quinta-feira, outubro 17, 2013
...e não se pode cloná-lo?
sobre a respiração:
"Vivemos numa sociedade que visa o lucro, acima de tudo e ensinar a respirar não traz grande lucro. O modo como se respira pode controlar muito o nosso corpo. Os bailarinos sabem disso, os ginastas sabem disso, às vezes os médicos e os psiquiatras é que parecem não saber. Mas isto da respiração não está devidamente desenvolvido, não é o mainstream. Toda a gente sabe da importância de saber respirar, menos a ciência médica oficial. Às vezes quando nos dizem respire fundo, só estão a agravar o problema. Viu o último filme do Woddy Allen? Ela, a personagem principal, diz que entrou em crise de pânico, mas depois quando respira fundo para aliviar, fica ainda pior. Até os realizadores de cinema sabem disto, mas os psiquiatras não!"
Sobre a Depressão:
É porque é a mais grave?
Não. É porque é a mais frequente e a que rende mais. Para que os laboratórios vendam mais antidepressivos. A depressão patológica, tem um enquadramento sintomático e quando acontece tem mesmo de ser tratada. Uma coisa semelhante à depressão, um modelo, se quisermos, é a perda. Quando perdemos alguém ficamos tristes. Perdemos essa relação e, muitas vezes, perdemos a relação com as outras pessoas. Refugiamo-nos, ficamos em casa, sozinhos, apáticos e a certa altura perdemos a própria sincronização com o sol, dormimos de dia, estamos acordados de noite, é a chamada alteração dos ritmos circadianos. E mesmo o adormecer muito cedo e ter um acordar precoce, também são sintomas a ter em conta. O mesmo acontece com a perda de estatuto, de referências, de emprego. A vida é mudança e as pessoas não lidam bem com ela, apesar de todos sabermos que é assim, que a vida muda. Não podemos esquecer que também é verdade que quem perde alguém, quem fica dessincronizado com tudo também se pode voltar a apaixonar, que é quando ganha alguma coisa ou faz por a ganhar.
Mas temos de ter cuidado neste diagnóstico, porque agora toda a gente diz que está deprimida. E isso só favorece os laboratórios.
Sobre razão e emoção:
"Escreveu: “Outro sinal dos novos tempo é ter-se dado uma maior importância aos sentimentos do que ao raciocínio”.Tudo isto tem de ser equilibrado. O sentimento também tem a ver com uma coisa que nós não conhecemos que é a moral biológica. Isto tem a ver com a reprodução, com a sobrevivência da espécie, do individuo. A moral biológica tem a ver com os sentimentos. Por exemplo, uma célula para viver, não vive sozinha, está no meio de um tecido. Há uma espécie de compromisso com o corpo, para que ela se mantenha ali. Se ela se reproduz sem restrições, origina um cancro. A sua vontade até seria reproduzir-se, mas existem as constrições do corpo, que não deixam. O prazer da célula era reproduzir-se. Para dizer que há aqui um jogo entre o prazer e o dever. Nós, de certo modo, também funcionamos assim. Temos de arranjar um equilíbrio permanente. Entre o dever e o que nos apetece fazer, porque nós também não sobrevivemos fora da sociedade."
sobre homens e mulheres:
Escreveu: “Mulheres e homens é como se fossem de espécies diferentes, desde a biologia aos instintos. Mas é impossível não fazer por se compreender mutuamente.” Tem uma receita simples?Isto é politicamente incorreto. Mas depois de todos estes anos a pensar no assunto e depois de ter acreditado, um dia, que eramos todos iguais e, depois ainda, de ter assistido à emancipação da mulher, nos anos 60, tenho, agora a plena noção de que somos muito diferentes, cada vez se nota mais que somos completamente diferentes. É muito difícil uma mulher compreender um homem e vice-versa. Nos casais é terrível. Seduzem-se. As mulheres entre si compreendem-se muito bem; ou homens também. Mas é preciso evitar a situação de que as mulheres acham que compreendem tão bem os homens que, depois, os acham todos iguais. E o mesmo raciocínio é válido para os homens. De modo que não há receitas simples. Não há nada simples na vida humana. Mas se houvesse uma regra, seria a discriminação positiva. Na maior parte das vezes, a favor dos homens, agora. Por exemplo, nos empregos públicos. Existem muitas instituições e repartições públicas onde existe uma desproporção enorme entre homens e mulheres. A preocupação com a paridade entre homens e mulheres é fundamental. Ambos têm competências e sensibilidades diferentes, que se equilibram e complementam muito bem. Isto para dizer, de uma forma simples, que um homem não vê nada de jeito sem uma mulher e uma mulher não vê nada de jeito sem um homem.
sobre sincronização:
Tem mais projetos editoriais?
Sim. Estou a desenvolver algumas ideias. E uma delas tem a ver com o que já disse. A relação, o bailado que existe entre as pessoas. Uma relação é uma sincronização com a outra pessoa. Acordar ao mesmo tempo, dormir ao mesmo tempo, chegar a casa ao mesmo tempo, fazer as refeições ao mesmo tempo. A mesa é um aspeto importante. Os horários das refeições conjuntas. Mas ando à volta disto. Das pessoas sincronizadas, inclusivamente, nos pensamentos, quase que sincronizam ondas mentais. A dança entre um homem e uma mulher é um bom exemplo da relação, da sincronização dos ritmos que nós temos, com os outros e até com os astros. E acho, lá está, que a depressão é uma perda dessa sincronização. Repare: nos mamíferos o mais importante é a sincronização com a família; os peixes não precisam. É muito importante o sentimento de pertença; o amor, no final das contas! Por isso é que quando as pessoas se apaixonam, voltam a procurar a sincronização, voltam a sentir-se capazes de tudo e seduzem. Às vezes acontecem coisas estranhíssimas de sincronização entre duas pessoas. Coisas que ainda não estão completamente estudadas.
José Luís Pio Abreu - entrevista completa aqui
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