segunda-feira, dezembro 29, 2008
Na outra colina
"Na outra colina, do lado de lá do ver,
é que os sonhos pastam.
Na outra colina, do lado de cá do ver
é que os anos passam."
(obrigada, querido amigo.)
segunda-feira, dezembro 22, 2008
quarta-feira, dezembro 17, 2008
terça-feira, dezembro 16, 2008
a cobra e o pirilampo
"Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo. Ele fugia com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia. Um dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- Porque não suporto ver-te brilhar!"
(autor desconhecido)
segunda-feira, dezembro 15, 2008
working class girl
"quando as coisas não estão bem, podem sempre ficar pior..."
ou
"quem se lixa é o mexilhão"
ou
"a vida é uma pilha de pratos a cairem ao chão"
(A. Lobo Antunes)
ou
não haverá por aí um homem rico que me queira sustentar por uns meses?
ou
os momentos de crise (e de "filhadaputice" descarada...) também são de oportunidade, dizem...
a ver onde está a minha (quem sabe nossa, camaradas!) oportunidade... ou se a crio/ criamos...
pois que, da crise já andamos todos fartos...
PS: valha-nos o Senhor Ganesha, o removedor de obstáculos, que nem de propósito apareceu aqui ao lado! se quiserem saber o simbolismo e a história deste deus hindu com cabeça de elefante é só clicar na imagem.
segunda-feira, dezembro 08, 2008
feriado
o sol apareceu por algumas horas
e a roupa pendurada no estendal há uma semana,
o cheiro da humidade já entranhado,
parece finalmente estar seca
acordei tarde e estranhamente com calor
depois de tantos dias gelados
que pediam sempre mais tempo na cama para aquecer
e esquecer o escuro que as nuvens baixas e a chuva constante
deixam na rua e em mim
foi boa a noite de ontem
vinho, conversa, boa comida e amigos
era tudo o que precisava para me manter presente
e esquecer a “coisa mais estúpida que podia ter feito”
com a qual me auto-flagelei durante horas
passo pelas duas árvores que marcam o início da minha rua
no chão as folhas que os funcionários da câmara se esqueceram de levar
formam uma papa castanha e amarela, quase terra
ali ao lado, atrás do pavilhão, charcos de água reflectem o céu
tivesse eu 5 anos e galochas, e ia para lá chapinhar sonhos
a minha casa ainda cheira aos fritos do almoço,
experiências com mau resultado,
post-its e listas de tarefas chamam-me da preguiça
a impressora voltou a funcionar,
talvez fosse mesmo mau contacto dos cabos
devia ter vindo escrever isto logo que cheguei a casa,
mas resolvi lanchar o resto do bolo rei com chá de canela,
agora já me esqueci da frase inteligente com que ia acabar
não era nada disto, mas esta também serve:
todas as segundas feiras deviam ser feriado.
sábado, dezembro 06, 2008
viver sempre também cansa
"Viver sempre também cansa.
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! Se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre a almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velarias, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com o teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo..."
José Gomes Ferreira
sexta-feira, dezembro 05, 2008
não escondas
não escondas
as mãos o riso o pão
a vida pulsa
não escondas
a lua o pensamento a vaga a tua mão
fica aqui
neste silêncio na paz
de nada saber
de nada ser além disto
aqui no silêncio
das mãos
da vida
do pão
não te escondas
do silêncio,
(no silêncio)
não partas
é preciso ser
aqui e agora
é preciso
ficar
para lembrar
para ser mais humano
para amar
é preciso deixar que o pensamento
fique aqui
aqui em mim
e em ti
sem partidas
sem regressos
só
aqui
aqui
aqui
fica
por favor
em silêncio
não digas nada
mas não te escondas
deixa que
o amor
sim o amor
te encontre
aqui
para além
das montanhas
das montanhas
do céu
das mãos
as tuas mãos
as minhas mãos
aqui
aqui aqui aqui aqui
em silêncio
silêncio
não te escondas
sexta-feira, novembro 28, 2008
como derreter completamente
When you wish upon a star
Makes no difference who you are
Anything your heart desires
Will come to you
If your heart is in your dream
No request is too extreme
When you wish upon a star
Like dreamers do
Fate is kind
She brings to those who love
The sweet fulfillment of
Their secret losing
Like a bolt out of the blue
Fate steps in and pulls you through
When you wish upon a star
Your dream comes true
(que vontade de acreditar que tudo pode ser assim tão simples e mágico!)
quinta-feira, novembro 27, 2008
terça-feira, novembro 25, 2008
segunda-feira, novembro 24, 2008
encontros casuais (2)
quinta-feira, novembro 20, 2008
encontros casuais
quarta-feira, novembro 19, 2008
mein herr
Liza Minnelli, em "Cabaret"
(disseram-lhe um dia que era parecida com a liza minnelli. foi assim que a reconheci, tantos anos depois. espero que diga adeus a todos os "herr" que deseja afastar e que siga em frente!)
sexta-feira, novembro 14, 2008
desapego
- Você fez uma longa viagem para me visitar e não deveria retornar de mãos vazias. Por favor fique com as minhas roupas como um presente.
