sábado, maio 26, 2012

InterRail



Cartier Bresson


"A realidade é absurda, e mais rápida que a própria sombra.

 Duas pessoas de olhos fechados e mãos em movimento desencadeiam cem milhões de imagens em cada cabeça. Eu a morder-te a boca, o queixo, o pescoço, a puxar-te o cabelo e a barba, a camisa, vejo as silhuetas do tipo-atlético e do tipo-magro, e depois o tipo-gordo que era o meu fantasma, a compota ao lume na cozinha da minha avó, o comboio do primeiro InterRail, os olhos do então namorado, a cor da fórmica há pouco, e só passaram cinco segundos. E tu, com a língua dentro da minha boca, com as mãos nas minhas nádegas, andas onde? Depois do pânico, da ansiedade, da paralisia, fechamos os olhos num beijo como se mergulhássemos, e o filme que isso é quando é. A arqueologia. Saímos outros.

 Então abrimos os olhos e só passaram dois minutos. Ainda seremos outros ou voltámos a nós?"


Alexandra Lucas Coelho
"e a noite roda"
Tinta da China

Sem comentários: