teatro-dmaria.pt/Temporada/emCena.aspx

quarta-feira, junho 21, 2006

agil


vila real
(ó que linda és)
tens o corg0 aos pés

e muita coisa a acontecer por lá!

otelo

Otelo, Shakespeare
Excerto do final do II Acto



IAGO — Quê! Estais ferido, tenente?

CÁSSIO — Sim, sem possibilidade de cura.

IAGO — Oh! Não o permita o céu.

CÁSSIO — Reputação, reputação, reputação! Oh! perdi a reputação, perdi a parte imortal de mim próprio, só me tendo restado a bestial. Minha reputação, Iago; minha reputação!

IAGO — Tão certo como eu ser um homem honesto, pensei que houvesses recebido algum ferimento no corpo; há mais prejuízo nisso do que na reputação. A reputação é um apêndice ocioso e enganador; obtido, muitas vezes, sem merecimento, e perdido sem nenhuma culpa. Não perdestes nenhuma reputação, a menos que vos considereis como tendo sofrido semelhante perda. Que é isso, homem! Há muitos meios de reconquistar a estima do general; fostes despedido apenas em um momento de mau humor; um castigo aplicado mais por considerações de ordem geral do que por maldade, justamente como no caso de bater alguém em seu cãozinho inofensivo, para amedrontar um leão temível. Implorai-lhe perdão e ele se tornará vosso outra vez.

CÁSSIO — Preferira implorar o seu desprezo a enganar um comandante tão bom com um oficial tão leviano, bêbado e indiscreto. Embriagado! Falando como papagaio! Provocar brigas, fazer fanfarronadas, jurar e falar empolado com a própria sombra! Ó espírito invisível do vinho! Se não és ainda conhecido por nenhum nome, recebe o de demônio.

IAGO — Quem era o sujeito a quem perseguíeis de espada em punho? Que vos havia feito?

CÁSSIO — Não sei.

IAGO — Será possível?

CÁSSIO — Recordo-me de uma infinidade de coisas, mas nada distintamente; de uma briga, porém não de seus motivos. Oh Deus! Terem os homens o inimigo na própria boca, para roubar-lhes o cérebro! Constituir para nós alegria, prazer, divertimento e júbilo isso de nos transformarmos em brutos!

IAGO — Mas é interessante que estais agora inteiramente lúcido! De que modo recuperastes os sentidos assim tão depressa?

CÁSSIO — Aprouve ao demônio da embriaguez ceder o lugar ao demônio cólera. Uma imperfeição me mostra outra, ensinando-me a detestar-me sem reservas.

IAGO — Ora, vamos; sois um moralista muito severo. Considerando-se o momento, o lugar e as condições da cidade, sinceramente, eu preferira que tudo isso não houvesse acontecido; mas já que é como é, tratai de consertar as coisas em proveito próprio.

CÁSSIO — Vou pedir-lhe que me reintegre no meu posto; ele vai responder-me que eu sou um bêbado. Se eu tivesse tantas bocas como a hidra, semelhante respostas mas entupiria todas. Há pouco eu era um indivíduo ajuizado; logo depois, um tolo; e neste momento, um bruto. Oh! é terrível! E amaldiçoado todo copo bebido fora da conta, sendo o seu conteúdo o próprio diabo.

IAGO — Vamos, vamos; o bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado com sabedoria; não continueis a falar mal dele. E, meu bom tenente, creio que tendes çerteza de que vos tenho amizade.

CÁSSIO — Já tive disso sobejas provas, senhor. Eu, bêbado!

IAGO — Ora, homem! Vós, ou qualquer pessoa viva podeis embriagar-vos de vez em quando. Vou dizer-vos o que deveis fazer. A mulher do nosso general é agora o general. Posso exprimir-me dessa maneira, por ter-se ele devotado e dedicado à contemplação, ao exame e à observação de suas partes e graças. Falai-lhe com franqueza; importunai-a, que ela vos ajudará a reconquistar esse lugar. É de uma disposição tão franca e generosa, tão bondosa e abençoada, que em sua bondade considera vício não fazer mais do que o que se lhe pede. Pedi-lhe que conserte a fratura da articulação existente entre vós e o marido dela. E todos os meus bens contra qualquer coisa sem valor em como essa fratura do vosso amor vai ficar mais forte do que era antes.

CÁSSIO — Dais-me um bom conselho.

IAGO — Podeis crer que o faço com a maior sinceridade e com afeição honesta.

CÁSSIO — Tenho certeza disso; logo que amanhecer, vou pedir à virtuosa Desdêmona que interceda a meu favor. Perderei a confiança na sorte, se ela me for contrária neste passo.

IAGO — Tendes razão. Boa noite, tenente; preciso ir para a guarda.

CÁSSIO — Boa noite, honesto Iago. (Sai.)

