sexta-feira, janeiro 30, 2009
terça-feira, janeiro 27, 2009
falar e calar
encontrei M. à porta do cinema no centro comercial, ele a sair, eu só a espreitar os cartazes.
a conversa instalou-se e entre troca de informações sobre amigos comuns e o que andamos a fazer desde a última vez que nos vimos, eu acabei por libertar frases gastas, queixei-me do cansaço, do stress, do trabalho, o costume.
foi então que M. revelou ter deixado de falar dos seus problemas aos amigos e conhecidos "porque os teus problemas só tu podes resolve-los" e "falar muito dos problemas só os aumenta".
fiquei a pensar sobre isso.
talvez M. tenha alguma razão, falar demais pode levar-nos a perpetuar a situação, a acreditar que nada podemos fazer para a mudar, a acumular frustrações e a ter a eterna sensação de incompetência para resolver os nossos problemas.
por outro lado, e sei-o por experiência própria, continuo a acreditar que a verbalização nos ajuda a ver o problema com outros contornos, a distanciar-nos dele, a encontrar insight na conversa (se bem orientada) e ajuda-nos a perceber como podemos agir para a mudança.
talvez se deva escolher apenas um ou dois interlocutores, amigos que só te ouvem e não tentam oferecer-te respostas, nem te julgam, nem dão conselhos, nem têm inveja, nem ficam secretamente contentes por estares na merda.
durante demasiado tempo na minha vida não falei de nada a ninguém. talvez agora fale demais sobre tudo e a muita gente. talvez seja preciso aprender a calar.
a conversa instalou-se e entre troca de informações sobre amigos comuns e o que andamos a fazer desde a última vez que nos vimos, eu acabei por libertar frases gastas, queixei-me do cansaço, do stress, do trabalho, o costume.
foi então que M. revelou ter deixado de falar dos seus problemas aos amigos e conhecidos "porque os teus problemas só tu podes resolve-los" e "falar muito dos problemas só os aumenta".
fiquei a pensar sobre isso.
talvez M. tenha alguma razão, falar demais pode levar-nos a perpetuar a situação, a acreditar que nada podemos fazer para a mudar, a acumular frustrações e a ter a eterna sensação de incompetência para resolver os nossos problemas.
por outro lado, e sei-o por experiência própria, continuo a acreditar que a verbalização nos ajuda a ver o problema com outros contornos, a distanciar-nos dele, a encontrar insight na conversa (se bem orientada) e ajuda-nos a perceber como podemos agir para a mudança.
talvez se deva escolher apenas um ou dois interlocutores, amigos que só te ouvem e não tentam oferecer-te respostas, nem te julgam, nem dão conselhos, nem têm inveja, nem ficam secretamente contentes por estares na merda.
durante demasiado tempo na minha vida não falei de nada a ninguém. talvez agora fale demais sobre tudo e a muita gente. talvez seja preciso aprender a calar.
sábado, janeiro 24, 2009
o amor...
vejam a estória completa aqui
(as ilustrações da Ana Oliveira são muito bonitas e cheias de humor! há por lá mais algumas love stories deliciosas!)
sexta-feira, janeiro 23, 2009
quarta-feira, janeiro 21, 2009
o gato e o pássaro
"Uma cidade escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
E foi o único gato da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro deixa de cantar
O gato deixa de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Funerais maravilhosos
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até ao fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Você teria sofrido menos
Só tristeza e saudade
É preciso nunca fazer as coisas pela metade."
Jacques Prévert
(a tradução é brasileira, façam o obséquio de ler com sotaque para parecer menos estranho!)
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
E foi o único gato da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro deixa de cantar
O gato deixa de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Funerais maravilhosos
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até ao fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Você teria sofrido menos
Só tristeza e saudade
É preciso nunca fazer as coisas pela metade."
Jacques Prévert
(a tradução é brasileira, façam o obséquio de ler com sotaque para parecer menos estranho!)
segunda-feira, janeiro 19, 2009
laranjas
"Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais.
Para qual fui injusto - eu, que as vou comer a ambas?"