O ladrão ficou perplexo. Rindo de troça, ele pegou nas roupas e esgueirou-se para fora.
Ryokan sentou-se nu, olhando a lua:
- Pobre coitado, gostaria de poder dar-lhe esta bela lua.
terça-feira, novembro 11, 2008
quinta-feira, novembro 06, 2008
quarta-feira, novembro 05, 2008
uma frase, uma pausa e uma conclusão.
"Só as crianças adoptadas são felizes.
(pausa)
Para bem delas, na maior parte dos casos, são adoptadas pelos pais biológicos".
Dr. Laborinho Lúcio
(frase proferida em conferência sobre violência familiar, 4 de Novembro de 2008)
terça-feira, novembro 04, 2008
vida
“Vamos na jangada. Já estamos tão habituados que nem reparamos (é mesmo assim!).
Antes de nascer o bebé, o Paulo Eduardo, era pior: havia sempre o receio por esse desconhecido, cuja cara não víamos, escondida como estava na barrica barriga da mãe, e não sabíamos quem era e como era e o que queria. Talvez um inimigo. Talvez um diferente de nós. Talvez um descontente. Um intruso. Ele só dava sinais (aliás, incompreensíveis, para quem não tiver grande prática) através dumas palpitações, remexidelas, cambalhotas, pontapés no escuro (longa noite primeira, o denso mar original), cabeçadas sob a pele de tambor esticada do odre materno. Mas apareceu e já estamos mais sossegados. Não é um estranho nem um inimigo. É um bebé, apenas um bebé. Um igual a tantos, ao que já fomos, e chora e borra e mija e mama como todos os bebés. Mama como quem está a puxar a vida do corpo da mãe, vida quente e docinha, tão fácil! tão gulosa!, para dentro dele. Caga e mija como quem ri do mundo, do muito que nele há para a gente rir, misérias e tristezas, aleluias e horas de prazer, que tudo vale o mesmo e tudo é o mesmo fumo e tem o mesmo fim. Chora como quem já sabe isso.”
Luís Pacheco, "Comunidade"
sábado, novembro 01, 2008
para não me esquecer:
"Não ames a ideia que tens das coisas".
(tento arduamente fazer por isso! obrigada!)
quinta-feira, outubro 30, 2008
terça-feira, outubro 28, 2008
sexta-feira, outubro 24, 2008
não sei se respondo ou se pergunto
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
António Ramos Rosa
(é muito, muito bonito. obrigada!)
quinta-feira, outubro 23, 2008
retrato de mónica
"De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.
A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias."
excerto de "Retrato de Mónica", Sophia de Mello Breyner Andersen
segunda-feira, outubro 20, 2008
paisagem
queria pôr aqui uma paisagem
um mar imenso e sem ondas
um deserto infinito
ou só o vazio das minhas mãos
(lembrei-me de satie, não sei porquê, está aí ao lado para quem quiser ouvir)
sexta-feira, outubro 17, 2008
o espelho
Assim como falham as palavras quando queremos exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando queremos pensar qualquer realidade.
(...)
"O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo."
Alberto Caeiro
(partiu-se um espelho. a culpa foi minha, que o coloquei na parede mesmo sabendo quão frágil era o suporte. partiu-se. entrei em casa e milhares de pedacinhos brilhantes no chão, todos reflectindo a minha estupidez. fiquei a pensar nos sete anos de azar... eu não sou supersticiosa, pero que las hay, las hay... mas merda... há que refazer caminho, outra e outra e outra vez. até acertar. comprar outro espelho, mais resistente, e desta vez pedir ajuda para o pendurar...)
quarta-feira, outubro 15, 2008
à tardinha
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços.
