segunda-feira, novembro 13, 2017

quarta-feira, outubro 25, 2017


André Kertész



(perguntaram-me se me sinto só.)

terça-feira, outubro 17, 2017

try



Vincent Glielmi



sexta-feira, setembro 22, 2017

sábado, julho 29, 2017

se já




Amalia Bautista, trad. Inês Dias

segunda-feira, junho 26, 2017

quinta-feira, junho 15, 2017

amor, se for sincero


Saudades não as quero


Bateram fui abrir era a saudade 
vinha para falar-me a teu respeito 
entrou com um sorriso de maldade 
depois sentou-se à beira do meu leito 
e quis que eu lhe contasse só a metade 
das dores que trago dentro do meu peito 

Não mandes mais esta saudade 
ouve os meus ais por caridade 
ou eu então deixo esfriar esta paixão 
amor podes mandar se for sincero 
saudades isso não pois não as quero 

Bateram novamente era o ciúme 
e eu mal me apercebi de que batera 
trazia o mesmo ódio do costume 
e todas as intrigas que lhe deram 
e vinha sem um pranto ou um queixume 
saber o que as saudades me fizeram 

Não mandes mais esta saudade, 
ouve os meus ais por caridade, 
ou eu então deixo esfriar esta paixão, 
amor podes mandar se for sincero, 
saudades isso não pois não as quero. 

Afonso Lopes Vieira, in 'Antologia Poética' 

domingo, maio 28, 2017

quinta-feira, março 23, 2017

waiting


“I was waiting for
something extraordinary to
happen
but as the years wasted on
nothing ever did unless I
caused it…”


Charles Bukowski

domingo, março 12, 2017

casas

Oh as casas as casas as casas
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas


Ruy Belo

sexta-feira, março 10, 2017

cama


Tracey Emin

quinta-feira, março 09, 2017

ternura

(não compreendo quem consegue viver sem ternura.)

domingo, março 05, 2017

sexta-feira, março 03, 2017

...an honourable man

ANTONY
Friends, Romans, countrymen, lend me your ears;
I come to bury Caesar, not to praise him.
The evil that men do lives after them;
The good is oft interred with their bones;
So let it be with Caesar. The noble Brutus
Hath told you Caesar was ambitious:
If it were so, it was a grievous fault,
And grievously hath Caesar answer'd it.
Here, under leave of Brutus and the rest--
For Brutus is an honourable man;
So are they all, all honourable men--
Come I to speak in Caesar's funeral.
He was my friend, faithful and just to me:
But Brutus says he was ambitious;
And Brutus is an honourable man.
He hath brought many captives home to Rome
Whose ransoms did the general coffers fill:
Did this in Caesar seem ambitious?
When that the poor have cried, Caesar hath wept:
Ambition should be made of sterner stuff:
Yet Brutus says he was ambitious;
And Brutus is an honourable man.
You all did see that on the Lupercal
I thrice presented him a kingly crown,
Which he did thrice refuse: was this ambition?
Yet Brutus says he was ambitious;
And, sure, he is an honourable man.
I speak not to disprove what Brutus spoke,
But here I am to speak what I do know.
You all did love him once, not without cause:
What cause withholds you then, to mourn for him?
O judgment! thou art fled to brutish beasts,
And men have lost their reason. Bear with me;
My heart is in the coffin there with Caesar,
And I must pause till it come back to me.


Shakespeare, Julius Caesar

quarta-feira, março 01, 2017

muito longe

III

Não sei falar. Nunca soube. Fico exausta quando
falo. Todos vocês devem ficar a saber disto.
Nunca chego a dizer exactamente aquilo que
pretendo - fica sempre do outro lado do vidro.
Daí a poluição que me envolve. Um pranto.


Derivo das várias posições no mundo. Da
ignorância, de todos os poemas que comi, de
todos os livros, todos os ídolos (geralmente
esquisitos), todos os palcos e cinemas, balcões,
da família, de todos os amigos. Raros no mundo.
Valiosíssimos. Eu sou eles todos e as viagens que
nunca fiz. Sou tudo isso. Não há mais ou menos
importância em nada, especificamente - tudo isto
é o meu sangue no papel.

