quinta-feira, março 30, 2006

Winnie the Pooh



You can't stay in your corner of the forest, waiting for others to come to you; you have to go to them sometimes.



The more he looked inside the more Piglet wasn't there.



Some people care too much, I think it's called love.



It is more fun to talk with someone who doesn't use long, difficult words but rather short, easy words like "What about lunch?"


It's always useful to know where a friend-and-relation is, whether you want him or whether you don't.



It's so much more friendly with two.



Rivers know this: there is no hurry. We shall get there some day.




Sometimes, if you stand on the bottom rail of a bridge and lean over to watch the river slipping slowly away beneath you, you will suddenly know everything there is to be known.



When you are a Bear of Very Little Brain, and Think of Things, you find sometimes that a Thing which seemed very Thingish inside you is quite different when it gets out into the open and has other people looking at it.



To the uneducated, an A is just three sticks.



I used to believe in forever, but forever is too good to be true.




http://www.pooh-corner.com/biomilne.html

http://www.pooh-corner.org/


socorro!

tal como prometido, aqui está a belíssima mensagem da Ariane Mnouchkine, para as Comemorações do Dia Mundial do Teatro do ano passado.



Teatro, vem em meu socorro!
Durmo. Acorda-me
Estou perdido na escuridão, guia-me, ao menos para uma vela
Sou preguiçosa, deixa-me envergonhada
Estou fatigada, levanta-me
Estou indiferente, sacode-me
Continuo indiferente, parte-me a cara
Tenho medo, dá-me coragem
Sou ignorante, educa-me
Sou monstruosa, humaniza-me
Sou pretencioso, faz-me morrer de riso
Sou cínica, desmonta o meu jogo
Sou estúpida, transforma-me
Sou má, pune-me
Sou dominadora e cruel, combate-me
Sou pedante, faz troça de mim
Sou ordinária, eleva-me
Sou muda, desfaz-me este nó
Já não sonho, chama-me cobarde ou imbecil
Esqueci-me, lança sobre mim a Memória
Sinto-me velha e seca, faz saltar a Infância
Sou pesado, dá-me a Música
Estou triste, vai buscar a Alegria
Sou surda, com fragor faz gritar o Sofrimento
Estou agitado, faz crescer a Sabedoria
Sou fraca, acende a Amizade
Sou cega, convoca todas as Luzes
Estou refém da Fealdade, faz irromper a Beleza vencedora
Fui recrutado pelo Ódio, dá todas as forças ao Amor.

Autor da Mensagem: Ariane Mnouchkine
Tradução de Eugénia Vasques

http://www.theatre-du-soleil.fr/

quarta-feira, março 29, 2006

vietnam

alguém
que andou por lá
viu uma sósia minha
nestas paisagens

http://www.visualgui.com/motion/BonjourVietnam.html

terça-feira, março 28, 2006

encantos de amor

"Se amor é um encanto,
que inflama
na chama
tirânico ardor,
de ver não me espanto
um peito
desfeito
a encantos de amor."


António José da Silva, o Judeu
Encantos de Medeia

(foi ontem, no TAGV, o espectáculo do Teatro de Marionetas do Porto)

segunda-feira, março 27, 2006

iznogood


lembram-se de Iznogood, o ignóbil, a personagem de Goscinny?
pois é dele que me lembro quando penso no vereador da cultura de coimbra e seus apaniguados...

porque hoje é o dia mundial do teatro

aqui fica a mensagem deste ano, na lingua original do autor
o dramaturgo mexicano Víctor Hugo Rascón Banda.

(como gostei muito da mensagem do ano passado, escrita pela grande Ariane Mnouchkine, vou colocá-la por aqui nos próximos dias).



UN RAYO DE ESPERANZA


Todos los días deben ser días mundiales del teatro, porque en estos 20 siglos, siempre ha estado encendida la llama del teatro en algún rincón de la tierra.

Al teatro, siempre se le ha decretado la muerte, sobretodo con el surgimiento del cine, la televisión y ahora los medios digitales. La tecnología invadió los escenarios y aplastó la dimensión humana, se intentó un teatro plástico, cercano a la pintura en movimiento, que desplazó la palabra. Hubo obras sin palabras, o sin luz o sin actores, sólo maniquíes y muñecos en una instalación con múltiples juegos de luces.

La tecnología intentó convertir al teatro en fuego de artificio o en espectáculo de feria.