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas de um beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca, 1930, Charneca em Flor
segunda-feira, outubro 13, 2008
my favorite things
Bright copper kettles and warm woolen mittens
Brown paper packages tied up with strings
These are a few of my favorite things
Cream colored ponies and crisp apple streudels
Doorbells and sleigh bells and schnitzel with noodles
Wild geese that fly with the moon on their wings
These are a few of my favorite things
Girls in white dresses with blue satin sashes
Snowflakes that stay on my nose and eyelashes
Silver white winters that melt into springs
These are a few of my favorite things
When the dog bites
When the bee stings
When I'm feeling sad
I simply remember my favorite things
And then I don't feel so bad
"The Sound of Music"
quarta-feira, outubro 08, 2008
message personnel
Isabelle Hupert, no filme "8 mulheres"
Au bout du téléphone, il y a votre voix
Et il y a des mots que je ne dirai pas
Tous ces mots qui font peur quand ils ne font pas rire
Qui sont dans trop de films, de chansons et de livres
Je voudrais vous les dire
Et je voudrais les vivre
Je ne le ferai pas,
Je veux, je ne peux pas
Je suis seule à crever, et je sais où vous êtes
J'arrive, attendez-moi, nous allons nous connaître
Préparez votre temps, pour vous j'ai tout le mien
Je voudrais arriver, je reste, je me déteste
Je n'arriverai pas,
Je veux, je ne peux pas
Je devrais vous parler,
Je devrais arriver
Ou je devrais dormir
J'ai peur que tu sois sourd
J'ai peur que tu sois lâche
J'ai peur d'être indiscrète
Je ne peux pas vous dire que je t'aime peut-être
Mais si tu crois un jour que tu m'aimes
Ne crois pas que tes souvenirs me gênent
Et cours, cours jusqu'à perdre haleine
Viens me retrouver
Si tu crois un jour que tu m'aimes
Et si ce jour-là tu as de la peine
A trouver où tous ces chemins te mènent
Viens me retrouver
Si le dégoût de la vie vient en toi
Si la paresse de la vie
S'installe en toi
Pense à moi
Pense à moi
Mais si tu crois un jour que tu m'aimes
Ne le considère pas comme un problème
Et cours, cours jusqu'à perdre haleine
Viens me retrouver
Si tu crois un jour que tu m'aimes
N'attends pas un jour, pas une semaine
Car tu ne sais pas où la vie t'emmène
Viens me retrouver
Si le dégoût de la vie vient en toi
Si la paresse de la vie
S'installe en toi
Pense à moi
Pense à moi.
Mais si tu...
Françoise Hardy
domingo, outubro 05, 2008
lição de fotografia
"Sabes que esta merda da vida é como a profundidade de campo na fotografia. Aberturas grandes, pouca profundidade de campo; aberturas pequenas, maior pdc. Maior profundidade de campo, equivale a uma maior zona de nitidez na imagem. Ou seja: focas algo, e o que está para além também fica nítido. Mas... mas... a nítidez é aparente.
Pois na realidade, numa imagem só há um ponto focado... o resto é nítidez aparente. Maior ou menor.
Enquanto não te entregares, enquanto tiveres medo de abraçar, com força, o teu círculo de confusão, a sua dimensão, fará com que tudo pareça desfocado, longe, inseguro. Um dia vais ter uma abertura pequenina, e vais ver que a luz, a que consegue passar, forma uma imagem muito mais nítida."
(....) "Caso contrário, dispersas... não te focas... vais-te passeando sem querer deixar marca..."
A.
(obrigada por me dizeres sempre o que eu precisava ouvir!)
terça-feira, setembro 30, 2008
paul newman
Paul Newman e Elizabeth Taylor em "Gata em telhado de zinco quente"
Paul Newman e Robert Redford em "Butch Cassidy and the Sundance Kid"
o paul newman não era só um bom actor. era um homem bom.
morreu dia 26 de setembro, com 83 anos.
domingo, setembro 28, 2008
vindimas
http://www.terrasdemosto.blogspot.com/
as "I Vindimas Épicas" foram um sucesso!
a organização está já a aceitar inscrições para o próximo ano!
quinta-feira, setembro 25, 2008
quarta-feira, setembro 24, 2008
domingo, setembro 21, 2008
espera
domingo, setembro 14, 2008
my blueberry nights
"it wasn't so hard to cross that street, after all. But all depends on who's waiting for you on the other side".
"My blueberry nights", de Wong Kar Way
quinta-feira, setembro 11, 2008
corpo
Yves Klein, Anthropometrie
No princípio do corpo, era o corpo
E o corpo ocupava o tempo
No princípio do tempo
O corpo era o corpo
E o tempo soprava dentro
Do corpo
A volúpia do corpo e o nojo do corpo
O corpo antes do corpo
O pó, a matéria, a morte
O cheiro antes do acordar dos olhos
O tacto antes do acender do paladar
O paladar antes do tremer dos sons
Sentidos sem sentido no corpo
Que é vacum ainda antes de o ser
Na sopa das células
No caldo da vida
A centelha que procura a massa
A alma que se faz matéria
O espírito que se faz humano
A vida que se faz morte
A eternidade que abdica de ser
Para viver tudo, por inteiro, ter todas as experiências
Ser, como um actor que se mascara e traveste,
Ter todas as caras, todos os sexos, todo o amor e todo o ódio
Ser o total e infinito no meio do nada,
Profundo, vacum
Por isso o corpo, no princípio, o verbo, a carne
A vida que se materializa porque aceita a sua morte.
Assim como no início, regressemos ao corpo
Façamo-nos verbo, materializemos o sonho
A centelha da vida no corpo
Celebremos o corpo, o cheiro que nos une
O paladar e o tacto que provam o corpo
O olhar que o vê e transforma em desejo,
O som que nos desequilibra na dança do corpo
Como no início
Sejamos corpo no corpo
Tempo no tempo
Vida e morte
Num único e maravilhoso instante.
5-12-05
excertos de "Korper", de Sasha Waltz
segunda-feira, setembro 08, 2008
sexta-feira, setembro 05, 2008
terça-feira, setembro 02, 2008
Mude
Porque a direcção é mais importante, que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois. Mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente,
Observando com atenção, os lugares por onde você passa.
