sábado, janeiro 03, 2009

Sofia

(...)
"A Sofia sempre fez bem omeletas. Tinha um jeito especial para, no momento certo, dobrar e moldar o que a mim me parecia uma massa escorregadia e incontrolável, transformando-a numa figura de ângulos rectos perfeitos. Ou redonda, se eu preferisse. Juntava-lhe então batatas, cebola, alho, salsa picada e chamava-lhe tortilha. Eu gostava das nossas noitadas cinéfilas. Quando misturávamos, até de madrugada, a noite, as tortilhas, o vinho e os filmes. Tínhamos comprado um apartamento pequeno. Daqueles que nos fazem invejar o mais reduzido dos quintais. Na realidade, o espaço sempre foi suficiente. As vidas grandes não ocupam muito espaço” – costumava dizer a Sofia – “não são como as cómodas ou as cadeiras. Preenchem sem ocupar. E em momentos de sorte, a nossa própria vida pode ser, também, a vida do outro. Não me refiro a uma vida que se encosta à outra, situação mais comum. Falo numa espécie de duas águas, que ao misturarem-se, como se fossem uma só, podem mesmo tornar-se algo único e especial.” (...)


Artur Vaz Oliveira



(obrigada pela surpresa! está mesmo muito bonito e espero que continues a contar estórias também com as palavras!)

2 comentários:

Anónimo disse...

:-)...grande destaque! és querida demais... mas fico tão contente... pq não sendo pela escrita, deve ser pela minha pessoa...:-)))

a surpresa vais receber pelo correio...:-)
um beijo

natalie disse...

lol
o texto é bom, na minha modesta opinião, mas quem sou eu...
mas já ando a divulgá-lo por alguns amigos mais imparciais!
beijos