sábado, junho 30, 2012

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Ansel Adams

união

"(22) Jesus viu crianças sendo amamentadas. Ele disse a seus discípulos: "Esses pequeninos que mamam são como aqueles que entram no Reino." Eles lhe disseram: Nós também, como crianças, entraremos no Reino?" Jesus lhes disse: "Quando fizerdes do dois um e quando fizerdes o interior como o exterior, o exterior como o interior, o acima como o em baixo e quando fizerdes do macho e da fêmea uma só coisa, de forma que o macho não seja mais macho nem a fêmea seja mais fêmea, e quando formardes olhos em lugar de um olho, uma mão em lugar de uma mão, um pé em lugar de um pé e uma imagem em lugar de uma imagem, então, entrareis (no Reino)."


 Evangelho Apócrifo de S. Tomás
 (encontrado algures na internet)

quarta-feira, junho 27, 2012

domingo, junho 24, 2012

verão

o verão para mim é como um longo domingo.

gosto do verão
mas fico sempre triste no verão
como fico nos domingos

no café do costume
está uma tarde de sol e eu dentro

lá fora vejo gente a conversar
com a calma das amizades calmas
e dos domingos na esplanada

a música melancólica, o escuro aqui dentro, na sala onde estou, só
a fungar da constipação
e o verão lá fora como uma miragem de felicidade
(a luz e a brisa e as arvores)
devolve-me uma tristeza
que não consigo explicar

no inverno é fácil
a tristeza combina com o tempo
murchamos como as folhas
choramos com a chuva
escurecemos com as nuvens que tapam o sol

mas no verão...
o sol está em todo o lado
e toda a gente em todo lado parece irradiar luz e felicidade
(mesmo que fingida)


"porque não ris, porque não danças, porque não te soltas, porque não vens connosco?"
diz o verão
e a tristeza fica mais funda

já passou a promessa que foi a primavera
e ainda não estamos prontos para as colheitas de setembro

esperamos
que o verão passe
que o domingo passe
que a tristeza passe
como passam as constipações

e entretanto
talvez o verão chegue
aqui dentro
onde estou, só
a fungar
da constipação
e me convide para dançar.






sábado, junho 23, 2012

midsummer night

Anselm Kiefer 
Midsummer night

quinta-feira, junho 21, 2012

freedom


Elliott Erwitt




"Freedom is what you do with what's been done to you".

Jean-Paul Sartre

quinta-feira, junho 14, 2012

pedaços


Damian Ortega
Cosmic Thing

sexta-feira, junho 08, 2012

excertos

(S., aqui vão os primeiros excertos. podes ler aqui uma entrevista dele.)




"De facto, é possível que alguém se apaixone mais do que uma vez, e algumas pessoas gabam-se - ou queixam-se - de que apaixonar-se e "desapaixonar-se" é algo que lhes acontece (assim como a outras pessoas que vêm a conhecer nesse processo) de modo muito fácil. (...)
Há bases bastante sólidas para se ver o amor, e em particular a condição de "apaixonado", como - quase que por sua própria natureza - uma condição recorrente, passível de repetição, que inclusivamente nos convida a sucessivas tentativas. (...)

 Afinal,a definição romântica do amor como "até que a morte nos separe" está decididamente fora de moda, tendo deixado para trás o seu tempo de vida útil em função da radical alteração das estruturas de parentesco às quais costumava servir e de onde extraia o seu vigor e valorização. Mas o desaparecimento desta noção significa, inevitavelmente, a simplificação dos testes pelos quais uma experiência deve passar para ser chamada de "amor". Não existe um maior número de pessoas a atingir mais vezes os elevados padrões do amor: o que acontece é que esses padrões estão mais baixos. Como resultado, o conjunto de experiências às quais nos referimos através da palavra "amor" expandiu-se muito. Noites avulsas de sexo são descritas por meio da expressão "fazer amor".

A súbita abundância e a evidente disponibilidade das "experiências amorosas" podem alimentar (e de facto alimentam) a convicção de que amar (apaixonar-se, instigar o amor) é uma habilidade que se pode adquirir e que o domínio dessas habilidades aumenta com a prática e a assiduidade do exercício. Pode-se até acreditar (e frequentemente acredita-se) que as habilidades do fazer amor tendem a crescer com a acumulação de experiências; que o próximo amor será uma experiência ainda mais estimulante do que a que estamos a viver actualmente, embora não tão emocionante ou excitante quanto a que virá depois.

Essa é, contudo, outra ilusão... O conhecimento que se amplia juntamente com a série de eventos amorosos é o conhecimento do "amor" como uma série de episódios intensos, curtos e chocantes, desencadeados pela consciência a priori da sua própria fragilidade e curta duração. As habilidades assim adquiridas são as de "terminar rapidamente e começar do início", das quais, segundo Soren Kierkegaard, o Don Giovanni de Mozart era o virtuoso arquetípico.
(...) É tentador afirmar que o efeito desta aparente "aquisição de habilidades" tende a ser, como no caso do Don Giovanni, a desaprendizagem do amor - uma "exercitada incapacidade" de amar."


Zygmunt Bauman
"Amor Líquido"
Relógio d'Água

segunda-feira, junho 04, 2012

sexta-feira, junho 01, 2012

lost cloud


André Kertész, Lost Cloud, New York, 1937