quarta-feira, junho 01, 2011

tempo de antena

Trabalho muito perto da delegação de um partido político e por isso necessariamente sou obrigada a conviver com a parafernália da campanha eleitoral. Há dias atrás, ao passar à frente do dito cujo local, estava estacionado um daqueles carros com altifalantes a vomitar promessas e cantigas foleiras. Uma senhora que ia à frente, ao ouvir dizer "mais apoios sociais para o concelho X"  olhou para trás, surpreendida, parecendo estar a pensar "como é possível fazerem promessas destas?" Cruzámos o olhar e não pude deixar de lhe sorrir, porque de certa forma parecia que tínhamos tido o mesmo pensamento. Foi o suficiente para ela abrandar o passo e vir a conversar comigo uma parte do caminho que fizemos juntas. Eu quase só ouvi.
Não estava revoltada, não disse que eram todos iguais, mas confirmou, de certa maneira, a surpresa que lhe vi na expressão quando ouviu as vozes da campanha com promessas irrealistas; falou de exploração, que até há trabalho mas se ganha muito pouco; que se consegue, com sacrifício, sobreviver, juntando "um bocadinho daqui, um bocadinho dali"; que se trabalha muito porque cada pessoa faz o trabalho de três; que veio de Cabo Verde há 10 anos e vive com a filha; que é difícil estudar quando se tem de trabalhar; que é preciso ter esperança.

Eu só ouvi.
Os políticos não ouvem as pessoas: falam com elas porque as querem convencer; e quando ouvem é para dar a volta e introduzir os seus argumentos, ou seja, manipular e doutrinar.
Talvez devessem ouvir mais as pessoas. Só ouvir. E depois pensar muito no que ouviram antes de fazer propostas que não têm em conta as pessoas e que insultam a sua inteligência.

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