sexta-feira, maio 11, 2012

esperar

Ralph Gibson



(num espectáculo de teatro que vi recentemente, uma personagem grávida reclamava uma indemnização no tribunal e o juiz dizia-lhe qualquer coisa assim: "está com esperanças? mantenha-as." 

pois. 
à minha volta vejo quase toda a gente a perder a esperança.  
nas pessoas, no amor, no trabalho, no país, em si próprios.
eu, famosa pelo meu pessimismo crónico, tento não me contagiar por este ambiente geral.
é difícil. e confesso alguma desmotivação e cansaço.
mas respiro fundo e espero o melhor.

hoje recebi a visita de uma amiga grávida, e deve ter sido a pessoa mais feliz  e esperançosa que vi ultimamente.
dei por mim a pensar que para manter a esperança é preciso estar prenhe. 
metaforicamente prenhe:  de vida, de ideias, de vontades.
estar prenhe é acreditar que algo melhor vai nascer e que nós, não só vamos fazer parte desse futuro, como somos nós que o criamos e empurramos para a vida.

viver é criar.
é preciso criar para manter a vida.
mesmo que seja a partir do nada, do vazio, da espera.

a ânsia de criar, de agir, tem criado em mim alguma ansiedade e impaciência.
mas há momentos assim, de espera, incubação.

é preciso paciência.
a lagarta será borboleta quando o for.

talvez seja este um tempo de "não-acção", uma espécie de espera activa
tempo de abrir perspectivas, olhar para dentro e para o vazio, acreditar que, apesar de não parecer, há uma imensidão de possibilidades, de cenários, de acções, de vidas por viver.

é difícil.
mas respiro fundo e espero o melhor.)








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