segunda-feira, dezembro 19, 2005

provar

quando provamos alguma coisa
descuidados, ignoramos que podemos
não voltar a prová-la
por isso, aguço os sentidos
para guardar no corpo todas as coisas boas que provei

como:



o barulho de abrir a tampa de lata de um frasco
reflexos de luz no chão de madeira, uma cortina ao vento
o fresco da manhã na janela
um cão a ladrar ao longe
as árvores brilhantes da última chuva
o som de pisar as ervas novas e molhadas
o cheiro da terra fresca
a água a correr num tanque
as nuvens
o sol de Inverno
pardais nos fios eléctricos
abrir uma porta que range
pisar a madeira do soalho e ver a luz entrar pelas uniões das tábuas
cheirar o pó da madeira que enche as narinas
uma teia de aranha num canto alto
o som de subir escadas ocas
o frio do prego que serve de puxador nas portas
e da pedra da banca na cozinha
as rugas da mesa de madeira velha
o cheiro e o som de cortar uma couve
a parede escura junto à lareira
acender uma fogueira
a sopa no pote
provar a sopa quente
abrir o forno e retirar um tabuleiro de biscoitos
reflexos de luz nos lençóis brancos da cama desfeita
o barulho de abrir uma tampa de lata de um frasco

1 comentário:

Anónimo disse...

simples, simples, simples... as pequenas coisas simples da vida!

e como é tão verdade, descuidamos este pequenos prazeres que a vida nos proporciona


Alex