sexta-feira, dezembro 30, 2005

brecht - tempo

Não, o tempo nada tira das coisas.
A mais de um menosprezado portal
Sua lenta metamorfose emprestou
Beleza, ainda que tardia.
Aos monumentos que veneramos
O tempo confere suave encanto
Da frontaria ao pináculo.
Nunca, malgrado fendas e ferrugem,
A superfície que ele desnuda
Tem o valor da patina que ele acrescenta.

É o tempo que abre um sulco
Num mais que modesto capitel,
Que passa seu inteligente polegar
Sobre as áridas quinas do mármore;
Aperfeiçoando a arte, é ele
Que deposita uma víbora viva
Nas espirais de uma hidra de granito.
Acho que posso ver um telhado gótico rindo
Quando de seu friso antigo o tempo
Retira uma pedra e no lugar põe um ninho.


Bertolt Brecht

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