“O medo é uma estratégia para nada inscrever. Constitui-se, antes de mais, como medo de inscrever, quer dizer, de existir, de afrontar as forças do mundo desencadeando as suas próprias forças de vida. Medo de agir, de tomar decisões diferentes da norma vigente, medo de amar, de criar, de viver. Medo de arriscar. A prudência é a lei do bom senso português.”
“O medo é o medo do poder, mas também da impotência própria diante do poder. Medo de não saber e de ser desmascarado. Medo de ter medo. Medo de parecer ter medo, de parecer fraco, incapaz, ignorante, medíocre.”
“Em tantas sociedades, em que coexistem vários níveis de desenvolvimento e de instrução, tudo isto existe, mas em Portugal (com uma população e aglomerados populacionais reduzidos ou compostos por pequenos grupos) reforça-se e agudiza-se, como já o dissemos, sob o poder extraordinário que entre nós possui a imagem de si. A imagem de si (ideal, imaginária, ditada pela norma não menos imaginária do politico-social-moral-psicologicamente correcto) impõe regras de comportamento, interioriza interditos, autocensura o indivíduo. Constitui um limite severo à livre expressão, ao pensamento e à acção livres. Sair das fronteiras definidas pela norma equivale a arriscar-se a adoptar uma imagem de si autodestrutiva – de tal maneira esta sociedade não dispõe nem propõe alternativas de vida à única norma dominante.”
“O medo de «não estar à altura» impera, arruinando as potencialidades criativas; medo que implica e arrasta os outros, como o de ser avaliado, de ser julgado, de «ir a exame»”
José Gil, Portugal, Hoje – o medo de existir, Relógio d’Água, 2004
segunda-feira, novembro 20, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
sempre tão oportuna e actual...
mais beijos
Enviar um comentário