Hoy asistimos a la vuelta del actor frente al espectador. Hoy presenciamos el retorno de la palabra sobre el escenario.

El teatro ha renunciado a la comunicación masiva y ha reconocido sus propios límites que le impone la presencia de dos seres frente a sí que se comunican sentimientos, emociones, sueños y esperanzas. El arte escénico está dejando de contar historias para debatir ideas.

El teatro conmueve, ilumina, incomoda, perturba, exalta, revela, provoca, trasgrede. Es una conversación compartida con la sociedad. El teatro es la primera de las artes que se enfrenta con la nada, las sombras y el silencio para que surjan la palabra, el movimiento, las luces y la vida.

El teatro es un hecho vivo que se consume a sí mismo mientras se produce, pero siempre renace de las cenizas. Es una comunicación mágica en la que cada persona da y recibe algo que la transforma.

El teatro refleja la angustia existencial del hombre y desentraña la condición humana.. A través del teatro, no hablan sus creadores, sino la sociedad de su tiempo.

El teatro tiene enemigos visibles, la ausencia de educación artística en la niñez, que impide descubrirlo y gozarlo; la pobreza que invade al mundo, alejando a los espectadores de las butacas y la indiferencia y el desprecio de los gobiernos que deben promoverlo.

En el teatro hablaron los dioses y los hombres, pero ahora el hombre habla a otros hombres. Por eso el teatro tiene que ser más grande y mejor que la vida misma. El teatro es un acto de fe en el valor de una palabra sensata en un mundo demente. Es un acto de fe en los seres humanos que son responsables de su destino.

Hay que vivir el teatro para entender qué nos está pasando, para transmitir el dolor que está en el aire, pero también para vislumbrar un rayo de esperanza en el caos y pesadilla cotidiana.

¡Vivan los oficiantes del rito teatral! ¡Viva el teatro!



O Dia Mundial do Teatro foi criado em 1961 pelo Instituto Internacional do Teatro (ITI). O Dia Mundial do Teatro celabra-se anualmente no dia 27 de Março nos Centros ITI e na comunidade teatral internacional. Organizam-se diversos eventos nacionais e internacionais para assinalar a ocasião.
Um dos mais importantes é a circulação da Mensagem Internacional tradicionalmente escrita por uma personalidade do teatro de renome mundial por convite do Insituto Internacional de Teatro.

http://www.iti-worldwide.org

domingo, março 26, 2006

Respeitem meus cabelos, brancos

Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Com veludo nos tamancos

Cabelo veio da áfrica
Junto com meus santos


Benguelas, zulus, gêges
Rebolos, bundos, bantos
Batuques, toques, mandingas
Danças, tranças, cantos
Respeitem meus cabelos, brancos

Se eu quero pixaim, deixa
Se eu quero enrolar, deixa
Se eu quero colorir, deixa
Se eu quero assanhar, deixa
Deixa, deixa a madeixa balançar


Chico César

sexta-feira, março 24, 2006

o sabor da cereja *

estranha abstinência essa,
a de recusar comer fruta...
nem o suco de uma vulgar maçã,
nem a volúpia das uvas,
nem o sabor da cereja...


por mim, quero provar a vida,
morde-la por inteiro!

(e como me arrependo do que,
por medo e ignorância,
já recusei provar!)


* título de um filme de Abbas Kiorastami

quinta-feira, março 23, 2006

mar

longe
sonhar
imensidão
rochas

longe
tão longe
o sonho

voar
para longe
da praia
do mar
do sonho

entrar na imensidão
acordar aqui
e estar
longe

terça-feira, março 21, 2006

and now, for something completly different

Hoje acordei no meio de um romance de Jane Austen. Não sei como aconteceu, até porque nunca li nada da escritora, com quem apenas contactei via série televisiva.
Acordei numa página, igual a tantas outras, com os caracteres vincados na folha branca, o número da página em baixo ao centro, uma ligeira transparência do papel, o idioma inglês a desfilar aos meus pés, e as personagens femininas todas a correrem desenfreadas atrás de um qualquer galã em traje de época.
Espantada com inesperada e vertiginosa viagem, entrei na corrida com as outras mulheres (só destoava por estar de pijama), mas quando estava quase a alcançar a linha da frente, a centímetros de conseguir tocar num “Mr. Darcy” apavorado, apanhei uma frase a meio, tive de virar a página e caí com algum estrondo no chão, ao lado dos chinelos de quarto.

