sexta-feira, julho 31, 2009

coração

"all we need is love", Damian Hirst




«Não me beijes por engano
não me causes maior dano
do que aquele que causaste
no dia em que aproximaste
os teus lábios do meu peito
e num momento perfeito
de paz e de assombração
tocaste o meu coração»

Sérgio Godinho




(ontem encontrei este coração com borboletas do damian hirst, ainda não o tinha visto inteiro e sem pessoas à frente. é se calhar um bocadinho exagerado, a cor real deve ser mais viva que a da imagem, e chateia-me que ele use borboletas verdadeiras, mas pareceu-me ir bem com os versos do Sérgio Godinho. obrigada! )

quarta-feira, julho 29, 2009

Mor Karbasi


La galana i la mar - Mor Karbasi








(desde que descobri esta voz que não consigo deixar de ouvir, e fiquei ainda com mais pena de este ano não ter ido a sines.)

merce

segunda-feira, julho 27, 2009

as aulas de inglês no departamento de física

Um dia um colega de faculdade atirou “querem ter aulas de inglês no departamento de física?” eu e a Paula em coro “no departamento de física?”, “de graça”, disse ele. Fomos. Depois da última aula da manhã lá íamos nós a correr para o departamento de física, subíamos três lances de escadas e avançávamos por um longo corredor onde porta sim, porta não, havia um símbolo do nuclear. As aulas alternavam entre a conversação, exercícios de gramática e a repetição de frases tipo “milk, butter and cheese are delivered here from the dairy farms”, o que chegava a ser hilariante! Quase todos os alunos tinham muitas dificuldades com o idioma que precisavam saber para ler os manuais. Lembro-me de uma mulher mais velha, não sei se era aluna ou professora de uma engenharia qualquer, nós éramos os únicos "extra-terrestres" de direito, que numa aula de conversação revelou ter ido à China sem falar uma única palavra de inglês. Para mim e para a Paula, o nosso outro colega entretanto desistiu, aquilo era mais divertido que didáctico.
Numa dessas aulas em que se conversava fomos parar à literatura. Só eu, a Paula e um outro rapaz, um pouco mais velho do que nós, por quem tive uma “identificação à primeira vista”, e que, por isso, se tornou na principal razão para me manter alguns meses a correr para o departamento de física, é que líamos romances, os outros só manuais técnicos. A atenção acabou, naturalmente, por se centrar em nós, não só porque líamos livros, mas também porque sabíamos inglês suficiente para aguentar uma conversa. Eu tinha acabado de ler “O amor nos tempos da Cólera” do García Marquez, e tinha lido Jorge Amado, Milan Kundera, Lobo Antunes, e outros que agora não me lembro, o que, creio, agradou ao professor perante uma sala onde poucos tinham o gosto pela leitura. No fim da aula o professor, um homem baixo, de barbas, que devia andar nos 50 e tal anos, disse que me ia dar uma coisa. O tal rapaz revelou-nos “é um livro”, sorriu, “ele é escritor”. “Ai, é?”, eu e a Paula surpreendidas. Lá fui com o professor até uma outra sala, num outro andar, e com alguns longos corredores pelo meio, sempre com símbolos do nuclear em algumas portas, onde de uma caixa cheia ele tirou um livro, escreveu uma dedicatória simples, e deu-mo.
Ainda frequentei as aulas durante algum tempo, mesmo depois da Paula ter desistido, não tanto para melhorar o inglês, mas na esperança de falar com o tal rapaz. Quem sabe, talvez surgisse a oportunidade de almoçarmos juntos na cantina, ou combinarmos um café, embora eu, na ocasião, fosse tão tímida que jamais tomaria a iniciativa de propor qualquer uma destas coisas a alguém de quem gostasse. Entretanto, também ele deixou de aparecer. Eu comecei a rarear as idas ao inglês, nunca fui de desistir das coisas à primeira, até que resolvi passar a ir almoçar mais cedo com a Paula, não sem continuar, durante algum tempo, a espreitar para o departamento de física sempre que por lá passava.

sábado, julho 25, 2009

quinta-feira, julho 23, 2009

Edward Weston

terça-feira, julho 21, 2009

pra quê somar se a gente pode dividir

 Vinicius & Toquinho - Como dizia o poeta





Quem já passou por essa vida e não viveu
pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Quem nunca curtiu uma paixão
nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença,
mesmo o amor que não compensa
é melhor que a solidão
Abre os teus braços,
meu irmão, deixa cair,
pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
de quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão
nunca vai ter nada, não...



