sexta-feira, dezembro 15, 2006

sobre a amizade

"A amizade começa como um acto sem continuidade, um salto. É um momento em que sentimos uma forte simpatia, um interesse, sentimos uma afinidade em relação a uma pessoa. Se já a conhecíamos há algum tempo, é como se a víssemos de uma maneira diferente, pela primeira vez. Chamaremos “encontro” a esta experiência.

O encontro é sempre inesperado, revelador.
(…)

Cada “encontro” é diferente, abre uma nova estrada, abre novas perspectivas. Se uma amizade é verdadeira, isto repetir-se-á inúmeras vezes.
(…)

O encontro não é reconhecer uma identidade ou uma semelhança. É apercebermo-nos de que o outro nos completa e que nós o completamos. (…) O encontro é fazer um pedaço de estrada em conjunto, em direcção à própria identidade, em direcção à descoberta daquilo que, para cada um, é a coisa mais importante.
(…)
Do encontro com o amigo espero sempre, portanto, uma revelação. O amigo abre-me a porta que eu queria abrir.

A amizade é uma filigrana de encontros, e cada encontro é uma prova. Cada encontro pode ser, de facto, até uma desilusão. (…)
A amizade é o resultado dos encontros bem sucedidos. Os amigos sentem-se bem juntos, estão sorridentes, felizes. Porque, mais uma vez, aconteceu o milagre, se realizou o encontro.

Porque é que nunca nos aborrecemos com os amigos? Porque a verdadeira amizade é sempre aventura, exploração dos mistérios da vida, busca.(…) O encontro entre amigos é sempre descoberta da própria diversidade, da própria unicidade e, ainda, da própria solidão, do próprio risco individual.
(…)
O aborrecimento é o sintoma da deterioração da nossa relação com o mundo e, também, connosco próprios. O aborrecimento apenas desaparece voltando ao mundo, ou seja, aceitando o desafio. Procurando, portanto, a nossa identidade. Periodicamente, ao longo da vida, temos portanto que lançar fora uma parte da sociedade que nos é familiar. Temos que nos perder para encontrarmos a estrada. Temos que voltar a ser viajantes, que chegar a um território desconhecido. Temos que reconquistar um lugar na sociedade, como se esta nos fosse estranha. É nestes períodos de transformação que encontramos os amigos. O encontro com o amigo é apenas um aspecto do encontro com o mundo.”


Francesco Alberoni, A Amizade, Bertrand

1 comentário:

Anónimo disse...

Deixou-me a pensar! Obrigado por partilhares.

Alex