quinta-feira, fevereiro 23, 2012

memória poética

"Parece que existe no cérebro uma zona perfeitamente específica que poderia chamar-se memória poética e que regista aquilo que nos encantou, aquilo que nos comoveu, aquilo que dá à nossa vida a sua beleza própria. Desde que Tomás conhecera Tereza, nenhuma mulher tinha o direito de deixar qualquer marca, por mais efémera que fosse, nessa zona do seu cérebro.
Tereza ocupava despoticamente a sua memória poética e varrera de lá as marcas de todas as outras mulheres.
(...)
A história de amor só começara depois: Tereza ficara com febre e ele não a pudera levar a casa como fazia com as outras mulheres. Ajoelhara-se à sua cabeceira e viera-lhe à cabeça a ideia de que ela lhe fora enviada numa cesta ao sabor das águas. Fiz já notar como as metáforas são perigosas. O amor começa com uma metáfora. Ou, por outras palavras, o amor começa no preciso instante em que, com uma das suas palavras, uma mulher se inscreve na nossa memória poética."



Milan Kundera
A Insustentável Leveza do Ser
D. Quixote

2 comentários:

Anónimo disse...

um dos 'meus' livros...

natalie disse...

:)