Agora digam lá se isto não é ter "sensibilidade e bom senso".

Improviso do Amor-Perfeito

Naquela nuvem, naquela,
mando-te o meu pensamento:
que Deus se ocupe do vento.

Os sonhos foram sonhados,
e o padecimento aceito.
E onde estás Amor-Perfeito?

Imensos jardins da insónia,
de um olhar de despedida,
deram flor por toda a vida.

Ai de mim, que sobrevivo
sem o coração no peito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe, atrás do oceano
que nos meus olhos se alteia,
entre pálpebras de areia...

Longe, longe... Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito.

Cecília Meireles

Apresentação

Aqui está minha vida - esta areia tão clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.

Aqui está minha voz - esta concha vazia,
sombra de som curtindo seu próprio lamento.

Aqui está minha dor - este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.

Aqui está minha herança - este mar solitário
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.


Cecília Meireles

Canção de alta noite

Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.

Cecília Meireles

tomai lá poesia!

cecília meireles
para comemorar o dia mundial da poesia:

Sugestão

Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

são miguel



Para a Mariana

segunda-feira, março 20, 2006

I Won't Grow Up

I won't grow up
I don't wanna go to school
Just to learn to be a puppet
And recite a silly rule

If growing up means it would be
Beneath my dignity to climb a tree
I won't grow up, won't grow up, won't grow up
Not me.

I won't grow up
I don't wanna wear a tie
Or a serious expression
In the middle of July

And if it means that I must prepare
To shoulder burdens with a worried air
I'll never grow up, won't grow up, never grow up
So there

Never gonna be a man
I won't!
Like to see somebody try
And make me!
Anyone who wants to try
And make me turn into a man
Catch me if you can

I won't grow up
I don't wanna wear a tie
Or a serious expression
To try to act just like a guy

'Cause growing up's awfuller than
All of the awful things that's ever been
I won't grow up, won't grow up, won't grow up
Again

Growing up's awfuller than
All of the awful thing that's ever been
I won't grow up, never grow up, won't grow up
Again.
Not me.
Not I.


Ricky Lee Jones

bairro norton de matos

domingo, março 19, 2006

A naifa

sala cheia no Museu dos Transportes
para ouvir A Naifa
faz-nos bem
a voz da Maria Antónia Mendes

aqui fica um poema que A Naifa musicou
quem quiser pode ouvir em

http://www.anaifa.com/pt_anaifa.html


Porque me traíste tanto

porque tenho eu
frieiras se nunca tiro as luvas?
porque tenho eu arranhões
se os meus gatos são meigos?
como dizia uma pobre rapariga
que era criada e mal sabia ler
também eu vou dizer
coração partido
pé dormente
vou para a cama
que estou doente
porque me traíste tanto
se os meus gatos são meigos?
porque me traíste tanto
se eu nunca tiro as luvas?

Adília Lopes

quinta-feira, março 16, 2006

sonhos

"We are such stuff
As dreams are made on and our little life
Is rounded with a sleep..."

Shakespeare, The Tempest

http://www.enotes.com/shakespeare-masters/273

quarta-feira, março 15, 2006

Ítaca

Encontrei o autor e o poema no café
www.nocafe.blogspot.com
depois procurei na wikipedia e encontrei esta tradução




Quando começares a tua viagem para Ítaca,
reza para que o caminho seja longo,
cheio de aventura e de conhecimento.
Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon:
Nunca os encontrarás no teu caminho
enquanto mantiveres o teu espírito elevado,
enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo.
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,
a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.

Deseja que o caminho seja bem longo
para que haja muitas manhãs de verão em que,
com quanto prazer, com tanta alegria,
entres em portos que vês pela primeira vez;
Para que possas parar em postos de comércio fenícios
para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar,
e perfumes sensuais de todos os tipos -
tantos quantos puderes encontrar;
e para que possas visitar muitas cidades egípcias
e aprender e continuar sempre a aprender com os seus escolares.

Tem sempre Ítaca na tua mente.
Chegar lá é o teu destino.
Mas não te apresses absolutamente nada na tua viagem.
Será melhor que ela dure muitos anos
para que sejas velho quando chegares à ilha,
rico com tudo o que encontraste no caminho,
sem esperares que Ítaca te traga riquezas.