Tome outro ônibus.
Mude por uns tempos o estilo de roupas.
Dê os seus sapatos velhos, procure andar descalço algum dia.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia
Ou no parque e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos.
Escolha comidas diferentes. Novos temperos, novas cores,
Novas delícias.
Almoce em outros locais, compre pão em outras padarias.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado….outra marca de sabonete, outro creme dental....
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores, vá passear em outros lugares,
Ame muito, cada vez mais.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as, seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
Longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas, troque novamente, MUDE, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores
Do que as já conhecidas, mas não é isso que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda."
Clarice Lispector
(obrigada!)
sexta-feira, agosto 22, 2008
Persona (preparação para o silêncio)
reduzir a persona (o ego).
deixar vir o que não é condicionado,
o que brilha por trás e não tem medo.
as redomas partem-se.
as distâncias ultrapassam-se.
as máscaras caem.
não há separação.
o medo dilui-se e dá lugar ao amor.
ao espelho a persona.
dentro eu (o self)
descruzar os braços do pensamento.
(não há passado)
17-06-08
(até para a semana)
quinta-feira, agosto 07, 2008
terça-feira, agosto 05, 2008
quinta-feira, julho 31, 2008
massagens
shiatsu:
ayurvedica:
californiana:
a única que já experimentei a sério foi a shiatsu, mas as outras não perdem por esperar!
claro que algumas podem acabar "muito mal":
domingo, julho 27, 2008
festa
quinta-feira, julho 24, 2008
a máquina de café
B – Não sei… é perigoso…
A – Não há perigo algum. É agora ou nunca. Não vou passar o resto da investigação a ouvir este monstro a zurrar cada vez que alguém quer uma bica.
Ó pá, aquilo ontem foi só um risquinho de nada no pára-choques, já disse que te pago quando receber.
B – Não disse nada…
A – Esse olhar diz tudo. Shiu! ouves? Alguém atendeu o telefone do Gabinete 19… Merda, parece que afinal não somos os únicos aqui dentro…
Quando vivia em Dresden tinha uma cópia das chaves do carro numa lata em cima da minha secretária. Um dia apareceu-me à porta de casa um chinês com as chaves do meu carro na mão. Nunca percebi o que aconteceu… Ouves alguma coisa desse lado?
B – Nada.
A – Parece que… sim, estão a divagar sobre a importância do espaço e da falta dele para a apropriação dos bens culturais disseminados de forma unívoca pela cultura de massas e a sua correlação com a info-exclusão cultural e… Vá lá, tu pegas aí desse lado e eu pego deste, só tenho de desligar a ficha e tirar o depósito das borras e livrarmo-nos deste monstro para sempre.
B – O que é que te aconteceu à orelha?
A – Ah? Isto…eh… não foi nada… a Jacinta, sabes como é… E se me ajudasses aqui, ah? Esta porcaria ainda é pesada.
A janela era mesmo atrás da secretária, as chaves devem ter caído, não sei como… Agora o que nunca percebi é como é que o raio do chinês soube que as chaves eram minhas… naquela altura havia milhares de “Trabis” em Dresden…
Eu sei que o carro é novo, mas não vou accionar o seguro por um risquinho de nada, daqui a dias já te pago.
B – Chau.
A – Ei, espera aí, então e a máquina?
(texto escrito no curso "práticas contemporâneas da performance - divising", no Centro de Estudos Sociais).
segunda-feira, julho 21, 2008
sábado, julho 19, 2008
sexta-feira, julho 18, 2008
quarta-feira, julho 09, 2008
la princesse insensible
La fille du roi encore une fois
dans son théâtre va s’ennuyer
Car l’amuser est impossible
rien n'intéresse la princesse insensible
Les plus doués ont tout tenté
même c’est en vain pour le d'évince
Vive le prince irrésistible
qui intéresse la princesse insensible.
terça-feira, julho 01, 2008
para ler no verão
Gregory David Roberts, "Shantaram"
sexta-feira, junho 27, 2008
"sophia"
amanhã e domingo no pinhal das artes, em s. pedro do moel
http://www.projectovideolab.blogspot.com/
as gaivotas
http://asgaivotas.blogspot.com/
(hoje às 22h no Pátio da Inquisição, sábado e domingo às 18h no parque verde)
terça-feira, junho 24, 2008
terça-feira, junho 17, 2008
domingo, junho 08, 2008
segunda-feira, junho 02, 2008
hamlet
este senhor vai fazer o Hamlet, encenado pelo Kenneth Branagh numa produção do "Donmar Warehouse", em 2009.
vou começar já a poupar uns cobres e a convencer umas quantas pessoas a regressar a Londres!
aliás, a temporada de 2009 do Donmar é tão boa, que o melhor seria ficar lá o ano todo.
