quinta-feira, setembro 11, 2008

corpo



Yves Klein, Anthropometrie



No princípio do corpo, era o corpo
E o corpo ocupava o tempo
No princípio do tempo
O corpo era o corpo
E o tempo soprava dentro
Do corpo

A volúpia do corpo e o nojo do corpo
O corpo antes do corpo
O pó, a matéria, a morte
O cheiro antes do acordar dos olhos
O tacto antes do acender do paladar
O paladar antes do tremer dos sons
Sentidos sem sentido no corpo
Que é vacum ainda antes de o ser
Na sopa das células
No caldo da vida
A centelha que procura a massa
A alma que se faz matéria
O espírito que se faz humano
A vida que se faz morte

A eternidade que abdica de ser
Para viver tudo, por inteiro, ter todas as experiências
Ser, como um actor que se mascara e traveste,
Ter todas as caras, todos os sexos, todo o amor e todo o ódio
Ser o total e infinito no meio do nada,
Profundo, vacum

Por isso o corpo, no princípio, o verbo, a carne
A vida que se materializa porque aceita a sua morte.

Assim como no início, regressemos ao corpo
Façamo-nos verbo, materializemos o sonho
A centelha da vida no corpo
Celebremos o corpo, o cheiro que nos une
O paladar e o tacto que provam o corpo
O olhar que o vê e transforma em desejo,
O som que nos desequilibra na dança do corpo

Como no início
Sejamos corpo no corpo
Tempo no tempo
Vida e morte
Num único e maravilhoso instante.

5-12-05











excertos de "Korper", de Sasha Waltz

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