Ítaca deu-te a tua bela viagem.
Sem ela não terias sequer partido.
Não tem mais nada a dar-te.

E, sábio como te terás tornado,
tão cheio de sabedoria e experiência,
já terás percebido, à chegada, o que significa uma Ítaca.

Kaváfis (1911)

terça-feira, março 14, 2006

difícil é a escolha!

vai o mês a meio e ainda tanta coisa para ver em Coimbra
que difícil será saber o que NÃO ir ver!

Já vi:

Ernesto vs Pedro Renato, no TAGV (morno)

Hushang Djavid e Arsalan Kaveh (música iraniana), no TAGV (revigorante)

"A água dorme de noite", espectáculo do GEFAC, no TAGV (como a cultura popular ainda pode falar)

"Mãe Preta", pela ESTE - Estação Teatral da Beira Interior, no Museu dos Transportes (um dos melhores espectáculos que já vi na vida)

Fiz:
Workshop de Iniciação em Técnica da Máscara, com Nuno Pino Custódio (ESTE), no Teatrão, dias 9, 10 e 11 de março


aqui fica uma mini-agenda do que há...

para ver:

NO TAGV:
www.uc.pt/tagv

Festival Coimbra em Blues, dias 16, 17, 18 de março

Cissoko (música africana), dia 23 de março

"Os encantos de Medeia", pelo Teatro de Marionetas do Porto, dia 27 de março

"Materna Doçura", pelo Trigo Limpo de Tondela, dias 30 e 31 de Março


NO MUSEU DOS TRANSPORTES - Teatrão
"Mês da Consciência Negra"

Celina Pereira (cantora cabo verdiana), dia 16 de Março (já garanti o meu lugar!)

A Naifa, apresentação do album "três minutos antes da maré encher", dia 18 de março (estarei lá!)

"Bão Preto", pela Comuna - Teatro de Pesquisa, dias 25, 26 e 27 de março

E ainda as "terças feiras alternativas" com Cinema (parceria com a Fila K Cineclube):

14 de março: "Far from heaven", de Todd Haynes

28 de março: "Guess who's coming do dinner", de Stanley Kramer

Mais a conversa (em parceria com Fórum das Associações de Estudantes e Investigadores das CPLP de Coimbra) com a Diana Andringa em torno do vídeo "Era uma vez um arrastão", sobre o "arrastão" na praia de Carcavelos, no dia 26 de março

para fazer:

Para terminar em beleza há ainda a segunda sessão da Semana (d)ança, com a bailarina Vânia Gala, organizada pelo TAGV, nos dias 31 de março, 1 e 2 de abril.


Sem falar nas "palestras com sabores", na Galeria Santa Clara, em organização conjunta de da Galeria, do Videolab, Associação de Antigos Alunos da ARCA e Editora Ariadne, que amanhã nos dão uma Amostra http://amostra.mgoffline.com
(ainda não consegui ir às palestras, mas tenho a certeza que os sabores estão a ser bons!)

www.galeriasantaclara.com
www.videolab.ath.cx
http://aaaarca.planetaclix.pt
http://www.ariadne-editora.com/

segunda-feira, março 13, 2006

eu e o outro

“Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.”



Mário de Sá Carneiro
Lisboa, Fevereiro de 1914

sexta-feira, março 10, 2006

"uma máquina de escrever cartas de amor"

