boas energias
para o novo ano
sexta-feira, dezembro 30, 2005
lua - circulo - magia
"Abre o círculo.
A lua olha-te e diz, abre o circulo.
Abre o espaço.
Sobre a sombra do carvalho velho.
Abre o corpo.
Na luz da manhã, o encontro.
Abre o circulo e penetra-o .
Diz as palavras mágicas.
Usa os gestos mágicos.
A lua espera no interior de ti, liquida e obscura, espera-te.
Abre o circulo.
Dá vida. Onde a lua te reclama.
No espaço interior que abres com as palavras mágicas
O carvalho prepara o gesto que te fará inteira."
15-06-02
brecht - tempo
Não, o tempo nada tira das coisas.
A mais de um menosprezado portal
Sua lenta metamorfose emprestou
Beleza, ainda que tardia.
Aos monumentos que veneramos
O tempo confere suave encanto
Da frontaria ao pináculo.
Nunca, malgrado fendas e ferrugem,
A superfície que ele desnuda
Tem o valor da patina que ele acrescenta.
É o tempo que abre um sulco
Num mais que modesto capitel,
Que passa seu inteligente polegar
Sobre as áridas quinas do mármore;
Aperfeiçoando a arte, é ele
Que deposita uma víbora viva
Nas espirais de uma hidra de granito.
Acho que posso ver um telhado gótico rindo
Quando de seu friso antigo o tempo
Retira uma pedra e no lugar põe um ninho.
Bertolt Brecht
A mais de um menosprezado portal
Sua lenta metamorfose emprestou
Beleza, ainda que tardia.
Aos monumentos que veneramos
O tempo confere suave encanto
Da frontaria ao pináculo.
Nunca, malgrado fendas e ferrugem,
A superfície que ele desnuda
Tem o valor da patina que ele acrescenta.
É o tempo que abre um sulco
Num mais que modesto capitel,
Que passa seu inteligente polegar
Sobre as áridas quinas do mármore;
Aperfeiçoando a arte, é ele
Que deposita uma víbora viva
Nas espirais de uma hidra de granito.
Acho que posso ver um telhado gótico rindo
Quando de seu friso antigo o tempo
Retira uma pedra e no lugar põe um ninho.
Bertolt Brecht
quinta-feira, dezembro 29, 2005
Confiança
"O que é bonito neste mundo, e anima
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova..."
Miguel Torga
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova..."
Miguel Torga
sábado, dezembro 24, 2005
horoscopo pagão
saturno
com passos lentos
corrige o traço
imperfeito
de deus
por entre as águas
e as serpentes
e todos os bichos
do céu e da terra
surge
imponente
de um só trago
saturno
come os filhos
come o tempo
para ser eterno
mas pã
ainda não adormeceu
e com a sua flauta
e uma gargalhada
semeia vida
pelos campos férteis
deita-se nas ervas
e sorve o sol
metade bode
calcorreia montanhas
e vales
e entrega-se
ao prazer
por isso
há prazer e solidão
luz e escuridão
na mesma e eterna dança
dos deuses
do inverno
pã e saturno
dançam com os homens
o jogo da vida e da morte
para que não nos esqueçamos
que existem
para além dos sonhos
6-01-05
com passos lentos
corrige o traço
imperfeito
de deus
por entre as águas
e as serpentes
e todos os bichos
do céu e da terra
surge
imponente
de um só trago
saturno
come os filhos
come o tempo
para ser eterno
mas pã
ainda não adormeceu
e com a sua flauta
e uma gargalhada
semeia vida
pelos campos férteis
deita-se nas ervas
e sorve o sol
metade bode
calcorreia montanhas
e vales
e entrega-se
ao prazer
por isso
há prazer e solidão
luz e escuridão
na mesma e eterna dança
dos deuses
do inverno
pã e saturno
dançam com os homens
o jogo da vida e da morte
para que não nos esqueçamos
que existem
para além dos sonhos
6-01-05
quinta-feira, dezembro 22, 2005
estrelas
não procurei
a estrela cadente
orion basta
para me assombrar
com a sua perfeita (as)simetria
olho o cinto do gigante, o braço e o arco
e espanta-me sempre
a beleza, equilíbrio e força
do universo
a estrela cadente
orion basta
para me assombrar
com a sua perfeita (as)simetria
olho o cinto do gigante, o braço e o arco
e espanta-me sempre
a beleza, equilíbrio e força
do universo
segunda-feira, dezembro 19, 2005
provar
quando provamos alguma coisa
descuidados, ignoramos que podemos
não voltar a prová-la
por isso, aguço os sentidos
para guardar no corpo todas as coisas boas que provei
como:
o barulho de abrir a tampa de lata de um frasco
reflexos de luz no chão de madeira, uma cortina ao vento
o fresco da manhã na janela
um cão a ladrar ao longe
as árvores brilhantes da última chuva
o som de pisar as ervas novas e molhadas
o cheiro da terra fresca
a água a correr num tanque
as nuvens
o sol de Inverno
pardais nos fios eléctricos
abrir uma porta que range
pisar a madeira do soalho e ver a luz entrar pelas uniões das tábuas
cheirar o pó da madeira que enche as narinas
uma teia de aranha num canto alto
o som de subir escadas ocas
o frio do prego que serve de puxador nas portas
e da pedra da banca na cozinha
as rugas da mesa de madeira velha
o cheiro e o som de cortar uma couve
a parede escura junto à lareira
acender uma fogueira
a sopa no pote
provar a sopa quente
abrir o forno e retirar um tabuleiro de biscoitos
reflexos de luz nos lençóis brancos da cama desfeita
o barulho de abrir uma tampa de lata de um frasco
descuidados, ignoramos que podemos
não voltar a prová-la
por isso, aguço os sentidos
para guardar no corpo todas as coisas boas que provei
como:
o barulho de abrir a tampa de lata de um frasco
reflexos de luz no chão de madeira, uma cortina ao vento
o fresco da manhã na janela
um cão a ladrar ao longe
as árvores brilhantes da última chuva
o som de pisar as ervas novas e molhadas
o cheiro da terra fresca
