quinta-feira, abril 06, 2006

a casa

De quem era a casa que visitei?
Saí de lá tonta, sem me lembrar de mais nada, como se um sonho me tivesse invadido o quintal e transformasse em flores a terra velha dos meus vasos.
Seres imaginários entraram comigo no espaço amplo da casa vazia.
Imaginários? Eles estavam lá, cicerones entre as tábuas novas do soalho e os panos leves das cortinas. Eles caminhavam na erva que ainda crescia junto às escadas traseiras e brincavam com a ferrugem da fechadura velha.
Do outro lado do rio a floresta crescia aos meus olhos, e retive apenas vagas lembranças de um baile em volta da fogueira. A água do rio corria levando atrás de si pedras, ramos e bichos.
Um cheiro forte a Inverno.
De quem era a casa que visitei?
Uma mesa de madeira, uma cama feita, cobertas e cobertores nos armários, pratos nas prateleiras, copos no escorredor.
Uma mancha, uma sombra, uma ilusão...
Onde estava o resto da minha vida, na casa que visitei?

2 comentários:

Anónimo disse...

"(...)I have all of life's treasures
And they are fine and they are good
They remind me that houses
Are just made of wood
What makes a house grand
Ain't the roof or the doors
If there's love in a house
It's a palace for sure
Without love...(...)It ain't nothin but a house
A house where nobody lives
Without love it ain't nothin
But a house, a house where
Nobody lives."

Tom Waits

Ahh... as lembranças...
É um "problema" isto de termos acesso ao inconsciente...:-)

Beijo,
Artur

natalie disse...

este texto já foi escrito há uns meses, depois de um sonho fantástico que me inspirou. deixei-o "de molho" e ontem pareceu-me bem partilhá-lo!
mas se um psicanalista "me lesse", certamente que me iria criar alguns "problemas"!
bj