sábado, dezembro 30, 2006

desejos de ano novo

i feel good









james brown
(cenas de "good morning vietnam")

quinta-feira, dezembro 28, 2006

quanto tempo

quanto tempo Onde estão
os sonhos as mãos o ritmo As pessoas
que cresceram dentro de mim
O oculto tornado
claro Os sonhos
a lua o tempo os sinais
Tudo passa
Entristeço como a tarde Mas a dança
alegre dos astros lembra-me que Não há nem
alegria nem tristeza Nem bom nem mau Nem cor nem sombra
Só luz
e eternidade

Incontornável tempo
que voa
faz-me invejosa dos dias perdidos e das manhãs de sol

(dezembro 2006)

quarta-feira, dezembro 27, 2006

love rescue me

Love rescue me
Come forth and speak to me
Raise me up and don't let me fall
No man is my enemy
My own hands imprison me
Love rescue me

Many strangers have I met
On the road to my regret
Many lost who seek to find themselves in me
They ask me to reveal
The very thoughts they would conceal
Love rescue me

And the sun in the sky
Makes a shadow of you and I
Stretching out as the sun sinks in the sea
I'm here without a name
In the palace of my shame
Said, love rescue me

In the cold mirror of a glass
I see my reflection pass
See the dark shades of what I used to be
See the purple of her eyes
The scarlet of my lies
Love rescue me

Yea, though I walk
In the valley of shadow
Yea, I will fear no evil
I have cursed thy rod and staff
They no longer comfort me
Love rescue me

Sha la la...sha la la la
Sha la la la...ha la la...
Sha la la la...sha la la la
Sha la la la...sha la la
Sha la la la...sha la la la
Sha la la...
I said love, love rescue me

I said love
Climb up the mountains, said love
I said love, oh my love
On the hill of the son
I'm on the eve of a storm
And my word you must believe in
Oh, I said love, rescue me
Oh yeah, oh yeah, oh yeah...

Yeah I'm here without a name
In the palace of my shame
I said love rescue me

I've conquered my past
The future is here at last
I stand at the entrance
To a new world I can see
The ruins to the right of me
Will soon have lost sight of me
Love rescue me

U2

terça-feira, dezembro 26, 2006

anúncio











cópia de marcador de livro da alma azul

quarta-feira, dezembro 20, 2006

words

palavras em associação


leite, mexer, universo, roda que gira, via láctea, espiral, lua redonda, roda dentada, lua, mãe, noite, abismo, medo, sorte, cair, seguir instintos, lobo, vida, amor, conhecer, antecipar, saber, intuir, perceber, imagem, percepção, som, silêncio, via, caminho, um, dois, três, verbo, palavra, som, anunciar, anjo, silêncio, leite, deus, branco, asas, milhafre, cor, rio, água, sentido, inscrição, coincidências, sopro, superar, voz, igual, leis, cor, juntar, jugo, jogo, união, yoga, rio, areia, não voltar, ir sem esperar, despejar, esvaziar, encher, sopro, leite, criança, iniciar, movimentos, animais, conhecer, silêncio, porquê, mar, areia, rochas, rio, lua, paz, amizade, percepção, interesse, encontrar, cumplicidade, imaginação, ver, inveja, querer, criar, igual, criar, mexer, impulsionar, ir na onda, abrir, deixar entrar, não guardar, não ter medo, ser autêntica

abril, 2006

tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo.


in Tabacaria, Álvaro de Campos




(esta frase foi-me apresentada em 1990 numa dedicatória posta num livro que me foi dado. o livro chama-se "a visão de deus", de nicolau de cusa, um filósofo medieval, e foi-me oferecido por um tio numa noite excessiva e feliz; a dedicatória foi pedida pelo meu tio a um seu amigo que tinha ido jantar lá a casa com a esposa naquela noite. muitas vezes regressei e regresso a esta frase do poema "tabacaria". como hoje, quando a encontrei num outro livro que recebi, e me pareceu de novo tão verdadeira.)

domingo, dezembro 17, 2006

um ano


há um ano abrimos as portas
da partilha.

obrigada pela companhia.










Foto: tulip, de r. mapplethorpe

sexta-feira, dezembro 15, 2006

sobre a amizade

"A amizade começa como um acto sem continuidade, um salto. É um momento em que sentimos uma forte simpatia, um interesse, sentimos uma afinidade em relação a uma pessoa. Se já a conhecíamos há algum tempo, é como se a víssemos de uma maneira diferente, pela primeira vez. Chamaremos “encontro” a esta experiência.

