sexta-feira, dezembro 31, 2010


R. Mapplethorpe


 

à procura do menor espaço entre intenção e gesto.

à procura da acção que faz do corpo, poesia.

à procura do lugar onde sou, faço, ajo.



a curiosidade é o que nos salva.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

setembro

Vou pela rua e penso
Que devia ter aceitado a mão
Que generosamente me estendeste.

Mas é Setembro.
O sol põe-se, o verão já passou, acabou-se a poesia.

Vou pela rua e vejo
Uma janela florida, a gaiola vazia numa varanda.
Entro em casa, descalço-me, abro mais uma conta.
E escrevo isto.

domingo, dezembro 26, 2010

quinta-feira, dezembro 23, 2010



                                                                    
Mappelthorpe

domingo, dezembro 19, 2010

perfilados de medo

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…



Alexandre O'Neill

sábado, dezembro 11, 2010

sábado, dezembro 04, 2010

líquida

quero o cheiro e as entranhas
que as misteriosas águas internas me movam para um céu infinito
de luz e êxtase
quero sentir e pensar com todas as células do meu corpo
com todos os órgãos
e, líquida, misturar-me com tudo.

quarta-feira, novembro 24, 2010

menos

Na vida e no poema
dar menos um passo


Adília Lopes
"Apanhar Ar"

sábado, novembro 20, 2010

Coisas que um homem pode dar a uma mulher

(lista, obviamente, incompleta)



a mão

um poema

silêncio

a leitura de um texto

esperança

um sítio secreto

filhos

um passeio

compreensão

um beijo

uma estória

intimidade

fantasia

uma janela

uma viagem

um abraço

cantar-lhe uma canção

liberdade

(...)

terça-feira, novembro 16, 2010

calmo

o médico diz que tenho um coração calmo.

segunda-feira, novembro 08, 2010


mapplethorpe
breasts

terça-feira, outubro 26, 2010

telegrama

pensei escrever uma carta mas o que tenho para te dizer resume-se num breve telegrama:


a meio do inverno o sol volta.
sempre.

sexta-feira, junho 25, 2010

fim.




(sinto que não tenho mais nada a dizer. obrigada pela companhia.)



domingo, junho 20, 2010


Robert Mapplethorpe




(sinto falta de equilíbrio e beleza; de estar em sintonia com a vida; de estar em sintonia com alguém; sinto falta da esperança e energia; de me ver no caminho e não num beco. sinto falta de mim.)

sexta-feira, junho 18, 2010

"(...) se não houvesse tristeza nem miséria, se em todo o lugar corressem águas sobre as pedras, se cantassem aves, a vida podia ser apenas estar sentado na erva, segurar um malmequer e não lhe arrancar as pétalas, por serem já sabidas as respostas, ou por serem estas de tão pouca importância, que descobri-las não valeria a vida de uma flor."


José Saramago
Memorial do Convento

quarta-feira, junho 16, 2010





(estou tão cansada disto: de me enrrolarem, venderem gato por lebre; que me tomem por parva, que tentem, com falinhas mansas e muito marketing, que eu acredite que ao retirarem-me uma coisa me estão a fazer um grande favor. este país está a enlouquecer.)

sábado, junho 12, 2010


Ansel Adams

quarta-feira, junho 09, 2010

terça-feira, junho 08, 2010

COPING

Ficar quieta é técnica que já
aplico com rigor, e no preciso
sítio em que pulsa paraliso
tudo, quem está morto livre está.

Creio que começou quando cedeu
o avô. Alguém disse: afinal
o coração não aguentou. Eu
pensei: mais vale declinar o abalo.

Mas também não cheguei nessa altura
até ao fim. Escangalhei-me na novena
aos degredados filhos de Eva.
Iniciei-me então nos barbitúricos

e hoje passo bem melhor. Às vezes
é um jogo, em que recorro ao coito
antes da apanhada, e se esgoto
essa via, dedico-me à mimese,

diluo-me com os objectos, tudo
me toca mas nada dá por mim, tão
imóvel que me ignora a dor, não
há como acordar um corpo mudo.

Por exemplo agora não veio
o homem, podia ter-me ferido
ou saído a buscar outro, e perdido;
mas pratico com vantagem a apneia

e a domesticidade. É pena
que me esqueça tanta coisa; foi
sorte saber da lamela - eia, pois
advogada nossa - dormir serena.