F. Pessoa/ A. Caeiro
Para qual fui injusto - eu, que as vou comer a ambas?"
F. Pessoa/ A. Caeiro
quinta-feira, janeiro 15, 2009
esquece a alma
"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
Manuel Bandeira
(a propósito de uma conversa que tive ontem com um amigo sobre mulheres que se maquilham e as que não, andava à procura de uma citação da "Arte de amar" de Ovídio, que li emprestado há muito tempo, onde o autor dá conselhos úteis ás mulheres sobre estas coisas. na net só encontrei em inglês, tenho de procurar o livro que é um manual tão importante como o kama sutra! por outro lado encontrei este poema do Manuel Bandeira.)
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
Manuel Bandeira
(a propósito de uma conversa que tive ontem com um amigo sobre mulheres que se maquilham e as que não, andava à procura de uma citação da "Arte de amar" de Ovídio, que li emprestado há muito tempo, onde o autor dá conselhos úteis ás mulheres sobre estas coisas. na net só encontrei em inglês, tenho de procurar o livro que é um manual tão importante como o kama sutra! por outro lado encontrei este poema do Manuel Bandeira.)
quarta-feira, janeiro 14, 2009
and now, for something completly different (6)
mosca na sopa, raul seixas
Etiquetas:
and now for something completly different
sábado, janeiro 10, 2009
porque hoje é sábado ( )
o que interessa é continuar a jogar...
deu-me para isto, fazer mais vezes o que me apetece...
de há uns tempos para cá apetece-me acabar com o blog...
(como é que isto se usa?)
porque tudo é impermanente ...
para voltar a encher um vaso é preciso esvaziá-lo primeiro...
à tona, a ensaiar o mergulho...
à procura de sentido...
(ainda não é hoje que desligo o blog…)
deu-me para isto, fazer mais vezes o que me apetece...
de há uns tempos para cá apetece-me acabar com o blog...
(como é que isto se usa?)
porque tudo é impermanente ...
para voltar a encher um vaso é preciso esvaziá-lo primeiro...
à tona, a ensaiar o mergulho...
à procura de sentido...
(ainda não é hoje que desligo o blog…)
sexta-feira, janeiro 09, 2009
segunda-feira, janeiro 05, 2009
cyrano
CYRANO
Isso é breve e não tem graça alguma.
Poder-se-ia dizer... mas tanta coisa, em suma!
Variando o tom de voz... assim: dai-me atenção:
AGRESSIVO: "Senhor, tamanho narigão
Fosse meu, que, sem dó, lhe apararia o topo!"
CORTEZ: "Esse nariz mergulha-vos no copo:
Usai dum canjirão para beber melhor."
DESCRITIVO: "É rochedo! É cabo! Inda é maior:
É promontório! É mais: é o novo Continente!"
CURIOSO: " De que serve essa vasilha ingente?
Servirão de tinteiro os âmbitos nasais?"
GRACIOSO: "Tanto afeto às aves dedicais,
que destarte busqueis, benévolo e fagueiro,
aos dedicados pés ceder-lhes um poleiro?"
TRUCULENTO: "Senhor, se vós vos distraís
A fumar, e lançais vapores no nariz,
O vizinho não crê que a chaminé vos arde?"
PREVIDENTE: "Cuidado! O crânio que se guarde:
Esse peso é capaz de dar-lhe um trambolhão!"
TERNO: "Plantai-lhe em cima um toldo, um pavilhão:
do contrário, talvez a luz do sol empane-o"
PEDANTE: "Só o monstro, o monstro Aristofânio,
- Hipocampelefantocamelo - afinal,
Teve tão volumoso o apêndice nasal."
CAVALHEIRO: "Isso é gancho ao derradeiro gosto?
Pendurai-lhe um chapéu, que ficará bem posto!"
EMPOLADO:"Que vento, exceto algum pampeiro,
Poderá, ó nariz, te constipar inteiro?"
TRÁGICO: "É o Mar Vermelho o teu sanguíneo jato!"
PASMADO: "É um chamariz pra vendedor de extrato".