Toquinho / Vinicius de Moraes

segunda-feira, julho 20, 2009

pub*




* a pedido de várias famílias :)

sábado, julho 18, 2009

casca





De tanto cantar
não resta da cigarra
senão a sua casca





Matsuo Bashô




sexta-feira, julho 17, 2009

Edward Hopper

quarta-feira, julho 15, 2009

Marilyn Monroe

terça-feira, julho 14, 2009

encontros casuais (5)

parece que eles se encontraram!


pelo menos é o que um anúncio igualmente azul publicado hoje no público dá a entender.

segunda-feira, julho 13, 2009

my name is luka

 Suzanne Vega - Luka - by iamnotdogno®




My name is luka
I live on the second floor
I live upstairs from you
Yes I think youve seen me before
If you hear something late at night
Some kind of trouble. some kind of fight
Just dont ask me what it was
Just dont ask me what it was
Just dont ask me what it was
I think its because Im clumsy
I try not to talk too loud
Maybe its because Im crazy
I try not to act too proud
They only hit until you cry
And after that you dont ask why
You just dont argue anymore
You just dont argue anymore
You just dont argue anymore

Yes I think Im okay
I walked into the door again
Well, if you ask thats what Ill say
And its not your business anyway
I guess Id like to be alone
With nothing broken, nothing thrown
Just dont ask me how I am
Just dont ask me how I am
Just dont ask me how I am

dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse


Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.


Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta


Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

(I)



Hilda Hilst

(daqui)







(ainda devo ter uma cassete, gasta, de tanto ter ouvido isto nas viagens para casa no velho fiat panda...)

sexta-feira, julho 10, 2009

vou ali e já venho

S. Leonardo de Galafura, Douro
(bom fim de semana!)

quinta-feira, julho 09, 2009

(barcelona, 2006)

quarta-feira, julho 08, 2009

la maison en petits cubes

mais uma animação gira:


http://www.vidivodo.com/252105/la-maison-en-petits-cubes



(não consegui fazer o embed...)

sonhos (2)

já houve um tempo em que me lembrava dos sonhos quase todos os dias, eram sempre estranhos, fantásticos, cheios de detalhes impressionantes. de tal forma a minha avó materna se divertia tanto ao ouvi-los que me dizia "escreve-os, para não te esqueceres"!

a noite passada tive um desses sonhos estranhos e cheios de detalhes.
passava-se numa sala ampla e vazia, uma espécie de ginásio, onde se encontravam outras pessoas a dormir no chão. eu também estava a dormir e durante o sono comecei a falar, devia ser um pesadelo, e acordei com o som da minha voz. lembro-me de ter olhado em volta e ver um grupo grande de pessoas adormecidas e também de me ter perguntado sobre que palavras teria dito enquanto dormia, se seria algo importante.


entretanto, voltei a enroscar-me no chão e tentei adormecer. nesse momento, um rapaz que estava deitado perto do meu lugar na sala, levantou-se, sonâmbulo, e pegou em mim ao colo. lembro-me de o ver de olhos fechados, comigo nos braços, eu agarrada ao seu pescoço para não cair, sem saber o que ele ia fazer, cheia de cuidado para que ele não acordasse, pois sabe-se que não se deve acordar os sonâmbulos. o rapaz, que era leve e ágil como um bailarino ou como um anjo, com um sorriso sereno e um andar seguro, levou-me para o outro lado da sala.

tenho presente a sensação física de ter sido transportada ao colo, de o ver de olhos fechados a passar pelos espaços entre os corpos das pessoas que dormiam no meio da sala, e da sensação de serenidade e leveza do rapaz.

ele pousou-me com todo o cuidado no chão e regressou ao seu lugar onde se deitou e continuou a dormir.
eu fiquei sentada no chão ao lado de um homem com um sono pesado mas agitado, que apesar de estar a dormir parecia muito cansado, ou melhor, ocupado, como quem está embrenhado em resolver um daqueles problemas matemáticos muito complexos, ou a tentar perceber como se consegue concertar um mecanismo que se estragou.


fiquei a olhar para ele, como se conseguisse ver a confusão dos seus pensamentos, pareceu-me perturbado, pensei no que aconteceria quando ele acordasse e me visse ali, como reagiria, e cheguei a ter algum receio pois foi isso que me trouxe à realidade quando acordei com a luz da manhã.