Margarida Vale do Gato
Mulher ao Mar

segunda-feira, junho 07, 2010





(tão bonito. obrigada.)

sábado, junho 05, 2010

sexta-feira, junho 04, 2010

comedores de maçãs

"Nicholson levantou o braço uns centímetros acima do braço da cadeira. «Este?», perguntou.
Teddy fez que sim com a cabeça. «Que nome dá a isso?», perguntou.
- Como assim? É o meu braço. É um braço.
- Como sabe que é? - perguntou Teddy. - Sabe que lhe chamam um braço, mas como sabe que o é? Tem alguma prova de que é um braço?
Nicholson tirou um cigarro do maço e acendeu-o. «Francamente, isso tresanda a sofisma do pior - disse ele, soprando o fumo. - É um braço c'os diabos, porque é um braço. Para já, tem de ter um nome para se distinguir de outros objectos. Quer dizer, não se pode simplesmente...»
- Está apenas a ser lógico - disse Teddy, impassível.
- Estou apenas a ser o quê - perguntou Nicholson, com uma polidez um pouco exagerada.
- Lógico. Está a dar-me uma resposta normal, inteligente - disse Teddy. - Estou a tentar ajudá-lo. Perguntou-me como saio das dimensões finitas quando quero. Não é a lógica que eu uso, quando o faço. A lógica é a primeira coisa de que temos de nos desembaraçar.
Nicholson retirou da língua um fio de tabaco, com os dedos.
- Conhece o Adão? - perguntou Teddy.
- Se conheço quem?
- Adão. O da Bíblia.
Nicholson sorriu. «Pessoalmente não», disse ele cortante.
Teddy hesitou. «Não se zangue comigo - disse ele. - Fez-me uma pergunta e eu estou a...»
- Não estou zangado consigo, por amor de Deus.
- OK - disse Teddy. Estava reclinado na cadeira, mas com a cabeça voltada para Nicholson. - Lembra-se daquela maçã que Adão comeu no Paraíso, como vem na Bíblia? - perguntou. - Sabe o que havia naquela maçã? Lógica. Lógica e tretas intelectuais. Era tudo o que havia na maçã. Por isso, isto é o que eu acho, o que tem de fazer é vomitá-la se quiser ver as coisas como elas são realmente. Quer dizer, se vomitar a maçã, então já não tem mais problemas com blocos de madeira e assim. E fica a saber o que o seu braço é realmente, se estiver interessado. Está a ver o que eu quero dizer? Está a seguir o que eu digo?"



J. D. Salinger
"Teddy", Nove Contos
Difel

quarta-feira, junho 02, 2010

derreter

Chocolate Bunny from Lernert & Sander on Vimeo.

"Tudo acontece em nós muito antes de ter acontecido."


Novalis
(1772 - 1801)
Poemário 2010

segunda-feira, maio 31, 2010

"vivo do que me dão
nunca falto às aulas de esgrima
e todos os dias agradeço a deus
esta depressão que me anima"


Maria Rodrigues Teixeira
(heterónimo de João Aguardela)
A Naifa




(na verdade, esta depressão, a minha, não me anima nada. controlo-a, vou "às aulas de esgrima" e agradeço os "restos" com que vou vivendo. mas estou cansada. gostava, por exemplo, que, num dia como hoje, finalmente tranquilo, sem trabalho, e depois de ter ido apanhar sol ao parque, ao sair do carro no regresso a casa, as lagrimas não tivessem aparecido, assim, sem terem sido convidadas e sem uma razão forte para me incomodarem. é uma merda.)

quinta-feira, maio 27, 2010

segunda-feira, maio 24, 2010

"Infelizmente, a vida não podia parar naquela lírica indecisão."



