quarta-feira, março 08, 2006

Mulheres de Atenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas

Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

guardam-se pros seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas

E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas, obcenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas

Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas



Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não tem gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
nas suas novenas serenas


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Chico Buarque

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