domingo, julho 05, 2009

a dança

Paula Rego

sexta-feira, julho 03, 2009

correio azul

Manda-me uma carta em correio azul
p'ra afastar estas cinco nuvens negras
relembra-me as regras
do saber viver
repõe-me o sentido nos sentidos
olfactos
ouvidos
à vista
de tactos
do teu paladar

Manda-me uma carta em correio azul
p'ra afastar esses blues de pacotilha
renega e perfilha
respectivamente
a torpe indiferença
e o amor ardente
amor tão ardente
que dos erros meus
má fortuna se ausente

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente

Manda-me uma carta em correio azul
que me deixe a face roburizada
promete-me a noite fatigada
de termos aberto o nosso nexo
ao sexo
da vida
porção destemida
da nossa emoção

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente

Manda-me uma carta em correio azul
que branqueie o passado num momento
paixão, é no corpo o sentimento
que faz da razão montanha russa
aguça
o encanto
mas no entretanto
faz estragos mil

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente

Manda-me uma carta em correio azul
para eu guardar no castanho dos armários
no meio de testemunhos vários
escritos por letras tão distantes
murmúrios amantes
que a vida me oferece
só por muito amar

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente


Sérgio Godinho





quinta-feira, julho 02, 2009

cinderela


Gustave Dore
"He Perceived That Her Little Foot Slid In Without Trouble"

quarta-feira, julho 01, 2009

um café com Pina





"Quando saímos, se está a nevar e tudo se pôs branco, ficamos sós, sentimo-nos sós. Se o sol estiver a brilhar, talvez não. Mas nada garante que aquilo que o outro sente seja equivalente ao que nós próprios sentimos. Quanto à mensagem, não sei... Não há mensagem. A melhor coisa é deixar a intuição e a imaginação agirem. É verdade que eu quero dizer com força qualquer coisa difícil de formular, qualquer coisa de escondido; mas são os espectadores que têm de descobrir, senão tudo seria tosco e grosseiro; são vocês que têm de o descobrir, eu não posso proceder demasiado directamente. Frente a certos valores, é preciso, acima de tudo, sensibilidade."

Pina Bausch



"Se quisermos falar daquilo que o trabalho de Pina Bausch nos comunica, deparamos obrigatoriamente, num primeiro tempo, com o conceito de angústia. A angústia, que podemos considerar um dos principais problemas da nossa época, é um dos topoi mais importantes da obra de Pina Bausch. Trata-se da sua angústia pessoal, e da angústia dos seus personagens, de uma angústia que paralisa ou desencadeia a agressividade, da angústia de quem se descobre e continua a estar completamente nu, sem defesa, exposto às reacções de um parceiro no qual é impossível confiarmos uma vez que ele, igualmente dominado pela angústia, poderá ferir-nos. O desejo intenso de sermos amados esbarra nesta angústia: é desta contradição que nascem os conflitos, mas também a inflexão cómica que parece crescer à medida que a coreografa ganha distância em relação às suas própiras frustrações e obsessões, os seus complexos e os seus sonhos,(...)

(...)
Assitimos, então, ao nascimento de um novo tipo de espectáculo; este será, como uma revista, composto de colagens, de imagens que se esbatem como num sonho e de muitas histórias paralelas estruturadas segundo o princípio do conflito estético entre a tensão e o repouso, o forte e o fraco, o claro e o obscuro, o grande e o pequeno, o triste e o alegre.
(...)
(Pina Bausch) Não quer ver-se, seja de que maneira for, identificada com o movimento feminista, com o teatro feminista. Compromete-se com a emancipação dos seres humanos e não, em especial, com a da mulher.
(...)
Em seu entender, só é concebível um progresso na condição de os homens e as mulheres se mostrarem capazes de resolver juntos os problemas que resultam das suas relações sociais de dependência recíproca e decorrentes das imposições ditadas pelas convenções e pela vida. De resto, Pina Bausch considera que a emancipação poderá ser mais difícil para os homens, uma vez que aquilo que deles se espera, em termos de papeis sociais, é muito mais pesado."
(...)


Jochen Schmidt, "Da Modern dance ao Tanztheater"
"Pina Bausch, Falem-me de amor", Ed. Fenda