segunda-feira, dezembro 08, 2008

feriado

as ruas estão vazias, os centros comerciais cheios
o sol apareceu por algumas horas
e a roupa pendurada no estendal há uma semana,
o cheiro da humidade já entranhado,
parece finalmente estar seca

acordei tarde e estranhamente com calor
depois de tantos dias gelados
que pediam sempre mais tempo na cama para aquecer
e esquecer o escuro que as nuvens baixas e a chuva constante
deixam na rua e em mim

foi boa a noite de ontem
vinho, conversa, boa comida e amigos
era tudo o que precisava para me manter presente
e esquecer a “coisa mais estúpida que podia ter feito”
com a qual me auto-flagelei durante horas

passo pelas duas árvores que marcam o início da minha rua
no chão as folhas que os funcionários da câmara se esqueceram de levar
formam uma papa castanha e amarela, quase terra
ali ao lado, atrás do pavilhão, charcos de água reflectem o céu
tivesse eu 5 anos e galochas, e ia para lá chapinhar sonhos

a minha casa ainda cheira aos fritos do almoço,
experiências com mau resultado,
post-its e listas de tarefas chamam-me da preguiça
a impressora voltou a funcionar,
talvez fosse mesmo mau contacto dos cabos

devia ter vindo escrever isto logo que cheguei a casa,
mas resolvi lanchar o resto do bolo rei com chá de canela,
agora já me esqueci da frase inteligente com que ia acabar

não era nada disto, mas esta também serve:
todas as segundas feiras deviam ser feriado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Hoje também acordei tarde... hoje não fiz nada daquilo que queria fazer... hoje senti uma grande nostalgia e solidão (a que sinto sempre nos feriados e domingos sombrios)... estava aqui a ler-te e a pensar em como somos parecidas apesar das enormes diferenças, tão visíveis para todos. O que nos une, talvez seja o facto de conseguirmos encontrar a beleza nas mesmas coisas e isso nos comover. Talvez seja isso... e o facto de cometermos erros, de nos arrependermos, de dizermos que nunca mais e depois... Mas, também, quando me ponho a pensar naquelas pessoas que pairam acima das loucuras cometidas por amor, que são sempre calmas, coerentes, lógicas, metódicas, que nunca acordam com uma borbulha mesmo na ponta do nariz ou com o cabelo oleoso, que não choram como Marias Madalenas nos filmes românticos, que não pedem desculpa com um nó no peito, que nunca se arrependem de nada, que levam uma decisão até ao fim, que estão sempre alegres, que têm muitos amigos, que nunca falam demais, que nunca se zangam, que nunca discutem, que têm sempre a depilação em dia, que comem corn flakes logo de manhã e têm os intestinos completamente regulados... etc, etc... bah! Adoro pessoas como tu! Como os de ontem. Acho que o que sofres (tu e outros grandes amigos que tenho) se resume ao facto de não te encaixares neste mundo... és demasiado larga, demasiado grande, tens tantas coisas pequeninas que não há tempo para te perceber, nem mãos para te abarcar. Tu escapas-nos entre os dedos, porque ficamos como canhestros a olhar para ti e a pensar: como é que isto se usa?! És demasiado invulgar. Ás vezes pareces pouco, mas és demais... não cabes. Ainda bem!

natalie disse...

minha querida, deixas-me sem palavras. dizer o quanto te admiro e adoro parece-me pouco.
pertencemos a essa raça de pessoas invulgares que não cabem neste mundo pequenino.
às vezes é difícil suportar este permanente "desencaixe", mas felizmente existem noites como a de domingo, em que a nossa "família alargada" de inadaptados (cada um à sua maneira!) se reune e comemora a vida!
acredito, já o disse tantas vezes, que as pessoas não se conhecem por acaso. estamos aqui para realizar algo juntos, para nos ajudarmos e compreendermos melhor este mundo louco em que vivemos.
e se cada um de nós está no seu caminho pessoal, há pelo menos uma parte de estrada mais larga onde neste momento vamos todos! é um privilégio partilhar contigo esta parte do caminho onde nos encontramos, aqui e agora.