sexta-feira, maio 23, 2008
sexta-feira, maio 16, 2008
canções e momentos
Há canções e há momentos
Eu não sei como explicar
Em que a voz é um instrumento
Que eu não posso controlar
Ela vai ao infinito
Ela amarra todos nós
E é um só sentimento
Na platéia e na voz
Há canções e há momentos
Em que a voz vem da raiz
Eu não sei se quando triste
Ou se quando sou feliz
Eu só sei que há momentos
Que se casa com canção
De fazer tal casamento
Vive a minha profissão
quarta-feira, maio 14, 2008
mergulho
o céu excessivamente azul, o sol a ser milhares de brilhos na água.
domingo de manhã no parque ao sol, entre pais divorciados a passear as crianças e quarentonas de fato de treino, vi aqueles dois, ela as mãos na cara, ele a olhar os cartazes “arrenda-se” nos prédios ao longe.
não encontro o momento nem o lugar para me transformar, não pertenço a nada nem a ninguém, se calhar nem a mim, olho o rio e apetece-me dizer ou melhor gritar, o que quiserem, façam o que quiserem, merda, porque os Himalaias são longe, tão longe como eu, tão cheia de imagens e memórias e palavras
sempre entre o mergulho e a superfície, a inventar vidas, a mentir, a levar-me para outro sítio, eu a fazer de conta, a olhar e inventar, não acreditem em nada, só nas mãos que teclam, só nas mãos que tocam, só nas mãos que abrem
Superfície, mergulho, superfície.
sexta-feira, maio 02, 2008
shine on you crazy diamond
Remember when you were young, you shone like the sun.
Shine on you crazy diamond.
Now there's a look in your eyes, like black holes in the sky.
Shine on you crazy diamond.
You were caught on the crossfire of childhood and stardom,
blown on the steel breeze.
Come on you target for faraway laughter,
come on you stranger, you legend, you martyr, and shine!
You reached for the secret too soon, you cried for the moon.
Shine on you crazy diamond.
Threatened by shadows at night, and exposed in the light.
Shine on you crazy diamond.
rode on the steel breeze.
Come on you raver, you seer of visions,
come on you painter, you piper, you prisoner, and shine!
Nobody knows where you are, how near or how far.
Shine on you crazy diamond.
Pile on many more layers and I'll be joining you there.
Shine on you crazy diamond.
And we'll bask in the shadow of yesterday's triumph,
sail on the steel breeze.
Come on you boy child, you winner and loser,
come on you miner for truth and delusion, and shine
domingo, abril 27, 2008
invisível
está escuro e não sei
o silêncio e a porta que não abri
onde estavas tu e a tua mão aberta
ao desejo invisível do corpo
aqui há arvores e sonhos e nuvens e pessoas
perdida invisível em mim não sei
talvez caída atirada perdida numa vala
o abismo que não vi invisível e perdida
nas ruas não me perco mas em mim
não nos pensamentos mas na vida
perdida que não vai por onde a guio
não vai não vai não vai
invisível onde os sonhos fugitivos e escuros
estou perdida e não me vês amor perdida
no escuro não me perco mas em mim
e nas ruas eu perdi e perderam-me
e eu invisível de mim não sei mais não sei mais
o escuro e o meu corpo e o escuro
nas tuas mãos nem o amor invisível
e eu perdida perdida perdida
não sei por onde ando
mas deve ser por aqui dizem
que encontro as tuas mãos invisíveis
onde não me perco mas em mim
quinta-feira, abril 24, 2008
domingo, abril 20, 2008
o sabor da cereja (3)
há já algum tempo que queria por aqui este conto do Miguel Torga. para ler mais é só clicar e procurar os "destinos". obrigada, marta!
sábado, abril 19, 2008
dois poemas para uma tarde (triste) de chuva
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes
Amar!
Eu quero amar, amar, perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... Além...
Mais Este e Aquele, o Outro e a toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saibe perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca
segunda-feira, abril 14, 2008
and now, for something completly different (5)
Ela - Essa tua mania de dividir as pessoas em duas categorias: pobres e ricos, bons e maus, os de cá e os de lá, os que gostam de futebol e os que gostam de rugby, os que bebem chá e os que bebem café…
Ele - Ah! Esse é o ponto!
Ela - (atordoada) O quê?
Ele - Os que bebem chá e os que bebem café! Repara: se pensarmos bem todas as pessoas se dividem nestes dois grupos, por exemplo…
Ela – Nonsense! Olha para mim, tanto bebo chá como café!
Ele - Tu és uma bebedora de café e eu sou um bebedor de chá. Embora ambos façamos pontuais cedências à outra bebida, há sempre uma que....
Ela - Não posso concordar. Mais uma vez colocas barreiras entre as coisas. “Existe uma infindável gama…
Ele - “… de cinzentos entre o preto e o branco”, eu sei… estás sempre a dize-lo.
Ela - Porque é verdade.
Ele - Não para mim.
(silêncio)
Ele - Mais chá?