IAGO — Quem poderá dizer que eu represento papel de celerado, se o conselho que eu dei é honesto e leal, muito plausível e em verdade o caminho para ao Mouro vir a reconquistar? Sim, porque é muito fácil de conseguir que a complacente Desdêmona se empenhe em qualquer súplica honesta; é dadivosa com a terra. E para obter do Mouro qualquer coisa — muito embora para ele se tratasse de abrir mão do batismo, das insígnias e símbolos de uma alma redimida — tanto ele o coração traz encadeado na afeição de Desdêmona, que tudo fazer ou desfazer ela consegue, como entender, reinando como deusa sua vontade sobre o fraco esposo. Estarei sendo, acaso, um celerado, por ter mostrado a Cássio esse caminho que vai dar ao seu bem, diretamente? Divindades do inferno! Quando os diabos querem dar corpo aos mais nefandos crimes, celestial aparência lhes emprestam, tal como agora faço. Pois, enquanto este imbecil honesto pede à bela Desdêmona que cure a sua sorte, e ela sobre isso insiste junto ao Mouro, veneno deitarei no ouvido dele, com dizer que ela o faz só por luxúria; quanto mais houver feito ela por ele, mais, junto ao Mouro, há de perder o crédito. Transformarei em pez sua virtude, e com a própria bondade apresto a rede que há de a todos pegar. (Volta Rodrigo.) Então, Rodrigo?

RODRIGO — Sigo-te nesta caçada não como um cachorro que persegue, mas como o que apenas completa a matilha. Já gastei quase todo o meu dinheiro; esta noite fui sovado de rijo, estando certo de que o resultado final consistirá em ganhar experiência à custa própria, e, assim, sem dinheiro nenhum e com um pouco mais de sabedoria, voltar para Veneza.

IAGO — Quão pobre é quem carece de paciência! Qual é a ferida que não sara aos poucos? Bem sabes que eu trabalho com a cabeça, não por meio de mágica, e em tudo depende aquela do tardio tempo. Não vai tudo tão bem? Cássio bateu-te; e em troca dessas dores de brinquedo fizeste que ele o seu lugar perdesse. Posto sazone o sol todos os frutos, os da primeira floração se tornam maduros mais depressa. Sê paciente. Mas, pela Missa! Já é quase dia! Os folguedos e a ação as horas fazem parecer muito curtas. Mas retira-te; vai logo para o teu alojamento. Não te demores, digo; mais de espaço te contarei o que há. Vamos, retira-te. (Sai Rodrigo.) E agora, duas coisas: sobre Cássio, falar minha mulher junto à senhora; vou concitá-la já. Nesse entrementes, chamarei o Mouro para que venha encontrar Cássio, quando falando estiver este com Desdêmona. Esse é o caminho certo; que a tardança não me faça perder a segurança. (Sai.)


http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/otelo.html

domingo, junho 18, 2006

pequenas coisas

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."

Ricardo Reis

quinta-feira, junho 15, 2006

quarta-feira, junho 14, 2006

para quê

palavras
atiro-as
(atiro-me nelas)

não me socorrem

são nada
são vento

só o gesto
e o olhar
valem

e mesmo assim
fica tanto por dizer


(a comunicação é um desencontro: para onde vamos?)

terça-feira, junho 13, 2006

joan of arc (2)


















jan saudek

(P.S. obrigada pelo livro!)

peer gynt

excerto do II Acto


SCENE SEVENTH
[Pitch darkness.]

[PEER GYNT is heard beating and slashing about him with a large bough.]

PEER

Answer! Who are you?

A VOICE IN THE DARKNESS

Myself.

PEER

Clear the way!

THE VOICE

Go roundabout, Peer! The hill’s roomy enough.

PEER [tries to force a passage at another place, but strikes against something]

Go roundabout.
Who are you?

THE VOICE

Myself. Can you say the same?

PEER

I can say what I will; and my sword can smite!
Mind yourself! Hu, hei, now the blow falls crushing!
King Saul slew hundreds; Peer Gynt slew thousands!

[Cutting and slashing.]

Who are you?

THE VOICE

Myself.

PEER

That stupid reply
you may spare; it doesn’t clear up the matter.
What are you?

THE VOICE

The great Boyg.

PEER

Ah, indeed!
The riddle was black; now I’d call it grey.
Clear the way then, Boyg!

THE VOICE

Go roundabout, Peer!

PEER

No, through!

[Cuts and slashes.]

There he fell!

[Tries to advance, but strikes against something.]

Ho ho, are there more here?

THE VOICE

The Boyg, Peer Gynt! the one only one.
It’s the Boyg that’s unwounded, and the Boyg that was hurt,
it’s the Boyg that is dead, and the Boyg that’s alive.

PEER [throws away the branch]

The weapon is troll–smeared; but I have my fists!

[Fights his way forward.]

THE VOICE

Ay, trust to your fists, lad, trust to your body.
Hee–hee, Peer Gynt, so you’ll reach the summit.

PEER [falling back again]

Forward or back, and it’s just as far;—
out or in, and it’s just as strait!
He is there! And there! And he’s round the bend!
No sooner I’m out than I’m back in the ring.—
Name who you are! Let me see you! What are you?

THE VOICE

The Boyg.

