segunda-feira, fevereiro 08, 2010

fade out

e de repente

tudo me parece agressivo, invasivo
(bicudo, e não arredondado e fluido)

principalmente as perguntas
que querem extrair - o quê? - de mim
uma informação, uma reflexão, uma opinião, um qualquer ensinamento, nada que valha a pena, seja como for.

perguntas invasivas, que picam, que me transformam numa máquina de respostas. para quê?

e, céus, será que já ninguém conversa sem fazer perguntas?

que saudades de deixar o pensamento ir, sem me deter demasiado no que estou a dizer, sem me julgar, sem que tomem o que digo como algo definitivo e importante, mas apenas um pensamento, uma respiração, que segue o seu caminho e reaparece depois, transformado pela conversa, pela respiração dos outros. um pensamento que reorganiza o que havia antes, que cria o caos para o que vem depois. um pensamento livre, criativo. que saudades da troca e não deste aparente diálogo que não deixa espaço para o pensamento que cria, que faz crescer.

e, céus, que dificuldade têm as pessoas em receber.
todos querem falar e ninguém quer ouvir. quem ouve apenas espera a deixa para ver se o que é dito encaixa no seu discurso e volta então ao seu monólogo. e se, por acaso, não encaixa, se há qualquer perplexidade, então, em vez do silêncio criativo, que ajuda a ir mais além, lá vem mais uma pergunta estéril, que divide o pensamento em sim ou não, certo ou errado, bom ou mau.

eu, que passo o dia a ouvir histórias, a ouvir (e fazer) perguntas e a dar respostas, estou cansada. cansada também dos raciocínios, às vezes retorcidos, às vezes lógicos, dos outros, mas que contaminam os meus.

como me disseram uma vez, preciso de surrealismo na minha vida. de aprender a contrariar todas as lógicas.
e neste momento, preciso essencialmente de respirar fundo, encontrar o circulo, contornar os bicos e esquinas que me aparecem pela frente.
e mergulhar no vazio criativo do pensamento.
sem julgar.


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