domingo, fevereiro 27, 2011

papagaio

Gustave Courbet

chuva, mar, estrelas, verde

"O ser humano é uma criatura pensante, mas as suas grandes obras realizam-se quando ele não pensa nem calcula. Após longos anos de treino na arte do esquecimento-de-si, o objectivo é o de recuperar o "estádio da infância". Uma vez atingido, a pessoa pensa, embora não pensando. Pensa como a chuva que cai do céu; pensa como as vagas que se levantam no mar; pensa como as estrelas que iluminam o céu nocturno; como a folhagem verde que rebenta sob a doçura da aragem primaveril. Na verdade, ele próprio é a chuva, o mar, as estrelas, o verde."


D. T. Susuki
introdução ao livro "Zen e a arte do tiro com arco" de Eugen Herrigel

sábado, fevereiro 26, 2011

quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

sábado, fevereiro 19, 2011

sábado

Repito-me, imito-me,
nos gestos
percursos
sonhos
e orações
de outrora.

Inutilmente.

Só a reinvenção é possível.
Na espiral
para cima e para dentro:
o círculo que se abre e fecha
repetidamente
e nunca se repete.


(se fechar os olhos posso caminhar nas águas do mondego. a luz no rio, idêntica ou nova, toca-me, e não sei se é a memória ou a brisa que enchem os meus olhos de lágrimas.)

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

segunda-feira, fevereiro 14, 2011


Gérard Castello-Lopes

sábado, fevereiro 12, 2011

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

O tempo nos parques

O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível,
Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira
Na grande pedra intacta, o tempo nos parques.
O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos
Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques
Oculta-se no torso muscular dos ficus, o tempo nos parques.

O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros
Do passar dos passos, da cor que se move ao longe.
É alto, antigo, presciente o tempo nos parques
É incorruptível; o prenúncio de uma aragem
A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor
Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques.
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis
Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica
Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques.
Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja
Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura
Nos parques; e a pequenina cutia surpreende
A imobilidade anterior desse tempo no mundo
Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo
É o tempo nos parques."



Vinicius de Moraes
O operário em construção
D. Quixote

domingo, fevereiro 06, 2011

sábado, fevereiro 05, 2011

mãos

é preciso saber criar alguma coisa com as mãos




nem que seja um simples mudra

quarta-feira, fevereiro 02, 2011



The Threatened swan
Jan Asselijin