quarta-feira, setembro 19, 2007

passional

apetecia-me escrever sobre isto, mas não sei como.

hoje dei aulas de expressão dramática a uma turma de 16 meninos e meninas de 7 anos;
45 minutos de jogos interrompidos para castigos, pedidos de desculpa, regras, regras, regras e muito pouca brincadeira, muito pouca escuta do outro;
45 minutos de pontapés, rasteiras, insultos, obscenidades.

a violência começa assim a instalar-se. não ouvimos, não vemos, não falamos. e a violência torna-se o veículo de comunicação que conhecemos, a violência torna-se o código. se não me ouvem, grito e esbracejo; se não olham para mim, empurro e insulto. se não me sei amado, agrido e atinjo todos à minha volta.

se deixamos de sentir e de estar com os outros, se não temos empatia por eles, é mais fácil eliminá-los; os "outros"são vistos como um "obstáculo" aos nossos desejos, um "objecto" que queremos possuir e transformar pela força.

e depois, um dia, crescemos; confundimos amor com posse. não percebemos nem aceitamos o abandono. ou não conseguimos deixar quem nos faz mal, porque estamos absolutamente sós.
e depois agredimos. deixamo-nos levar pelo desespero. tornamo-nos fanáticos. terroristas. enlouquecemos. matamos.

somos todos responsáveis.


http://www.asbeiras.pt/?area=destaque&numero=49193&ed=19092007

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito bonito e muito sincero. A verdade. Gosto de ver que és uma pessoa lúcida, aberta, humana e q és minha amiga. É 1 PRIVILÉGIO.

natalie disse...

privilégio é contar com a tua amizade, é contar contigo!

MicasMariana disse...

adoro as tuas frases, as tuas palavras.
é tens uma árdua tarefa entre mãos, mas também tens umas sementinhas que podem crescer.

natalie disse...

micas, neste momento, depois de mais duas aulas com "os pestinhas", não sei muito bem se tenho "adubo" suficiente para fazer crescer as sementes... mas há que continuar a tentar!