quarta-feira, julho 01, 2009
um café com Pina
"Quando saímos, se está a nevar e tudo se pôs branco, ficamos sós, sentimo-nos sós. Se o sol estiver a brilhar, talvez não. Mas nada garante que aquilo que o outro sente seja equivalente ao que nós próprios sentimos. Quanto à mensagem, não sei... Não há mensagem. A melhor coisa é deixar a intuição e a imaginação agirem. É verdade que eu quero dizer com força qualquer coisa difícil de formular, qualquer coisa de escondido; mas são os espectadores que têm de descobrir, senão tudo seria tosco e grosseiro; são vocês que têm de o descobrir, eu não posso proceder demasiado directamente. Frente a certos valores, é preciso, acima de tudo, sensibilidade."
Pina Bausch
"Se quisermos falar daquilo que o trabalho de Pina Bausch nos comunica, deparamos obrigatoriamente, num primeiro tempo, com o conceito de angústia. A angústia, que podemos considerar um dos principais problemas da nossa época, é um dos topoi mais importantes da obra de Pina Bausch. Trata-se da sua angústia pessoal, e da angústia dos seus personagens, de uma angústia que paralisa ou desencadeia a agressividade, da angústia de quem se descobre e continua a estar completamente nu, sem defesa, exposto às reacções de um parceiro no qual é impossível confiarmos uma vez que ele, igualmente dominado pela angústia, poderá ferir-nos. O desejo intenso de sermos amados esbarra nesta angústia: é desta contradição que nascem os conflitos, mas também a inflexão cómica que parece crescer à medida que a coreografa ganha distância em relação às suas própiras frustrações e obsessões, os seus complexos e os seus sonhos,(...)
(...)
Assitimos, então, ao nascimento de um novo tipo de espectáculo; este será, como uma revista, composto de colagens, de imagens que se esbatem como num sonho e de muitas histórias paralelas estruturadas segundo o princípio do conflito estético entre a tensão e o repouso, o forte e o fraco, o claro e o obscuro, o grande e o pequeno, o triste e o alegre.
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(Pina Bausch) Não quer ver-se, seja de que maneira for, identificada com o movimento feminista, com o teatro feminista. Compromete-se com a emancipação dos seres humanos e não, em especial, com a da mulher.
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Em seu entender, só é concebível um progresso na condição de os homens e as mulheres se mostrarem capazes de resolver juntos os problemas que resultam das suas relações sociais de dependência recíproca e decorrentes das imposições ditadas pelas convenções e pela vida. De resto, Pina Bausch considera que a emancipação poderá ser mais difícil para os homens, uma vez que aquilo que deles se espera, em termos de papeis sociais, é muito mais pesado."
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Jochen Schmidt, "Da Modern dance ao Tanztheater"
"Pina Bausch, Falem-me de amor", Ed. Fenda
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