segunda-feira, junho 22, 2009

pequenas coisas ou o sabor da cereja (6)

O que são essas "pequenas coisas", que nos dizem que é preciso valorizar, ou que aconselhamos os outros a valorizar?

As "pequenas coisas", como eu as vejo, são principalmente um alicerce, um sítio onde volto quando estou perdida.

Acredito que todos temos um sítio destes dentro de nós, um espaço em permanente construção/ desconstrução, onde nos (re)fazemos, onde somos nós. E nesta transformação constante, muitas vezes há crises, tremores de terra, explosões, que nos obrigam a ajustes… temos, frequentemente, de nos adaptar, de jogar com as cartas que nos calham… como dizem os sábios orientais, precisamos ser flexíveis, como a cana de bambu que se dobra com o vento e evita assim ser quebrada pela sua força.

Um desses sítios onde volto é um fim de tarde. Foi há quase 10 anos. Sentia-me muito triste e desamparada e naquele lugar, com um resto de sol de Setembro, pela primeira vez desde criança senti uma enorme curiosidade pelo dia seguinte, o minuto seguinte, o segundo seguinte. Senti-me como se tivesse, naquele instante, inaugurado uma vida nova, como se desse um salto em direcção ao que está a começar, virasse uma página, deixando para trás o que acabou, o que passou e não existe mais.


As minhas “pequenas coisas” são um reencontro com o que é simples e puro; são o “olhai os lírios do campo” cristão, o “wu-wei” taoista, o "sabor da cereja".

São a chave que dá sentido aos sonhos, ajudam-me a persistir neles, a torná-los concretos, realizáveis e até a substitui-los, quando é preciso.
Não são, nunca, a consequência da derrota; antes, a descoberta do que está para vir, de tudo o que há ainda para fazer, conhecer, amar.


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