LÍRICO: "É a vossa concha, ó filho de Anfitrite?"
INGÉNUO: "É um monumnento! A entrada se permite?"
RESPEITOSO: "Deixai saudar-vos a eminência:
Vale um bem de raiz tamanha saliência."
LAPUZ: "Virgem Maria! Isso é nariz de sobra:
Estou que há-de ser couve, ou que há-de ser abóbora."
BELICOSO: "Apontar! Passa a cavalaria!"
PRÁTICO: " Se o meteis em rifa ou lotaria,
Vai ser a sorte grande, a bruta, certamente."
Enfim, parodiando a Píramo plangente:
"Eis o nariz fatal, que aos traços do senhor
A harmonia desfez! E cora de pudor!"
Meu caro, eis o que vós dirieis, a contento,
se pudésseis dispor de letras e talento.
Mas, de talento, vós tristíssimo enxovedo,
Nunca tivéstes a sombra, ou simples arremedo.
E de letras somente as da palavra TOLO!
Mas tivésseis, embora, um pouco de miolo.
Para poderdes vir, perante este auditório,
um gracejo dizer, tornando-me irrisório, -
Que não teríeis dito um quarto de metade
Do começo dum só; - pois, a falar verdade,
A mim mesmo eu permito uma pilhéria boa:
Mas não permitirei dizer-me outra pessoa."
Edmond Rostand, "Cyrano de Bergerac"
sábado, janeiro 03, 2009
Sofia
(...)
"A Sofia sempre fez bem omeletas. Tinha um jeito especial para, no momento certo, dobrar e moldar o que a mim me parecia uma massa escorregadia e incontrolável, transformando-a numa figura de ângulos rectos perfeitos. Ou redonda, se eu preferisse. Juntava-lhe então batatas, cebola, alho, salsa picada e chamava-lhe tortilha. Eu gostava das nossas noitadas cinéfilas. Quando misturávamos, até de madrugada, a noite, as tortilhas, o vinho e os filmes. Tínhamos comprado um apartamento pequeno. Daqueles que nos fazem invejar o mais reduzido dos quintais. Na realidade, o espaço sempre foi suficiente. “As vidas grandes não ocupam muito espaço” – costumava dizer a Sofia – “não são como as cómodas ou as cadeiras. Preenchem sem ocupar. E em momentos de sorte, a nossa própria vida pode ser, também, a vida do outro. Não me refiro a uma vida que se encosta à outra, situação mais comum. Falo numa espécie de duas águas, que ao misturarem-se, como se fossem uma só, podem mesmo tornar-se algo único e especial.” (...)
Artur Vaz Oliveira
(obrigada pela surpresa! está mesmo muito bonito e espero que continues a contar estórias também com as palavras!)
"A Sofia sempre fez bem omeletas. Tinha um jeito especial para, no momento certo, dobrar e moldar o que a mim me parecia uma massa escorregadia e incontrolável, transformando-a numa figura de ângulos rectos perfeitos. Ou redonda, se eu preferisse. Juntava-lhe então batatas, cebola, alho, salsa picada e chamava-lhe tortilha. Eu gostava das nossas noitadas cinéfilas. Quando misturávamos, até de madrugada, a noite, as tortilhas, o vinho e os filmes. Tínhamos comprado um apartamento pequeno. Daqueles que nos fazem invejar o mais reduzido dos quintais. Na realidade, o espaço sempre foi suficiente. “As vidas grandes não ocupam muito espaço” – costumava dizer a Sofia – “não são como as cómodas ou as cadeiras. Preenchem sem ocupar. E em momentos de sorte, a nossa própria vida pode ser, também, a vida do outro. Não me refiro a uma vida que se encosta à outra, situação mais comum. Falo numa espécie de duas águas, que ao misturarem-se, como se fossem uma só, podem mesmo tornar-se algo único e especial.” (...)
Artur Vaz Oliveira
(obrigada pela surpresa! está mesmo muito bonito e espero que continues a contar estórias também com as palavras!)
sexta-feira, janeiro 02, 2009
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