sexta-feira, dezembro 30, 2011

salto


Gundega Dege


que o próximo ano seja um salto intenso, divertido, optimista,  aventuroso, no futuro, que é agora, aqui; um salto que começa dentro de nós e acaba fora ou ao contrário; um salto para o qual podemos ser empurrados, ou forçados, mas que depois agradecemos; um salto transformador; um salto para os outros, com os outros; um pequeno voo para voltar à terra; um salto de onde regressamos inteiros, novos, completos, felizes, capazes, verdadeiros.


bom ano.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

segunda-feira, dezembro 26, 2011

só se lembra dos caminhos velhos

"cozinha velha"
 24-12-2011


quem tem saudades da terra.

sábado, dezembro 24, 2011

quarta-feira, dezembro 21, 2011

O efeito devastador da beleza





"Uncle Vanya and his family live a quiet life on their estate. But when the old professor comes with his young wife, Yelena, everything changes. The play is about the devastating effect of beauty. (...)
When Yelena comes to the house, Vanya suddenly becomes aware that he has passions, ambitions. He had not experienced this energy before. It is awakened in him. At forty-seven, he is suddenly filled with the desire to accomplish something. It's a little late. He is shattered by the sudden emergence of this needs he never felt earlier.

This is Checkov, and it isn't easy: beauty makes you aware of your own insignificance, of the wastefulness in your life"


Stella Adler on Ibsen, Strindberg and Chekhov

segunda-feira, dezembro 19, 2011


Do filme: Tree of Life, Terence Malick




O que acontece quando olhamos para cima?

O vento nas árvores, as nuvens, as janelas, o horizonte, o céu.
Tudo vai e vem; o céu permanece.
Intervalos entre as coisas, desvios, espaços.

O que acontece quando olhamos para cima e temos os pés na terra?


Julho, 2011




sábado, dezembro 17, 2011

sexta-feira, dezembro 16, 2011

neve


50 Words For Snow - Kate Bush Ft. Stephen Fry from John Vallis on Vimeo.




(no ano passado no final de novembro calhou ir à covilhã e apanhar o primeiro grande nevão do ano, e por esse motivo fiquei presa na cidade, numa pequena pensão, à espera do dia seguinte. não estava preparada para ficar, passei a noite a ver todas as séries que davam na televisão e a escrever no meu bloco. esta semana voltei à covilhã para fazer o que, por causa da neve, não fiz no ano passado. não nevou mas fiquei lá na mesma. lembrei-me do que pensei e escrevi no ano passado, e quando cheguei a casa procurei o bloco para confirmar. depois de duas páginas de divagações, que são quase premonições, termino com um resumo que é uma lista de "vontades" para semear. ainda bem que escrevi "vontades" e não "desejos", porque a vontade leva à acção e por isso à concretização. e na realidade, por incrível que me possa parecer, todas as vontades que escrevi foram concretizadas, mesmo que algumas ainda só parcialmente. espanta-me sempre o poder mobilizador das palavras e do pensamento.)

