terça-feira, novembro 28, 2006

verniz



sou definitivamente uma rapariga do povo:
impossível não deixar estalar o verniz

quinta-feira, novembro 23, 2006

help!




muito cansada e com vontade de saltar já para o natal

preciso de férias

de sair daqui

escapar

fugir

ir

help!

quarta-feira, novembro 22, 2006

segunda-feira, novembro 20, 2006

sobre o medo

“O medo é uma estratégia para nada inscrever. Constitui-se, antes de mais, como medo de inscrever, quer dizer, de existir, de afrontar as forças do mundo desencadeando as suas próprias forças de vida. Medo de agir, de tomar decisões diferentes da norma vigente, medo de amar, de criar, de viver. Medo de arriscar. A prudência é a lei do bom senso português.”

“O medo é o medo do poder, mas também da impotência própria diante do poder. Medo de não saber e de ser desmascarado. Medo de ter medo. Medo de parecer ter medo, de parecer fraco, incapaz, ignorante, medíocre.”

“Em tantas sociedades, em que coexistem vários níveis de desenvolvimento e de instrução, tudo isto existe, mas em Portugal (com uma população e aglomerados populacionais reduzidos ou compostos por pequenos grupos) reforça-se e agudiza-se, como já o dissemos, sob o poder extraordinário que entre nós possui a imagem de si. A imagem de si (ideal, imaginária, ditada pela norma não menos imaginária do politico-social-moral-psicologicamente correcto) impõe regras de comportamento, interioriza interditos, autocensura o indivíduo. Constitui um limite severo à livre expressão, ao pensamento e à acção livres. Sair das fronteiras definidas pela norma equivale a arriscar-se a adoptar uma imagem de si autodestrutiva – de tal maneira esta sociedade não dispõe nem propõe alternativas de vida à única norma dominante.”

“O medo de «não estar à altura» impera, arruinando as potencialidades criativas; medo que implica e arrasta os outros, como o de ser avaliado, de ser julgado, de «ir a exame»”


José Gil, Portugal, Hoje – o medo de existir, Relógio d’Água, 2004

sábado, novembro 18, 2006

sábado, novembro 11, 2006

sexta-feira, novembro 10, 2006

after all there was another



o "gato" morreu, viva o "gato"!

quinta-feira, novembro 09, 2006

and now, for something completly different (2)

Nada pior que cair numa página em branco: um deserto vazio que não sabemos como atravessar. Principalmente quando temos calçados uns enormes chinelos da pantera cor de rosa e vestimos um pijama de ursinhos… Olhei em volta: branco e mais branco. Nem um ponto e vírgula, nem um travessão, nada de reticências. As personagens desapareceram, a página não estava numerada, e nem uma única palavra como pista. Seria o diário íntimo de uma cortesã, com páginas de segredos eróticos ocultos em tinta invisível? Ou seria a página branca um mero erro de tipografia? Encontraria gravuras? Ou pequenos e rigorosos poemas haiku? E se não fosse um livro mas antes uma página solta que a qualquer momento o vento faria voar? O suspense aumentava a cada passo, o coração batia veloz, as pernas tremiam de ansiedade… haveria algo a seguir ao nada?

terça-feira, novembro 07, 2006

domingo, novembro 05, 2006

ode

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Ricardo Reis

sábado, novembro 04, 2006

quinta-feira, novembro 02, 2006

o amor comeu

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."


João Cabral de Melo Neto, fala de Joaquim em "Os Três Mal-Amados"

http://www.releituras.com/joaocabral_malamados.asp

quarta-feira, novembro 01, 2006

samhain




















a roda do ano
ciclos que se renovam
passagens
fronteiras
rituais