O encontro é sempre inesperado, revelador.
(…)

Cada “encontro” é diferente, abre uma nova estrada, abre novas perspectivas. Se uma amizade é verdadeira, isto repetir-se-á inúmeras vezes.
(…)

O encontro não é reconhecer uma identidade ou uma semelhança. É apercebermo-nos de que o outro nos completa e que nós o completamos. (…) O encontro é fazer um pedaço de estrada em conjunto, em direcção à própria identidade, em direcção à descoberta daquilo que, para cada um, é a coisa mais importante.
(…)
Do encontro com o amigo espero sempre, portanto, uma revelação. O amigo abre-me a porta que eu queria abrir.

A amizade é uma filigrana de encontros, e cada encontro é uma prova. Cada encontro pode ser, de facto, até uma desilusão. (…)
A amizade é o resultado dos encontros bem sucedidos. Os amigos sentem-se bem juntos, estão sorridentes, felizes. Porque, mais uma vez, aconteceu o milagre, se realizou o encontro.

Porque é que nunca nos aborrecemos com os amigos? Porque a verdadeira amizade é sempre aventura, exploração dos mistérios da vida, busca.(…) O encontro entre amigos é sempre descoberta da própria diversidade, da própria unicidade e, ainda, da própria solidão, do próprio risco individual.
(…)
O aborrecimento é o sintoma da deterioração da nossa relação com o mundo e, também, connosco próprios. O aborrecimento apenas desaparece voltando ao mundo, ou seja, aceitando o desafio. Procurando, portanto, a nossa identidade. Periodicamente, ao longo da vida, temos portanto que lançar fora uma parte da sociedade que nos é familiar. Temos que nos perder para encontrarmos a estrada. Temos que voltar a ser viajantes, que chegar a um território desconhecido. Temos que reconquistar um lugar na sociedade, como se esta nos fosse estranha. É nestes períodos de transformação que encontramos os amigos. O encontro com o amigo é apenas um aspecto do encontro com o mundo.”


Francesco Alberoni, A Amizade, Bertrand

quinta-feira, dezembro 14, 2006

moby

(com legendas em espanhol)




reminiscências (3)

"O fogo atirava sombras intensas contra a parede; o som do crepitar ao entregar mais um pedaço de lenha às chamas; as paredes de pedra, húmidas, a receber calor. Um gato entrou, vagaroso, miou e aninhou-se junto à lareira depois de ter roçado nas suas pernas. Uma panela com água borbulhava. De súbito, entre o fumo e as chamas, ela viu. Instintivamente levou as mãos aos olhos. Nítida, de novo, a visão de uma criança que grita, chora, chama. Era assim desde sempre, mas piorava quando ele estava por perto. O que a perturbava não era a visão, afinal, ela sempre via coisas que aos outros escapavam; o que a afligia era não saber o que fazer com aquilo."

domingo, dezembro 10, 2006

contos de fadas (2)




e se a princesa beijar o sapo
quem sairá do encanto?














"Alguns contos de fadas acentuam a longa e difícil evolução, que é a única coisa que permite o controle sobre o que parece animalistico em nós, enquanto, pelo contrário, outros contos se centralizam no choque do reconhecimento quando aquilo que parecia animal se revela como fonte de felicidade humana. O conto dos irmãos Grimm (O Rei-Sapo) pertence a esta última categoria.
(...)
De certo modo, o conto diz que, para poder amar, a pessoa tem primeiro de poder sentir; ainda que os sentimentos sejam negativos, isso é melhor do que não sentir. Ao princípio a princesa é totalmente egocentrica; (...) À proporção que o sapo se aproxima fisica e pessoalmente dela, mais fortes se vão tornando os seus sentimentos, enquanto ela se vai também tornando cada vez mais uma pessoa. Durante um longo período do desenvolvimento, ela obedece ao pai, mas cada vez se sente com mais força; no fim, afirma a sua independência indo contra as suas ordens. Tornando-se desta maneira ela própria, também o mesmo acontece ao sapo, que se transforma num príncipe."



Bruno Bettelheim, "Psicanálise dos contos de fadas", Bertrand

quarta-feira, dezembro 06, 2006

(Enlacemos as mãos)

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimentos demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.


Ricardo Reis

domingo, dezembro 03, 2006