Miguel Torga
Novos Contos da Montanha

domingo, maio 23, 2010

Ingrid Bergman

sábado, maio 15, 2010



"A cidade longinqua"
Nadir Afonso

quarta-feira, maio 12, 2010

dedos

"Examinei as mãos dele, dedo a dedo, como as mães que verificam se os filhos recém-nascidos têm os dedinhos todos, é perfeito, dizem, e respiram de alívio.
Depois beijei-o. Não senti nada. O coração permaneceu tranquilo, nem um ligeiro sobressalto, nada. Beijei-o de novo, insisti na pele, no cheiro, na sensação táctil das mãos entrelaçadas. Nada.
Que pena, pensei antes de nos separarmos, tínhamos o mesmo sentido de humor, o que é tão raro.
Olhei para trás, vi-o afastar-se mas não o chamei.
Afinal talvez seja a mim a quem falta um dedo."

segunda-feira, maio 10, 2010

sábado, maio 08, 2010

paralisada
uma parte de mim recusa
não quer mais
brincar
ir para a rua
jogar
seduzir
lutar




(procuro ainda o som, a vibração, o encontro, a maré, a luz, o impulso, as mãos, o lugar, a forma, a sombra, o dia).

segunda-feira, maio 03, 2010

quinta-feira, abril 29, 2010

domingo, abril 25, 2010

you can't stop stories being told

"Somewhere in the world,
right now...

Someone else is telling a
story! A different story!

A saga...a romance...a tale
of an unforeseen death.

It doesn't matter!
It's sustaining the universe.


That's why we're still here.

You can't stop stories being told!"



excerto do guião de
"The Imaginarium of Doctor Parnassus"
de Terry Gilliam

quinta-feira, abril 22, 2010

terça-feira, abril 20, 2010




Power of joy
Ali Akbar Khan

sábado, abril 17, 2010

Sempre amei por palavras muito mais
do que devia

são um perigo
as palavras

quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer    e o esquecimento    acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se   insidiosamente   pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada

e de repente acordamos um dia
desprevenidos   e completamente
indefesos

um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero



Alice Vieira
"O que dói às aves"

quinta-feira, abril 15, 2010

rasgão luminoso

"portas, imensas e nocturnas portas, quando o que desejamos é um rasgão luminoso".




Mário Rui de Oliveira
Nocturnas portas




(obrigada, minha querida!)

terça-feira, abril 13, 2010

Entrada
Amadeo de Souza-Cardoso
 1917

sábado, abril 10, 2010


Hugh Jackman

quarta-feira, abril 07, 2010

dançar

na livraria, entre as estantes de livros, ao som do "buena vista", fiquei sem saber se me apetecia mais ler ou dançar; e se não seria a mesma coisa - ler com o corpo, dançar com as palavras.

(um dia, eu sei que sim, vou conseguir ter tempo para aprender a dançar estes sons cubanos.)




terça-feira, abril 06, 2010

To learn, read.



To know, write.


To master, teach.
 

 
Provérbio Hindu

segunda-feira, abril 05, 2010

domingo, abril 04, 2010





(por mais que tente, não deixo de me sentir sob pressão. o que é uma grande merda).

terça-feira, março 30, 2010

não contraries

Se queres ir em frente e um vento forte te empurra para trás
Ou se os teus passos ficam presos na lama,
Não contraries.


Deixa-te ir para trás.
Se calhar, esqueceste-te de alguma coisa que precisas recuperar.
Se calhar, lá atrás, está o que precisas
Para avançar.

segunda-feira, março 29, 2010

ljubljana



(de repente, sem saber como nem porquê, saudades daquele verão, fantástico, em Ljubljana.)

sexta-feira, março 26, 2010

quinta-feira, março 25, 2010

comportamento restaurado

"O comportamento restaurado é o comportamento vivo tratado como um realizador trata um pedaço de filme. Estes pedaços de comportamento podem ser rearranjados ou reconstruídos; são independentes dos sistemas causais (sociais, psicológicos e tecnológicos) que os trouxeram à existência. Têm uma vida própria.
A “verdade” ou “fonte” original do comportamento pode ter-se perdido, ser ignorada ou contrariada – mesmo quando essa verdade ou fonte está aparentemente a ser honrada e observada. Como o pedaço de comportamento foi feito, descoberto ou desenvolvido pode ser desconhecido ou escondido; elaborado; distorcido pelo mito ou tradição.

Usados no processo de ensaios para fazer um novo processo, a performance, estes bocados de comportamento não são eles próprios processo, mas antes coisas, itens, materiais. Podem ser de longa duração, como em alguns dramas e rituais ou de curta duração como certos gestos, danças e mantras.

(O comportamento restaurado) É usado em todos os tipos de performance desde o xamanismo e exorcismo até ao trance, desde a dança ritual à dança estética e teatro, desde ritos de iniciação aos dramas sociais, da psicanálise ao psicodrama. De facto, o comportamento restaurado é a principal característica da performance.

