Elliott Erwitt
J. Rentes de Carvalho, Tempo Contado
De repente, um gesto. Gestos: quais são os "nossos", os que nos definem? talvez não nos pertençam, e venham de um tempo, de uma memória sempre reconstruida; ou talvez sejam sempre únicos, porque único é sempre o momento em que se repetem. Num ritual os gestos renovam seu significado pela repetição, parecem os mesmos, mas não o são porque o tempo é outro; o objectivo do gesto ritual é re-criar, trazer ao presente o seu significado.
(Ao repetir os meus gestos, recrio-me? transporto para o presente o que construí com o tempo?)
Mas, de repente, um gesto conhecido de outro lugar ou pessoa, é feito e eu automaticamente reajo. Depois percebo: esta reacção não cabe aqui, não lhe pertence. Então porque aconteceu? Reflexo, memória, identificação, necessidade? Não delibero os gestos que espontâneamente faço, saem livres, mesmo quando já são parte de um reportório aprendido.
Por outro lado, posso criar gestos novos, pensar neles e repeti-los, observar e imitar - o gesto específico de uma personagem, por exemplo. No entanto, na criação interessa-me mais o contrário, despojar-me dos "meus" gestos rotineiros e deixar que o corpo crie o seu caminho, abrir espaço para que o pensamento e a situação criem uma gestualidade nova, com outra carga emocional (a forma a influenciar o conteúdo e vice versa).
Divago.
Na verdade, os gestos revelam-nos sempre, e revelam principalmente o que queremos esconder, porque queremos esconder.
Estamos nus, embora nem sempre sejamos vistos.
(obrigada pela foto. :-) )
2 comentários:
... de nada ;-)
;)
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