sábado, dezembro 10, 2011

Ships


Willem van de Velde, The Younger

quarta-feira, dezembro 07, 2011

abre-se à frente



Edgar, Meu Amor


"Por favor Edgar não me deixes assim, o que se passa entre nós, porque não telefonaste? Eu aqui à espera feita parva, nem ao cabeleireiro fui com medo que ligasses, fumei oito Mores seguidos, tenho a cabeça tonta de cigarros, já perguntei às Avarias se havia algum problema com o meu número e não há, já tentei entreter-me a pintar as unhas dos pés e borrei tudo, até nos calcanhares pus verniz, até na alcatifa, até no braço da cadeira, não foste ao emprego, não foste ao café, não foste ao clube, o que aconteceu Edgar? não é justo, não parece teu, não me deixes assim, dou voltas à cabeça a ver se percebo e não entendo, ainda ontem aqui vieste jantar, ainda ontem me gabaste o ensopado de enguias, ainda ontem, no sofá, lembras-te?
- Gosto de ti fofinha
ainda ontem, no sofá, coisa e tal, eu no princípio do licor e tu a puxares-me os collants
- Sua má sua mazona
e eu a mostrar-te o cálice
- Olha que isto deixa nódoas na almofada Edgar a almofada é nova
tu de joelhos, tu despenteado, de gravata torta, tu tal e coisa
- Quais nódoas quais caraças ajuda-me que o fecho do soutien encravou e nem para trás nem para a frente ajuda-me senão chamo o serralheiro
e claro que não tinha encravado, Edgar, é uma questão de jeito, é uma questão de calma, e tu a olhares para cima e a desapertares o cinto, tu atrapalhado nos atacadores
- Aguenta Deolinda que daqui a um segundo estou aí
eu aguentei, tu estavas aqui a magoares-me a perna com o cotovelo, eu
- Levanta o braço amor que me aleijaste
da janela via-se o Laranjeiro quase todo que o meu apartamento é em cima, o Laranjeiro, a Cova da Piedade, Almada, mais seis meses e tenho as duas assoalhadas pagas, eu a pensar que podíamos, se tu quisesses, morar os dois, arranjar um cão e ser felizes, e nisto tu quieto, tu embaraçadíssimo a olhares para baixo
- Devo andar cansado Deolinda deve ter sido do serão no escritório
tu sem ímpeto nenhum, tu sem vontade, eu a ajudar-te e tu, envergonhado, tu de calças pelos tornozelos num fiozinho de voz
- Deve ter sido do serão no escritório não me mexas paramos meia hora e fico fino
parámos meia hora, assistimos àquele programa onde as pessoas vão pedir desculpa à família e depois abraçam-se e choram e a assistência aplaude a chorar também, e mesmo a senhora que faz o programa, tão simpática, tão boazinha, se comove como se comove o Laranjeiro em peso, eu a beijar-te
- Já descansaste Edgar?
tu zangado comigo, tu que não ficaste fino nem meia
- Cala-te
numa voz tão diferente da tua, amor, nem fofinha, nem mazona, nem bichaneca
- Cala-te
e eu a fazer-te uma festa, cheia de paixão, preocupada com o teu cansaço
- Edgar
e tu sempre de calças pelos tornozelos a desviares-te para o outro canto do sofá
- Deslarga-me
eu que te adoro, a pôr-te a mão na coxa, e tu como se a minha mão queimasse
- Deslarga-me poça deslarga-me
vestiste-te num instantinho, puseste o casaco, avisaste da porta
- Se contas a alguém o que me sucedeu rebento-te
eu a compor-me estarrecida, eu a tropeçar atrás de ti
- Não me deixes sozinha não te vás embora Edgar
tu a desceres a rua para a camioneta, tu curvado como se carregasses o mundo inteiro nos ombros, eu da marquise
- Edgar
e nem sequer te voltaste, nem sequer adeus, nem sequer um sorriso, nem sequer um telefonema, queria dizer-te Não te apoquentes, queria dizer-te Não tem importância, gosto de ti à mesma, hoje tentamos outra vez, eu não conto a ninguém Edgar, juro que não conto a ninguém, não vão troçar-te no emprego, não vão troçar-te no café, podíamos morar os dois no Laranjeiro ainda que ficasses cansado para sempre, eu não me importo, comprávamos um cãozinho, íamos aos domingos ao Ginjal, isto no Laranjeiro é calmo, vê-se a Cova da Piedade, vê-se Almada, tenho a cabeça tonta de cigarros, já perguntei às avarias se há problemas com o meu número e não há, fiz ensopado de enguias, comprei sorvete no supermercado e o soutien que trago hoje tem rendas pretas e abre-se à frente Edgar, vai ser canja para ti tirar-mo."



António Lobo Antunes
Crónicas

segunda-feira, dezembro 05, 2011

quinta-feira, dezembro 01, 2011

imaginação


“Mau começo do dia, o pensamento que me vem de que, comparando-a ao que oferece a imaginação, mesmo a mais aventurosa e espectacular das existências não passa de uma vidinha.





"A imaginação é vazia de substância porque resulta de uma forma de conhecimento puramente verbal".

Vikalpah, a imaginação, é o terceiro Vritti citado por Patanjali. Trata-se de ideias sem relação com um objecto real, da nossa capacidade de construirmos situações irreais.
É um pouco o caso do teatro. Se o fazemos sem ter consciência, é uma forma de evasão que nos afasta das realidades da vida. Nada é mais perigoso. Então este Vritti é doloroso. Se o fizermos tendo consciência disso, essa imaginação poder-se-á converter numa ajuda construtiva à criatividade de um artista, por exemplo. Então, a agitação será "não dolorosa".

Georges Stobbaerts, Reflexão sobre Yoga
(comentários aos yoga-sutra de Patanjali)

Nota: vritti - agitação



(...)
Para que a imaginação não se torne evasão será necessário, creio, deixar o ego longe disto tudo. 

Como? 

O processo avança lentamente, mas avança.



postal

Julian Mandel