Os praticantes de todas estas artes, ritos, e curas assumem que certos comportamentos – sequências organizadas de eventos, guiões de acções, textos conhecidos, partituras de movimentos – existem separados dos performers que “fazem” estes comportamentos.
Porque o comportamento está separado daqueles que estão a agir, é possível que o comportamento seja armazenado, transmitido, manipulado, transformado. Os performers entram em contacto com, recuperam, recordam, ou mesmo inventam estes pedaços de comportamento e depois vão “comportar-se de novo” (re-behave) de acordo com esses pedaços, seja sendo absorvidos por eles (fazendo o papel, entrando em trance) ou existindo lado a lado com eles (o Verfremdungseffekt de Brecht – efeito de “distanciamento”)
(…)
O comportamento restaurado está “lá fora”, distante de “mim”. É separado e por isso pode “trabalhar-se sobre ele”, ser modificado, mesmo que já tenha “acontecido antes”. (…) O comportamento restaurado é simbólico e reflexivo: não vazio, mas comportamento gravado que reproduz múltiplas significações. Estes termos difíceis expressam um único princípio: o “self” pode agir no/como outro. (…) A performance significa: nunca pela primeira vez. Significa: pela segunda ou pela “n” vez. A performance é um comportamento duas vezes agido (twice-behaved behavior).
(…)
A função dos ensaios no teatro estético é estreitar as escolhas ou pelo menos tornar claras as regras da improvisação. Os ensaios funcionam para construir uma partitura que é um “ritual por contrato”: o comportamento fixado, que todos os que participam acordam fazer.
A partitura pode mudar porque não é um “ evento natural” mas um modelo de escolhas humanas individuais ou colectivas. A partitura existe, como Victor Turner dizia, naquilo que Stanislavsky chamava o “como se”. Existindo como segunda natureza, o comportamento restaurado é sempre sujeito a revisões.
(…)


(adaptado de)
Richard Schechner
A Dictionary of Theatre Anthropology, the secret art of the performer

quarta-feira, março 24, 2010

as acções ficam com quem as pratica





(ontem no programa bairro alto, na rtp, josé mário branco, a propósito dos direitos de autor, contou que um travesti lhe pediu autorização para usar uma das suas músicas com uma letra erótica; coerente com o que defende - que a obra se descola do autor e não deve ser necessário pedir autorização para ser usada - respondeu-lhe que sim porque "as acções ficam com quem as pratica" e são os outros, o público, a comunidade, quem julgará o que foi feito.)

sexta-feira, março 19, 2010

A morta

(...)
"Então, apesar da minha timidez, aproximei-me do grupo e, apontando-lhe o dedo ao peito, disse-lhe:
-Estás morta. Não penses que eu não sei.
Todas as suas amigas se afastaram um pouco, como se tivessem medo de se contagiar, e ela arrastou desde então uma vida solitária, que eu também não tentei aliviar, ainda que ela mo pedisse com os olhos. Casou-se com um morto de fome com quem assiste à missa de defuntos todas as semanas. Continua no bairro e, quando apareço por ali para ver os meus pais, sai-me ao caminho para que a liberte da bolha em que continua presa. Mas agora, mesmo que quisesse, não poderia, porque também eu me fui fechando durante todos estes anos dentro de uma membrana transparente e flexível da qual só poderia resgatar-me uma mulher viva."



Juan José Millás
"Os objectos chamam-nos"

quarta-feira, março 17, 2010

meditação: aleatoriedade

"E se as folhas não caíssem das árvores aleatoriamente? E se houvesse uma ordem na sua queda, qual seria? Haverá "ordem" na aparente "desordem"?
Folhas no alcatrão molhado: folha verde, haste frágil, fundo preto.
A folha saberá, ao cair, que harmonia espalha pelo chão?
O vento determina a queda? O que determina o vento?
Se existisse uma ordem na queda das folhas, também existiria ordem para as minhas escolhas.
Que causalidade há no movimento da natureza? E em mim, como parte dela?"

13-11-02

segunda-feira, março 08, 2010

"up"


estou cansada de ganhar a vida e, egocentrica, gostava que a vida me ganhasse a mim.

ou então, fugir.




quarta-feira, março 03, 2010

Sofia Loren

meditação: forma





Estender o braço e estares lá
Abrir a mão e no espaço vazio
inventar a tua face
Fazer-te real com o apelo dos meus braços
o toque da minha pele
Inventar-te, através do meu corpo dar-te
forma.