Ela -Sim obrigada.
quarta-feira, abril 09, 2008
terça-feira, abril 08, 2008
cansa-me
Enfim, só para desabafar:
cansa-me a altivez e superioridade moral com que algumas pessoas falam “só porque” passaram ou não por determinadas experiências. Como se isso lhes desse autoridade para falar “de alto” aos outros que não viveram nem sentiram as mesmas coisas que eles. Às vezes até falam com uma falsa empatia ou condescendência; sempre com “muito conhecimento de causa”: e quase sempre sem sequer se aperceberem do quanto estão a julgar os outros. (contra mim falo)
Lembra-me aquela história que vivi:
quando o centro da cidade estava diariamente invadido por “vendedores/angariadores” de uma determinada instituição de toxicodependentes, e eu todos os dias passava obrigatoriamente por eles, um dia desviei, como milhares de pessoas, o percurso para não ter de ser abordada pela centésima-milionésima vez. Uma das “angariadoras” vendo que eu me afastava deliberadamente do seu “posto”, virou-se para mim e “atirou-me” do alto da sua “superioridade moral de toxicodependente coitadinha de mim que já passei por muito e agora estou a ressacar e se não me dão nada vou ter de roubar”, esta maravilha das maravilhas das pragas: “havias era de apanhar a sida”.
Normalmente teria seguido o meu caminho e lançado manguitos invisíveis para a “angariadora” (esta dos manguitos invisíveis vi uma vez numa reportagem sobre o Vasco Santana. Acho que era o Vasco Santana…). Mas resolvi voltar atrás e da minha “superioridade moral de quem sabe e conhece as misérias do mundo porque trabalho com elas”, encetei (gosto desta palavra, parece sempre que vou abrir uma caixa de bolachas sortido) uma conversa com a moça: disse-lhe que o que me tinha desejado era horrível, e que não devia julgar porque não sabe nada da vida dos outros, que há mais pessoas na vida com problemas além dela, que todos nós transportamos connosco as nossas tragédias e lá porque andamos mais bem vestidos, ou de cara alegre ou não andamos a “angariar” dinheiro para “sair da droga” isso não dá aos outros direito de nos julgar, e blá-blá-blá, blá-blá-blá, etecetera-e-tal. Veio uma “angariadora-chefe” salvar a outra dos meus argumentos, e salvar-me a mim dos meus argumentos…
Pronto, no fundo o que eu queria dizer, assim a jeito de aviso, para quem resolver andar p’raí a atirar-me com “não sabes porque não passaste por isto assim- assim” ou “quando passares por isto é que vais ver”, é que, pá!, não se admirem se eu lhes começar a falar de repente no Vasco Santana, tipo, contar uma cena do “Pai Tirano”ou começar a cantar o “Fado do Vasquinho da anatomia”: é que estou a fazer como ele, a abrir a gaveta dos manguitos invisíveis e a deixá-los sair.
(podem fazer-me o mesmo se for eu a franco-atiradora de juízos morais.)
..........................................
porque, no fundo:
as minhas experiências são apenas as minhas experiências;
aquilo pelo que os outros passam é apenas aquilo pelo que os outros passam;
nem mais.
nem menos.
nem eu terei nunca acesso ao que os outros experimentam, por mais empatia que tenha, ou mesmo que até venha a passar por coisas idênticas;
nem os outros saberão se as experiências pelas quais passaram, terão ou teriam os mesmos efeitos em mim ou nas outras pessoas.
nem as minhas pessoalíssimas experiências, por melhor que eu as comunique, partilhe, ou até as viva em conjunto com outros, deixarão de ser as minhas pessoalíssimas experiências.
sexta-feira, março 28, 2008
quinta-feira, março 27, 2008
quinta-feira, março 20, 2008
quarta-feira, março 19, 2008
quarta-feira, março 12, 2008
segunda-feira, março 10, 2008
quarta-feira, março 05, 2008
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
canção de embalar
(talasnal, 2008)
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
segunda-feira, fevereiro 11, 2008
lorca (2)
(Aparece la NOVIA. Viene sin azahar y con un manto negro.)
VECINA.-(Viendo a la NOVIA con rabia.) ¿Dónde vas?
NOVIA.-Aquí vengo.
MADRE.-(A la vecina.) ¿Quién es?
VECINA.-¿No la reconoces?
MADRE.-Por eso pregunto quién es. Porque tengo que no reconocerla, para no clavarla mis dientes en el cuello. ¡Víbora! (Se dirige hacia la NOVIA con ademán fulminante; se detiene. A la VECINA.) ¿La ves? Está ahí y está llorando, y yo quieta sin arrancarle los ojos. No me entiendo. ¿Será que yo no queria a mi hijo? Pero ¿y su honra? ¿Dónde está su honra? (Golpea a la NOVIA. Esta cae al suelo.)
VECINA-¡Por Dios! (Trata de separarlas.)
NOVIA.-(A la VECINA.) Déjala; he venido para que me mate y que me lleven con ellos. (A la MADRE.)
Pero no con las manos; con garfios de alambre, con una hoz, y con fuerza, hasta que se rompa en mis huesos. ¡Déjala! Que quiero que sepa que yo soy limpia, que estaré loca, pero que me pueden enterrar sin que ningún hombre se haya mirado en la blancura de mis pechos:
MADRE.-Calla, calla; ¿qué me importa eso a mí?