PEER [groping around]

Not dead, not living; all slimy; misty.
Not so much as a shape! It’s as bad as to battle
in a cluster of snarling, half–wakened bears!

[Screams.]

Strike back at me, can’t you!

THE VOICE

The Boyg isn’t mad.

PEER

Strike!

THE VOICE

The Boyg strikes not.

PEER

Fight! You shall

THE VOICE

The great Boyg conquers, but does not fight.

PEER

Were there only a nixie here that could prick me!
Were there only as much as a year–old troll!
Only something to fight with. But here there is nothing.—
Now he’s snoring! Boyg!

THE VOICE

What’s your will?

PEER

Use force!

THE VOICE

The great Boyg conquers in all things without it.

PEER [biting his own arms and hands]

Claws and ravening teeth in my flesh!
I must feel the drip of my own warm blood.

[A sound is heard like the wing–strokes of great birds.]

BIRD–CRIES

Comes he now, Boyg?

THE VOICE

Ay, step by step.

BIRD–CRIES

All our sisters far off! Gather here to the tryst!

PEER

If you’d save me now, lass, you must do it quick!
Gaze not adown so, lowly and bending.—
Your clasp–book! Hurl it straight into his eyes!

BIRD–CRIES

He totters!

THE VOICE

We have him.

BIRD–CRIES

Sisters! Make haste!

PEER

Too dear the purchase one pays for life
in such a heart–wasting hour of strife.

[Sinks down.]

BIRD–CRIES

Boyg, there he’s fallen! Seize him! Seize him!

[A sound of bells and of psalm–singing is heard far away.]

THE BOYG [shrinks up to nothing, and says in a gasp:]

He was too strong. There were women behind him.

segunda-feira, junho 12, 2006

domingo, junho 11, 2006

quem diria?




Você até tem um certo jeito, e de vez em quando faz um brilharete; mas geralmente anda um bocado à nora. A organização não é o seu forte, você confia em absoluto no instinto. Você é pão-pão queijo-queijo: tudo ou nada! Acha sempre que vai conseguir ter tudo, mas, aqui entre nós, ou fica lá muito perto ou dá uma monumental barraca.

sábado, junho 10, 2006

É hoje

A minha alegria atravessou o mar
E ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante
No maior show da terra
Será que eu serei o dono dessa festa
Um rei
No meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra
Cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera
Hoje é dia do riso chorar
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mal olhado eu carrego meu patuá
Eu levei !
Acredito
Acredito ser o mais valente nessa luta do rochedo como mar
E como ar!
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu!
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu



by Didi e Maestrinho

e Caetano Veloso

sexta-feira, junho 09, 2006

o sabor da cereja (2)

deus pune imediatamente os pequenos pecados
já os pecados maiores...



disse alguém
quando me queixei do "sabor da cereja"
que provei

provei

provei

a tarde toda

agora sofro a punição:

uma tarde de cerejas
deu em dias de dieta forçada
com o "pão e água" dos cativos
(chá e torradas, para ser mais explícita!)
canja de galinha e água de arroz
(receitas sempre prontas a socorrer os aflitos!)

mas as cerejas continuam lá

à espera do reencontro

quarta-feira, junho 07, 2006

terça-feira, junho 06, 2006

talento

"Um homem de talento não pode ser na Russia um homem sem defeitos."


Helena Andreieevna, no Tio Vânia
A. Tchekov

segunda-feira, junho 05, 2006

Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino


Sophia de Mello Breyner

sábado, junho 03, 2006

bela adormecida

Dois poemas de Miriam Reyes :



Ela queria fazer tudo:
picar-se no dedo morder a maçã seguir o coelho
Mas ao fechar os olhos
esborrataram-se os sonhos.




Afundada no seu apertado vestido de noite
dorme entre cristais.
Os olhos fechados
a boca fechada
o sexo fechado.
Uma caixa de cristal
dentro de outra caixa de cristal.



Miriam Reyes, "Bela Adormecida", Ed. Cosmorama (tradução de Pedro Sena Lino)

sexta-feira, junho 02, 2006

nunca deveria ser tarde demais

Uma grande amiga deixou por aqui este comentário que quero partilhar:


DURAS tinha a ousadia, a anormalidade, a dor pungente expressiva que teimamos em ocultar e reprimir.
Algum dia será tarde demais para recomeçar a acreditar, para romper com o que nos consome, para conseguir apertar e depois soltar, para simplesmente ir por ali?

Incomodam-me, repugnam-me (talvez não o suficiente, apesar de tudo), aqueles que a despeito de crenças, convicções ou imposições exteriores limitam, manipulam ou omitem o apoio devido no processo de crescimento natural de uma criança.
Muitas das opções, dos caminhos trilhados desde cedo são condicionados por ausências, por indiferenças,por dores inflingidas e estoicamente suportadas.
Nunca deveria ser tarde demais...


Maria Ana

quinta-feira, junho 01, 2006

tarde de mais

"Para mim, muito cedo, foi tarde de mais".

Marguerite Duras


ouvido hoje, sobre as crianças que perderam a sua infância