From Ibsen on, especilly in Strindberg, you see that the mixture of the classes destroys. If an aristocratic woman sleeps with a coachman for some reason, she kills herself. She has to. It´s a lousy mix.
When you study acting you study life - how to live life - and one thing you learn is not to get carried away by somebody who hasn't the mind you have. You can't substitute a good body for a good mind. It won't work. Minds go to minds. Bodies go to bodies.There used to be a better understandin of that. If a man wanted a body, he went out and bought it. Now, he marries it. That's the mistake. If he wanted a mistress, okay. But marriage was in the level of mental and sociological rightness. You can't have a whore bring up your child. You just can't."
Stella Adler on Ibsen, Strindberg and Chekov (aqui sobre "As Três Irmãs", mas especificamente as personagens Andrei e Natasha).
Abri o livro ao calhas e encontrei logo esta passagem deliciosa, que me fez lembrar a minha professora de português do 11º ano, uma Senhora, cheia de classe e pose, com um tom autoritário de professora "à moda antiga", que tinha sido dona de um colégio privado e terminou a carreira no ensino público, e que tive a sorte de apanhar no último ano em que deu aulas. Como se despedia do ensino desfez-se ligeiramente da pose autoritária, mas a sua presença imponente mantinha toda a gente na "ordem". Deu-se também ao luxo de dar a matéria como lhe apeteceu. Fazia dissertações longas e muito interessantes sobre os autores de quem gostava e aos outros dava pouca importância. Graças a ela fiquei livre de ler o maçador "Eurico, o Presbítero", do Alexandre Herculano, do qual falámos apenas de passagem. Dizia de cor poemas do Fernando Pessoa (dos vários heterónimos), deu uma aula brilhante sobre Almeida Garrett, que ainda lembro, desvendou-nos os mistérios dos sonetos de amor do Camões, falando de sexo com uma elegância incrível.
Um dia, a propósito dos "happy ends" do Júlio Dinis, colocou-nos perante esta tese de que,ao contrário do que acontecia nos romances do Júlio Dinis, "a mistura de classes pelo casamento não resulta", chegando mesmo a aconselhar as raparigas a não o fazer. A partir daí começou a falar sobre casamentos desiguais, não tanto pela diferença de "classe social" mas pela diferença de pensamento, de interesses comuns mínimos, que podem destruir o quotidiano. Deu-nos ainda o exemplo dela, com muito humor, de como teve de aprender agronomia para conseguir ter assunto com o marido, que provavelmente nunca deve ter lido "As folhas caídas" do Garrett.
Diizia-se que esta mulher de armas, perante os constantes deslizes matrimoniais do marido, o tinha um dia prendido em casa, amarrado a uma cadeira. Não sei se este episódio é real, se ela o contou mesmo ou se sou eu a misturar histórias, mas a verdade é que sempre que me lembro da Dona A. não consigo deixar de a imaginar a amarrar o marido a uma cadeira para que não fugisse atrás das amantes provavelmente iletradas, mas todas elas carne.
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