NOVIA.-¡Porque yo me fui con el otro, me fui! (Con angustia.) Tú también te hubieras ido. Yo era una mujer quemada, llena de llagas por dentro y por fuera, y tu hijo era un poquito de agua de la que yo esperaba hijos, tierra, salud; pero el otro era un río oscuro, lleno de ramas, que acercaba a mí el rumor de sus juncos y su cantar entre dientes. Y yo corría con tu hijo que era como un niñito de agua, frío, y el otro me mandaba cientos de pájaros que me impedían el andar y que dejaban escarcha sobre mis heridas de pobre mujer marchita, de muchacha acariciada por el fuego. Yo no quería, ¡óyelo bien!, yo no quería. ¡Tu hijo era mi fin y yo no lo he engañado, pero el brazo del otro me arrastró como un golpe de mar, como la cabezada de un mulo, y me hubiera arrastrado siempre, siempre, siempre, aun que hubiera sido vieja y todos los hijos de tu hijo me hubiesen agarrado de los cabellos. (Entra una vecina.)
MADRE.-Ella no tiene la culpa, ¡ni yo! (Sarcástica.) ¿Quién la tiene, pues? ¡Floja, delicada, mujer de mal dormir es quien tira una corona de azahar para buscar un pedazo de cama calentado por otra mujer!
NOVIA.-¡Calla, calla! Véngate de mí; ¡aquí estoy! Mira que mi cuello es blando; te costará menos trabajo que segar una dalia de tu huerto. Pero ¡eso no! Honrada, honrada como una niña recién nacida. Y fuerte para demostrártelo. Enciende la lumbre. Vamos a meter las manos: tú, por tu hijo; yo, por micuerpo. Las retirarás antes tú. (Entra otra vecina.)
MADRE.-Pero ¿qué me importa a mí tu honradez? ¿Qué me importa tu muerte? ¿Qué me importa a mí nada de nada? Benditos sean los trigos, porque mis hijos están debajo de ellos; bendita sea la lluvia, porque moja la cara de los muertos. Bendito sea Dios, que nos tiende juntos para descansar. (Entra outra vecina.)
NOVIA.-Déjame llorar contigo.
MADRE.-Llora. Pero en la puerta.
Federico Garcia Lorca
lorca (1)
VIEJA. A ver si luego nos dejáis dormir. Pero luego será ella. (Entra Yerma.) ¿Tú? (Yerma está abatida y no habla.) Dime ¿para qué has venido?
YERMA. No sé.
VIEJA. ¿No te convences? ¿Y tu esposo?
(Yerma da muestras de cansancio y de persona a la que una idea fija le oprime la cabeza.)
YERMA. Ahí está.
VIEJA. ¿Qué hace?
YERMA Bebe. (Pausa. Llevándose las manos a la frente) ¡Ay!
VIEJA Ay, ay. Menos ¡ay! y mas alma. Antes no he querido decirte, pero ahora, sí.
YERMA. ¡Y qué me vas a decir que ya no sepa
VIEJA. Lo que ya no se puede callar. Lo que está puesto encima del tejado. La culpa es de tu marido, ¿lo oyes? Me dejaría cortar las manos. Ni su padre, ni su abuelo, ni su bisabuelo se portaron como hombres de casta. Para tener hijo ha sido necesario que se junte el cielo con la tierra. Están hechos con saliva. En cambio, tu gente, no. Tienes hermanos y primos a cien leguas a la redonda. ¡Mira qué maldición ha venido a caer sobre tu hermosura!
YERMA. Una maldición. Un charco de veneno sobre las espigas.
VIEJA. Pero tú tienes pies para marcharte de tu casa.
YERMA ¿Para marcharme?
VIEJA. Cuando te vi en la romería me dio un vuelco el corazón. Aquí vienen las mujeres a conocer hombres nuevos y el Santo hace el milagro. Mi hijo está sentado detrás de la ermita esperándote. Mi casa necesita una mujer. Vete con él y viviremos los tres juntos. Mi hijo sí es de sangre. Como yo. Si entras en mi casa, todavía queda olor de cunas. La ceniza de tu colcha se te volverá pan y sal para las crías. Anda. No te importe la gente. Y, en cuanto a tu marido, hay en mi casa entrañas y herramientas para que no cruce siquiera la calle.
YERMA. Calla, calla. ¡Si no es eso! Nunca lo haría. Yo no puedo ir a buscar. ¿Te figuras que puedo conocer otro hombre? ¿Dónde pones mi honra? El agua no se puede volver atrás, ni la luna llena sale a mediodía. Vete. Por el camino que voy seguiré. ¿Has pensado en serio que yo me pueda doblar a otro hombre? ¿Que yo vaya a pedirle lo que es mío como una esclava? Conóceme, para que nunca me hables más. Yo no busco.
VIEJA. Cuando se tiene sed, se agradece el agua.