(23-4-2003)

segunda-feira, março 01, 2010

sexta-feira, fevereiro 26, 2010






(é muito bonito, obrigada.)

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

mulheres

As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.

É à janela dos filhos que as mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas

Muitas mulheres transformam-se em paisagens
Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos

As mulheres aspiram para dentro
E geram continuamente. Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração.



Daniel Faria

and now for something completly different

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

meditação: luz

"Todos os pensamentos, todas as palavras existem antes de serem pensados, pronunciadas. Surgem das imagens e estas surgem das alterações de luz. O que são as coisas que vemos senão a luz que cabe nelas? Mudando a luz, entre o escuro e o claro, entramos nesse universo primordial ondem moram os pequenos guardiões do inconsciente. Se batermos à sua porta, eles dizem-nos o que precisamos ouvir, mostram-nos o que devemos ver. Mas só nesse minuto em que as luzes passam do escuro para o claro, ou ao contrário."

(11-11-2002)

sexta-feira, fevereiro 19, 2010


Clint Eastwood

(queria tanto, mas tanto que o estúpido do meu olho esquerdo deixasse de tremer involuntariamente. dá-me cabo dos nervos, e lembra-me constantemente o quão cansada estou, sabendo que não vou ter possibilidade de grande descanso, durante os próximos, deixa ver, dois meses. preciso de férias. já.)

sábado, fevereiro 13, 2010



Viggo Mortensen
The Road

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Andy Wharol

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

fade out

e de repente

tudo me parece agressivo, invasivo
(bicudo, e não arredondado e fluido)

principalmente as perguntas
que querem extrair - o quê? - de mim
uma informação, uma reflexão, uma opinião, um qualquer ensinamento, nada que valha a pena, seja como for.

perguntas invasivas, que picam, que me transformam numa máquina de respostas. para quê?

e, céus, será que já ninguém conversa sem fazer perguntas?

que saudades de deixar o pensamento ir, sem me deter demasiado no que estou a dizer, sem me julgar, sem que tomem o que digo como algo definitivo e importante, mas apenas um pensamento, uma respiração, que segue o seu caminho e reaparece depois, transformado pela conversa, pela respiração dos outros. um pensamento que reorganiza o que havia antes, que cria o caos para o que vem depois. um pensamento livre, criativo. que saudades da troca e não deste aparente diálogo que não deixa espaço para o pensamento que cria, que faz crescer.

e, céus, que dificuldade têm as pessoas em receber.
todos querem falar e ninguém quer ouvir. quem ouve apenas espera a deixa para ver se o que é dito encaixa no seu discurso e volta então ao seu monólogo. e se, por acaso, não encaixa, se há qualquer perplexidade, então, em vez do silêncio criativo, que ajuda a ir mais além, lá vem mais uma pergunta estéril, que divide o pensamento em sim ou não, certo ou errado, bom ou mau.

eu, que passo o dia a ouvir histórias, a ouvir (e fazer) perguntas e a dar respostas, estou cansada. cansada também dos raciocínios, às vezes retorcidos, às vezes lógicos, dos outros, mas que contaminam os meus.

como me disseram uma vez, preciso de surrealismo na minha vida. de aprender a contrariar todas as lógicas.
e neste momento, preciso essencialmente de respirar fundo, encontrar o circulo, contornar os bicos e esquinas que me aparecem pela frente.
e mergulhar no vazio criativo do pensamento.
sem julgar.


sábado, fevereiro 06, 2010

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

terça-feira, fevereiro 02, 2010

MAGIA IMAGINAÇÃO

Na primeira manhã, quem vem lá?, quem tem medo?
Meu nome é Peter Pan, mas pra já é segredo
A magia, a imaginação
Que eu trazia na minha mão

Na manhã a seguir, o lugar, o segundo
Sou de Alcácer-Quibir, sou do mar, sou do mundo
A magia, as voltas do Marão
Que eu trazia no meu refrão

Não sei pedir-te por favor
Só te sei falar
Com gestos e com palavrões
E seja lá isso o que for
Eu não vou ficar
A falar com os meus botões

A magia, a imaginação
Que eu trazia na minha mão

Na terceira manhã, o olhar, o chuveiro
Vou morder a maçã, vou estudar o teu cheiro
A magia, a força de Sansão
Que eu trazia no coração

Júlio Pereira e Maria João, ouvir aqui



(thanks :) )

sexta-feira, janeiro 29, 2010






Nunca tive ideias, só imaginações.