Tenho várias salivas. Vário géneros. Acumulei
rostos e corpos. E o teu, o teu, o teu, o teu e
ainda o teu, continuam guardados, para sempre,
em todos os meus lugares. Eu sou tudo o que
vocês fizeram de mim. E tu, meu amor, tu dormes
ainda na minha cama. Planetas nos olhos.
Tecendo melodias. Trazendo gengibre na boca.
Para a minha boca. O teu tear.

Importante é dizer-vos que trago fruta para
todos. Flores. Paciência. Coração. Mesa. Uma
lareira. Delícias. Espaço. Muito espaço.
Jacarandás para ti, Mário! Jacarandás para
sempre. Também para ti, todo o Rossio em
Junho. Abraços com força e ombro. Manta.
A minha intenção é dar-vos uma coisa impossível
à partida. Uma invenção.
E estou longe. Estou muito longe para mim.

Passa por aqui, várias vezes por dia, um único
pardal. E nem ele, mais solitário que eu, me
cumprimenta.

Patrícia Baltazar, in Fumar Mata, ed. Madrugadas

terça-feira, fevereiro 21, 2017

parque subterrâneo

estaciono. fecho os olhos. deixo-me cair no banco ao lado. como se fosse possível, com um fechar de olhos, apagar tudo. não é. procuro dentro de mim o "verão invencível", um consolo, uma palavra mágica. fecho os olhos.
uma laranja na serra da estrela. a fusão com o mar. ruelas de barcelona. uma rua em viseu. um instante antes de entrar em palco. um gelado em ljubljana. uma conversa à beira rio. todos os sorrisos que recebi. o sol. a bahia de todos os santos. as oliveiras da cerca. as portas abertas na páscoa. as ruelas da alta. o suryanamaskar. todo o amor que me dão. todo o amor que dou.
todas as palavras não ditas. não ouvidas. a incompreensão.
sinto-me presa.
regresso.
está tudo aqui ao mesmo tempo.
para romper o casulo.
outra vez.

sábado, fevereiro 18, 2017








preciso de uma alegria 
muito 
grande





quarta-feira, fevereiro 01, 2017

acordar

Com a tua letra

Fala-se de amor para falar de muitas
coisas que entretanto nos sucedem.
Para falar do tempo, para falar do mundo
usamos o vocabulário preciso
que nos dá o amor.
Eu amo-te. Quer dizer: eu conheço melhor
as estradas que servem o meu território.
Quer dizer: eu estou mais acordado,
não me enredo nas silvas, não me enredo,
não me prendo nos cardos, não me prendo.
Quer também dizer: amar-te-ei
cada dia mais, estarei cada dia
mais acordado. Porque este amor não pára.
E para falar da morte; da enorme
definitiva irremediável morte,
do carro tombado na valeta
sacudindo uma última vez (fragilidade)
as rodas acendedoras de caminhos
- eu lembraria que o amor nos dá
uma forma difícil de coragem,
uma difícil, inteira possessão
de nós próprios, quando aveludada
a morte surge e nos reclama.
Porque eu amo-te, quer dizer, eu estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.
Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.


Fernando Assis Pacheco

segunda-feira, janeiro 30, 2017

louise


Louise Brooks in ‘Pandora’s Box, directed by G. W. Pabst, 1928

terça-feira, janeiro 10, 2017

amor.luta


ACONSELHO-VOS O AMOR

Aconselho-vos o amor:
o equilíbrio dos contrários.
Aconselho-vos o amor
cheio de força; os moinhos
girando ao vento desbridado.
Aconselho-vos a liberdade
do amor (que logo passa
- vão dizer-vos que não -
para os gestos diários).
ACONSELHO-VOS A LUTA.

Fernando Assis Pacheco

quinta-feira, janeiro 05, 2017

segunda-feira, janeiro 02, 2017

Florescer



Minha pele
não sabe
cicatrizar,
deve ser
indício de algo,
é como
se o corpo
insistisse
em permanecer
aberto,
obstinado
em florescer.

- Natalia Litvinova