quarta-feira, janeiro 25, 2012

carne

‎"Understand that if Natasha whores around - and she does - it doesn't offend Andrei, because he doesn't expect anything better from her. He knows she's sleeping with other men. It doensn't affect him. She's flesh. That kind of vulgarity is not so hard for an intellectual man of his caste to accept. It is not seen as particularly immoral. The immorality comes from marrying into another class. (...)
From Ibsen on, especilly in Strindberg, you see that the mixture of the classes destroys. If an aristocratic woman sleeps with a coachman for some reason, she kills herself. She has to. It´s a lousy mix.


When you study acting you study life - how to live life - and one thing you learn is not to get carried away by somebody who hasn't the mind you have. You can't substitute a good body for a good mind. It won't work. Minds go to minds. Bodies go to bodies.There used to be a better understandin of that. If a man wanted a body, he went out and bought it. Now, he marries it. That's the mistake. If he wanted a mistress, okay. But marriage was in the level of mental and sociological rightness. You can't have a whore bring up your child. You just can't." 


Stella Adler on Ibsen, Strindberg and Chekov (aqui sobre "As Três Irmãs", mas especificamente as personagens Andrei e Natasha).







Abri o livro ao calhas e encontrei logo esta passagem deliciosa, que me fez lembrar a minha professora de português do 11º ano, uma Senhora, cheia de classe e pose, com um tom autoritário de professora "à moda antiga", que tinha sido dona de um colégio privado e terminou a carreira no ensino público, e que tive a sorte de apanhar no último ano em que deu aulas. Como se despedia do ensino desfez-se ligeiramente da pose autoritária, mas a sua presença imponente mantinha toda a gente na "ordem". Deu-se também ao luxo de dar a matéria como lhe apeteceu. Fazia dissertações longas e muito interessantes sobre os autores de quem gostava e aos outros dava pouca importância. Graças a ela fiquei livre de ler o maçador "Eurico, o Presbítero", do Alexandre Herculano, do qual falámos apenas de passagem. Dizia de cor poemas do Fernando Pessoa (dos vários heterónimos), deu uma aula brilhante sobre Almeida Garrett, que ainda lembro, desvendou-nos os mistérios dos sonetos de amor do Camões, falando de sexo com uma elegância incrível.
Um dia, a propósito dos "happy ends" do Júlio Dinis, colocou-nos perante esta tese de que,ao contrário do que acontecia nos romances do Júlio Dinis,  "a mistura de classes pelo casamento não resulta", chegando mesmo a aconselhar as raparigas a não o fazer. A partir daí começou a falar sobre casamentos desiguais, não tanto pela diferença de "classe social" mas pela diferença de pensamento, de interesses comuns mínimos, que podem destruir o quotidiano. Deu-nos ainda o exemplo dela, com muito humor, de como teve de aprender agronomia para conseguir ter assunto com o marido, que provavelmente nunca deve ter lido "As folhas caídas" do Garrett. 
Diizia-se que esta mulher de armas, perante os constantes deslizes matrimoniais do marido, o tinha um dia prendido em casa, amarrado a uma cadeira. Não sei se este episódio é real, se ela o contou mesmo ou se sou eu a misturar histórias, mas a verdade é que sempre que me lembro da Dona A. não consigo deixar de a imaginar a amarrar o marido a uma cadeira para que não fugisse atrás  das amantes provavelmente iletradas, mas todas elas carne.



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