“Vamos na jangada. Já estamos tão habituados que nem reparamos (é mesmo assim!).
Antes de nascer o bebé, o Paulo Eduardo, era pior: havia sempre o receio por esse desconhecido, cuja cara não víamos, escondida como estava na barrica barriga da mãe, e não sabíamos quem era e como era e o que queria. Talvez um inimigo. Talvez um diferente de nós. Talvez um descontente. Um intruso. Ele só dava sinais (aliás, incompreensíveis, para quem não tiver grande prática) através dumas palpitações, remexidelas, cambalhotas, pontapés no escuro (longa noite primeira, o denso mar original), cabeçadas sob a pele de tambor esticada do odre materno. Mas apareceu e já estamos mais sossegados. Não é um estranho nem um inimigo. É um bebé, apenas um bebé. Um igual a tantos, ao que já fomos, e chora e borra e mija e mama como todos os bebés. Mama como quem está a puxar a vida do corpo da mãe, vida quente e docinha, tão fácil! tão gulosa!, para dentro dele. Caga e mija como quem ri do mundo, do muito que nele há para a gente rir, misérias e tristezas, aleluias e horas de prazer, que tudo vale o mesmo e tudo é o mesmo fumo e tem o mesmo fim. Chora como quem já sabe isso.”
Luís Pacheco, "Comunidade"
2 comentários:
"Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sereis, se as praticardes."
(se em cada visita filmar duas páginas, num instante está feito...:-)
:-)
não me parece que seja assim tão fácil - filmar duas páginas!
é um texto muito masculino, não sei qual é a tua ideia, mas eu acho que precisamos (também)de um homem para fazer isto!
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