segunda-feira, novembro 07, 2011

sou

(corro para ver o pôr do sol como quem corre para os braços de um amante. mas o tempo não me espera e quando chego, só uns restos de cor nas nuvens, reflexos breves no rio, castanho da chuva, que passa por baixo da ponte onde espreito a vida passar. a lua, do outro lado, brilha, crescente como uma promessa. uma fila de patos cruza o rio, contra a corrente, mantendo uma diagonal. as gaivotas descansam pousadas na água, ao longe. uma cegonha voa, nervosa, parece perdida, e eu estranho a sua presença no centro da cidade. acenderem as luzes nas esplanada. as árvores do parque estão finalmente com cores de outono. um homem passeia um pastor alemão. uma rapariga corre. cumprimento alguém que conheço. um pescador guarda o material. o parque está sujo com centenas de latas, garrafas de plástico, e outras porcarias que os estudantes deixaram depois da festa. olho o rio. está frio e o vento entra nos meus olhos libertando lágrimas, que, entretanto, aceito como minhas e necessárias. agradeço o dia, os dias. o meu coração abre-se e nele cabe tudo, todos. tudo o que vejo me sensibiliza. controlo-me para não me desfazer em lágrimas. cruzo os braços para não sentir frio. despeço-me do rio e do resto de sol que já se foi, deixo que a lua me acompanhe no caminho para a noite. estou viva. entrego-me ao momento. sou.)

2 comentários:

Anónimo disse...

este texto e "o caimão". mais uma noite sem dormir.
(gosto do texto)

natalie disse...

"o caimão" do nanni moretti? :) se for o que estou a pensar é mais um daqueles de que gosto muito.

mas espero que não seja este singelo texto a tirar-te o sono :)
(ando muito confessional ultimamente, se calhar de mais...)

beijinhos