quarta-feira, julho 31, 2013
terça-feira, julho 30, 2013
resolve fugir
noah kalina
Júlia está sentada na cama. A janela aberta faz
entrar a luz nocturna da cidade, o vento ondula a cortina velha do quarto de
João. Ele adormeceu, como sempre, depois do sexo. Júlia procura as cuecas, as
calças e a t-shirt no chão do quarto. Veste-se devagar para não o
acordar. Onde estão os brincos? Procura-os na mesa-de-cabeceira, debaixo da
cama, na cómoda… Os brincos da Mamã, não posso perder… e finalmente, no chão da
casa de banho, ao levantar as calças de João, um brilho de pérolas, Como raio
foram parar ali?
Júlia põe os brincos, ajeita o cabelo frente ao espelho,
lava a cara.
Nesta fase Júlia tem 21 anos, o cabelo curto, espetado, assimétrico,
levemente punk, pintado de preto - Júlia é loira. Tem um piercing na língua e
uma tatuagem de marinheiro no ombro esquerdo
- um coração vintage com a inscrição “amor de mãe” - que João
detesta. É vulgar, diz ele. Não mais
vulgar que um golfinho ou uma borboleta, contestou Júlia, orgulhosa por ter a
coragem de tatuar a coisa mais feia que encontrou. Fez de propósito, claro.
Aliás, Júlia tem feito tudo para se tornar feia, para contrariar a ideia de
princesinha loira. As roupas são o dobro do seu tamanho, calças de militar,
t-shirts velhas.
João dorme e ela sai sem que ele se aperceba. Júlia nunca
dorme com os homens com quem fode, mas João é o único que sabe disso e não se
importa.
Lá fora, acende um cigarro. Quem a visse pensaria ser um
homem. Entra no Jeep e segue para casa. Merda, são 4 da manhã, o que é que o
Papá está a fazer acordado? - Ao ver luz na janela do salão. Hesita entre voltar
para o quarto de João ou entrar em casa e ter “aquela conversa” com o pai. Abre
a janela do Jeep e fuma mais um cigarro. Resolve fugir.
São 7 da manhã. Júlia percorreu a cidade, entrou numa
discoteca, bebeu cerveja, dançou, voltou a sair, andou outra vez às voltas pela
cidade, parou numa estação de serviço para comprar tabaco e antes de voltar
para o Jeep, foi à caixa automática. Tinha dinheiro suficiente para fazer uma
loucura. Naquela conta o pai não podia mexer, como fez das outras vezes.
Atestou e partiu.
quarta-feira, julho 17, 2013
"escarafunchar a ferida"
Adriana Varejão
... porque insistimos sempre em escarafunchar a ferida?
de repente, mas nunca sem razão, qualquer coisa "arde" dentro da pele e precisamos destapar a crosta que cicatriza a dor, a insegurança, o medo; olhar de frente o sangue, e como num abismo deixamos-nos cair no rasgão aberto na pele.
mas de nada serve escarafunchar a ferida. parecendo aliviar uma necessidade qualquer, só adia a cicatrização que já tínhamos iniciado.
quinta-feira, julho 11, 2013
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