Rua do Sena

Rua do Sena dez e meia
da noite
homem titubeia…um homem jovem
com chapéu
capa de chuva
uma mulher sacode-o…
ela sacode-o
e fala com ele
e ele sacode a cabeça
com o chapéu a cair
e o chapéu da mulher já está quase a cair para trás
estão muito pálidos os dois
o homem na certa tem vontade de partir
de desaparecer… de morrer…
mas a mulher tem uma vontade furiosa de viver
e a sua voz
a sua voz que murmura
não se chega a ouvi-la
é um lamento…
uma ordem…
um grito…
de tal modo ávida é a voz…
e triste…
e viva…
um recém-nascido doente que tirita de frio num túmulo
de um cemitério de Inverno…
o grito de uma pessoa com os dedos presos na porta…
uma canção
uma frase
sempre a mesma
uma frase
repetida…
sem parar
sem resposta…
o homem olha-a nos olhos que se desviam
faz gestos com os braços
como um afogado
e a frase volta
na rua do Sena na esquina com uma outra rua
a mulher continua
sem se cansar…
continua com a pergunta inquieta
ferida impossível de curar
Pedro diz-me a verdade
Diz-me a verdade Pedro
quero saber de tudo
diz-me a verdade…
o chapéu da mulher cai
Pedro quero saber de tudo
diz-me a verdade…
pergunta estúpida e grandiosa
Pedro não sabe o que responder
está perdido
aquele que é chamado de Pedro…
traz um sorriso que talvez quisesse gentil
e repete
Vamos, acalma-te estás louca
mal sabe ele que acertou no alvo
mas ele não vê
não pode ver como
a sua boca de homem está torta pelo sorriso…
sente-se abafado
o mundo deita-se em cima dele
e abafa-o
é prisioneiro
encurralado pelas suas promessas…
querem acertar as contas com ele…
frente a frente…
uma máquina de calcular
uma máquina de escrever cartas de amor
uma máquina de sofrer
toma conta dele…
agarra-se a ele…
Pedro diz-me a verdade Pedro.

Jacques Prévert

quarta-feira, março 08, 2006

Had I the heavens..

"Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet.

But I, being poor, have only my dreams.
I have spread my dreams under your feet,
Tread softly because you tread on my dreams."


W.B.Yeats

Mulheres de Atenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas

Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

guardam-se pros seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas

E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas, obcenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas

Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas



Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não tem gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
nas suas novenas serenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Chico Buarque

segunda-feira, março 06, 2006

the sound of silence


no final dos anos 80
foi este o primeiro cd
(ou o da barbra streisand?)
que inaugurou a pioneer

montada cuidadosamente
pelo meu pai, que, a cada nova peça
desembrulhada do plástico protector,
suspirava de admiração tecnológica
por"estes japoneses!"



foram tardes, dias, verões a ouvir paul simon e art garfunkel
por isso estas canções têm o dom de regressar à minha memória
quando delas preciso

como agora, com este som do silêncio a gritar para ser ouvido



"Hello, darkness, my old friend
I've come to talk with you again
Because a vision softly creeping
Left its seeds while I was sleeping
And the vision
That was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence

In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone
Beneath the halo of a street lamp
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed
By the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more
People talking without speaking
People hearing without listening
People writing songs that voices never share...
And no one dare
Disturb the sound of silence.

"Fools," said I, "you do not know
Silence like a cancer grows."
"Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed in the wells of silence.

And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning
In the words that it was forming.
And the signs said: "The words of the prophets
Are written on the subway walls
And tenement halls,
And whisper'd in the sound of silence."


Paul Simon e Art Garfunkel

dois grandes actores







o meu tributo a dois grandes actores


um ganhou ontem o oscar há muito merecido (Philip Seymour Hoffman)

outro não ganhou, mas deu-nos o walk the line (Joaquin Phoenix)
http://www.walkwithjoaquin.com/walktheline.html

memórias televisivas

para quem quer matar saudades dos anos 80

http://www.misteriojuvenil.com/piratas_momentomagico.htm

sábado, março 04, 2006

universo






















no universo
vida e morte são igualmente belas
explosões de luz, cor e formas
que estranhamente
reconhecemos









Credit: NASA,ESA, M. Robberto (Space Telescope Science Institute/ESA)
and the Hubble Space Telescope Orion Treasury Project Team

Credit: NASA, ESA, HEIC, and The Hubble Heritage Team (STScI/AURA)

http://hubblesite.org/

quinta-feira, março 02, 2006

corações ao alto

o que permanece

"A renúncia ao amor ou a plenitude do amor, ambas são extraordinárias e sem igual apenas quando a experiência inteira do amor, com todos os seus prazeres quase indestrinçáveis ( e que entre si mesmo alternam, de tal modo que a alma já não pode aqui ser separada do corpo), ocupa um lugar central: pois também aqui (no arrebatamento dos amantes ou dos homens santos de todos os tempos e de todas as religiões) a renúncia e a plenitude são já idênticas. Quando o infinito se mostra inteiro (seja como + ou como -), cai o sinal, um sinal, ah, tão humano como o caminho que agora percorremos até ao fim - e o que permanece é termos chegado, o que permanece é o ser!"

Rainer Maria Rilke
Da carta a Rudolf Bodländer, 23 de Março de 1922
(in Momentos de Paixão, Relógio d' Água)