YERMA. Yo soy como un campo seco donde caben arando mil pares de bueyes, y lo que tú me das es un pequeño vaso de agua de pozo. Lo mío es dolor que ya no está en las carnes.
VIEJA. (Fuerte.) Pues sigue así. Por tu gusto es. Como los cardos del secano. Pinchosa, marchita.
YERMA. (Fuerte.) Marchita sí, ¡ya lo sé! ¡Marchita! No es preciso que me lo refriegues por la boca. No vengas a solazarte, como los niños pequeños en la agonía de un animalito. Desde que me casé estoy dándole vueltas a esta palabra, pero es la primera vez que la oigo, la primera vez que me la dicen en la cara. La primera vez que veo que es verdad.
VIEJA. No me das ninguna lástima, ninguna. Yo buscaré otra mujer para mi hijo.
Federico Garcia Lorca
Estreia dia 13 de Fevereiro, no Museu dos Transportes, em Coimbra, co-produção ESEC/ o Teatrão, encenação de Marco António Rodrigues.
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
terça-feira, fevereiro 05, 2008
quarta-feira, janeiro 30, 2008
sábado, janeiro 26, 2008
amargura
"Não há mais palavras bonitas ou poéticas que digam o que sinto neste momento.
Chega.
Por mais que tente mascarar a realidade fria com beleza, não há estética que me tire esta dor.
Chegamos ao fim, ao mais fundo e frio fim.
Palavra alguma descreve o que me fizeste, o abandono que senti quando mais precisava de ti; nada justifica os teus jogos, os teus movimentos, a forma hábil que encontraste para me destruíres.
Ouvi coisas, vi coisas, senti coisas que nunca devia ter sentido, sim, por tua culpa.
Quis desculpar, quis pensar que sofrerias como eu, e que talvez para ti fosse pior…
Como fui capaz? Devia ter terminado tudo naquele momento em que o ódio tomou conta de nós, em que o respeito que nos devemos se volatilizou e transformou em cólera.
É difícil enfrentar a realidade, não é? A vida é suja, áspera, rude; a vida não é o pequeno paraíso em que te imaginas; ninguém mais do que eu sabe como a vida nos revolve as entranhas e nos transforma em bichos.
E os bichos enfrentam o fim com naturalidade: se for preciso matar para sobreviver, não pensam duas vezes. Os bichos não têm moral.
Agora tudo parece mais claro, mas no auge da dor, tudo se confunde; no cume do sofrimento, queremos a toda a força voltar à felicidade perdida; por isso escondemos o que nos pode atrasar o regresso ao momento antes da crise, quando tudo estava bem. E quando nos apercebemos passaram dias, meses, anos sem que nada tenha mudado. Congelamos a dor, mas não a ultrapassamos."
AVISO: este texto não é auto-biográfico; escrevi-o em 2004, provavelmente inspirada pelas várias tragédias familiares que sou obrigada a conhecer.
quarta-feira, janeiro 23, 2008
domingo, janeiro 20, 2008
sábado, janeiro 19, 2008
sexta-feira, janeiro 18, 2008
quarta-feira, janeiro 16, 2008
domingo, janeiro 13, 2008
Arestas
(...)
Não são as fronteiras do meu corpo que determinam quem eu sou, o que posso fazer e aonde posso ir. São as arestas de toda a gente e de todas as coisas que esculpem as minhas possibilidades.
Estou a falar como um poeta porque... bem... porque estou a evitar falar da aresta imperfeita da minha vida - no entanto, quero falar-lhe dela. Não me deterei naquilo que lhe vou contar. Não vou demorar interminavelmente na periferia. Não vou estar com rodeios, como os poetas costumam fazer. Vou limitar-me a contar-lhe, de chofre.
(...)
Devo, no entanto, adverti-lo de que isto poderá não ser agradável. Aquilo que estou prestes a contar pode ser difícil de escutar. Poderá pensar que é horrível e grotesco. Se for esse o caso, pode desviar o olhar ou fugir - compreenderei. Por vezes não estamos preparados para nos confrontar com coisas desta natureza.
Bem, estou pronta.
... espero um pouco. Está com ar de quem pensa ir embora. Por favor, não fuja tão depressa. Não é assim tão horrível como possa pensar.
(...)
Talves não seja necessário eu contar-lhe. Posso esconder o problema bastante bem. Vou encobrir as arestas. Já o fiz outras vezes. Podemos fingir que nada está diferente. O que acha? Ainda quer que lhe conte?
Quer? Claro que quer! Queremos sempre espreitar o que se encontra do outro lado - não é verdade?
(...)
Está pronto? Tem a certeza? Vou dizer estas palavras e depois desviar o olhar... porque não quero vê-lo fugir. Não quero vê-lo fugir de mim sem sequer olhar para trás. Espero, sinceramente, que quando deixar de esconder os meus olhos e a minha vergonha, ainda aqui o encontre.
Vou dize-lo agora.
Só tenho duas patas."
"À procura de Firebelly", J.C. Michaels