a água a correr num tanque
as nuvens
o sol de Inverno
pardais nos fios eléctricos
abrir uma porta que range
pisar a madeira do soalho e ver a luz entrar pelas uniões das tábuas
cheirar o pó da madeira que enche as narinas
uma teia de aranha num canto alto
o som de subir escadas ocas
o frio do prego que serve de puxador nas portas
e da pedra da banca na cozinha
as rugas da mesa de madeira velha
o cheiro e o som de cortar uma couve
a parede escura junto à lareira
acender uma fogueira
a sopa no pote
provar a sopa quente
abrir o forno e retirar um tabuleiro de biscoitos
reflexos de luz nos lençóis brancos da cama desfeita
o barulho de abrir uma tampa de lata de um frasco
ondas
a vida vem em ondas como o mar
diz vinicius
é preciso saber esperar a onda que
ao longe ameaça rebentar
e receber a onda que se desfaz na areia
aos nossos pés
porque, como diz ricardo reis
não vale a pena cansarmo-nos. quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. mais vale saber passar silenciosamente e sem desassossegos grandes.
recebo a onda, oiço-a rebentar no meu corpo
para logo a deixar ir embora, sem desassossegos grandes.
diz vinicius
é preciso saber esperar a onda que
ao longe ameaça rebentar
e receber a onda que se desfaz na areia
aos nossos pés
porque, como diz ricardo reis
não vale a pena cansarmo-nos. quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. mais vale saber passar silenciosamente e sem desassossegos grandes.
recebo a onda, oiço-a rebentar no meu corpo
para logo a deixar ir embora, sem desassossegos grandes.
sábado, dezembro 17, 2005
O dia da criação
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas , como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E nosso senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de nosso senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade?
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espectáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sifilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há uma sensação angustiante
Porque hoje é sábado
Há uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do livro
Das origens, ó sexto dia da criação.
De facto, depois do ouverture do fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o senhor das esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas
Imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão
Durante os últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez polos infinitamante pequenos de particulas cósmicas em
Queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suariamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre
A renda e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula
Ao revés precisamos ser lógicos, frequentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações moraise estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isto porque o senhor cismou em não descansar no sexto dia e sim no sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinicius de Moraes
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas , como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E nosso senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de nosso senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade?
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espectáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sifilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há uma sensação angustiante
Porque hoje é sábado
Há uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do livro
Das origens, ó sexto dia da criação.
De facto, depois do ouverture do fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o senhor das esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas
Imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão
Durante os últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez polos infinitamante pequenos de particulas cósmicas em
Queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suariamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre
A renda e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula
Ao revés precisamos ser lógicos, frequentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações moraise estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isto porque o senhor cismou em não descansar no sexto dia e sim no sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinicius de Moraes
sábado
porquê sábado?
tenho dois ficheiros cheios de coisas escritas e ambos se chamam "sábado"
"o dia da criação" é o poema de vinicius de moraes onde se repete até à exaustão "porque hoje é sábado".
o poema segue dentro de momentos...
tenho dois ficheiros cheios de coisas escritas e ambos se chamam "sábado"
"o dia da criação" é o poema de vinicius de moraes onde se repete até à exaustão "porque hoje é sábado".
o poema segue dentro de momentos...
começar
escrever sobre tudo e nada, a banalidade de estar aqui frente ao ecrã sem sinais, sem marcas, sem nada de mim e contudo tudo o que de mim posso fazer ou dizer.
tudo em potência, a lua sempre presente, o sol que ilumina, a terra fértil e o mar criador
tudo o que faz parte de ISTO
nada, nada, nada
apenas aqui
tudo em potência, a lua sempre presente, o sol que ilumina, a terra fértil e o mar criador
tudo o que faz parte de ISTO
nada, nada, nada
apenas aqui
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