"Compreende agora - perguntou-me certo dia o mestre, depois de um tiro particularmente feliz - o que quer dizer: algo atira, algo acerta?"
"Receio bem já não entender rigorosamente mais nada - respondi -, até o mais simples se torna confuso. Sou eu quem estira o arco, ou é o arco que me leva à tensão máxima? Sou eu quem acerta no alvo, ou é o alvo que me acerta a mim? Esse algo é espiritual aos olhos do corpo, ou corporal, aos olhos do espírito, ambas as coisas, ou nenhuma? Todas estas coisas, arco, seta, alvo e Eu enredam-se de tal maneira que já não os consigo separar. Até o desejo de o fazer desapareceu, pois assim que agarro o arco e disparo, tudo fica tão claro, tão inequívoco, tão ridiculamente simples..."
O mestre interrompeu-me e disse: "Neste preciso momento a corda do arco acaba de o atravessar."
Eugen Herrigel
Zen e a arte do tiro com arco
terça-feira, março 15, 2011
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