Leni Riefenstahl
Olympia
Às vezes atiro-me. De cabeça. Sem me preocupar se vou cair, sem saber onde vou parar.
Olho em frente, a janela a chamar, o ar a tornar-se pele, as asas a pedir voo.
Posso partir-me toda, mas atiro-me. Para voar. E cumprir-me no voo.
(publicado inicialmente aqui)
Quem me conhece bem sabe que frequentemente me boicoto. Quero ir numa direcção e faço o movimento contrário. Por medo, por pudor, por insegurança, porque na vida fui habituada a perder. E para evitar novas frustrações, raramente arrisco, nem sequer faço o esforço de tentar alcançar o que quero. Penso "não vale a pena" e fico a ver a vida passar-me ao lado. Mas desde que tenho consciência que isto me acontece e desde que, com a ajuda preciosa do teatro - sempre o teatro - me obrigo a arriscar, percebi que posso contrariar o padrão de perdas e frustrações. E há momentos luminosos, situações únicas, em que uma força interior toma conta de mim e eu própria me empurro para dentro do jogo, para dentro da dança, para dentro da vida. Porque é a única maneira de a viver plenamente, de me sentir inteira, em acção, em construção.
E, progressivamente, vou sendo cada vez mais o voo e não a queda.
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