Miriam Reyes
Bela Adormecida


(volto tanto a este livro que só pode ser doença.)

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Gregory Crewdson

terça-feira, janeiro 26, 2010

Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito ou a última disposição do amor é cegar o entendimento, daqui vem que isto que vulgarmente se chama amor, tem mais partes de ignorância; e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama porque conhece, é amante; quem ama porque ignora é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem, ignorando, ofendeu, em rigor não é delinquente; quem, ignorando, amou, em rigor não é amante.


Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor: ou porque não se conhecesse a si; ou porque não conhecesse a quem amava; ou porque não conhecesse o amor; ou porque não conhecesse o fim onde há-de parar, amando. Se não se conhecesse a si, talvez empregaria o seu pensamento ondo o não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecese a quem amava, talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se o não ignorara. Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que não havia de empreender, se o soubera. Se não conhecesse o fim em que havia de parar, amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar, se os previra.



Padre António Vieira
(excertos do Sermão do Mandato
)

quinta-feira, janeiro 21, 2010

suspenso



Hanging Heart

Jeff Koons

terça-feira, janeiro 19, 2010

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Mostrai que mostrais

Mostrai que mostrais. Entre as diversas atitudes
Que mostrais ao mostrardes como os homens se comportam
Não deveis esquecer a atitude de mostrar.
Que cada atitude se funde sobre a atitude de mostrar.
O exercício é o seguinte: antes de mostrardes
Como é que um homem trai, ou se torna ciumento,
Ou fecha o negócio, olhai para o especador
Como se quisésseis dizer-lhe:
E agora atenção, este homem vai trair, e vai trair assim.
Eis omo ele se transforma quando o ciúme o assalta, eis o que fez
Depois de fechar o negócio. Deste modo,
A vossa demonstração acompanhará a atitude de mostrar,
De proferir o que já está preparado, de finalizar a tarefa,
De continuar eternamente. E assim mostrareis
Que todas as noites mostrais o que mostrais, que já o mostrastes muitas vezes,
E a vossa representação terá qualquer coisa do trabalho do tecelão,
Qualquer coisa de artesanal. O que faz parte da demonstração,
A vossa aplicação constante para facilitar
A observação, para permitir o melhor entendimento
De cada acontecimento, tornai-o bem visível. E assim
Atraiçoar, fechar o negócio,
Ter ciúmes, tudo isso passará a ser
Uma função quotidiana como qualquer uma destas: comer, dizer bom dia ou
Trabalhar. (Porque vós trabalhais, não é verdade?) E por trás
Dos vossos personagens, vós permanecereis visíveis, como aqueles
Que vós apresentais.



Bertolt Brecht
(Tradução de Arnaldo Saraiva)

sábado, janeiro 16, 2010



January Jones
(na série Mad Man)

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Principios y finales

Un tiempo fui una chica con futuro.
Podía leer a Horacio y a Virgilio en latín
y recitar a Keats completo de memoria.
Al entrar en sus cuevas, los adultos
me capturaron: comencé a parir
hijos de un hombre estúpido y creído.
Ahora cuando puedo lleno el vaso
y lloro al recordar algún verso de Keats.
Una no sabe, cuando es joven,
que no hay lugar alguno
donde poder quedarse para siempre.
Y le parece extraño si no llega
aquel o aquella en quien hallar descanso.
Una ignora, de joven, que los principios
no se parecen nunca a los finales.


Joan Margarit

terça-feira, janeiro 12, 2010

par


Joanne Woodward e Paul Newman



O meu sentimento é cinza
Da minha imaginação,
E eu deixo cair a cinza
No cinzeiro da Razão.




Fernando Pessoa
(Poemário 2010)

sexta-feira, janeiro 08, 2010

let the lover be

Let the lover be disgraceful, crazy,

absentminded. Someone sober

will worry about things going badly.

Let the lover be.



Rumi

quarta-feira, janeiro 06, 2010



"Ladies who play with fire must remember that smoke gets in their eyes."



Mae West

segunda-feira, janeiro 04, 2010





morreu.

domingo, janeiro 03, 2010