Neal Slavin
quinta-feira, outubro 30, 2014
terça-feira, outubro 21, 2014
dança da alma
"Mas o que é a intuição? São todas essas evidências, é esse encontro entre as pré-figurações da minha mente, sejam elas inatas (instintivas) ou aprendidas, e as configurações do mundo. É essa dança entre os meus impulsos nervosos e os estados do mundo. É a dança da alma. É o encontro entre os estados do meu corpo e os estados do mundo. E os estados do meu corpo não se relacionam apenas com o movimento. Se eu estiver bem treinado na dança da alma, logo que me encontre com a noite, o corpo fica cansado, o pensamento esvai-se e adormeço. Danço com a rotação da Terra até acordar quando de novo ela se virar para o Sol. E danço com a transladação da Terra quando a primavera me alegra e o outono me amolece. Não fossem as luzes da civilização, estes computadores que não me deixam descansar e as palavras que me inquietam, eu poderia melhor dançar em harmonia com a natureza.
Mas tenho mais com quem me encontrar, tenho mais com quem dançar. Encontro-me com outras pessoas, com as que me são queridas e com as que desejo. Encontro-me e desencontro-me, sofrendo alegrias e tristezas, dominando às vezes, sendo outras vezes submetido. E também procuro pares entre as pessoas que me eram desconhecidas. Às vezes, a empatia é imediata, e as nossas mentes acertam a dança. Outras vezes bem se tenta, mas as pisadelas são demais e o afastamento inevitável. Nem sempre se acerta a dança, mas sempre se pode tentar e aprender. Aliás, nada melhor para aprender do que começar com o desacerto. Todos procuramos a harmonia, mas, quando vamos à procura dela, o que mais encontramos é a dissonância. Quando a encontram, ou rapidamente se afastam dela, ou imediatamente se põem a trabalhar para reencontrar a harmonia. Quando a reencontramos provisoriamente, pensamos que descobrimos a verdade, mas logo novas dissonâncias nos devolvem a inquietação. A essa inquietante procura, chamamos curiosidade."
J. L. Pio Abreu, "O bailado da alma", D. Quixote, 2014
quinta-feira, outubro 16, 2014
pluralidade
A Pluralidade Humana
"A pluridade humana, condição básica da acção e do discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus antepassados, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da acção para se fazerem entender. Com simples sinais e sons poderiam comunicar as suas necessidades imediatas e idênticas.
Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o que existe e que, para a filosofia medieval, é uma das quatro características básicas e universais que transcendem todas as qualidades particulares. A alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela qual todas as nossas definições são distinções e o motivo pelo qual não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra.
Na sua forma mais abstracta, a alteridade está apenas presente na mera multiplicação de objectos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome, afecto, hostilidade ou medo. No homem, a alteridade, que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres singulares."
Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'
terça-feira, outubro 14, 2014
what remains
“I will always carry you
inside
outside
on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains.”
inside
outside
on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains.”
Charles Bukowski, from Selected Poems |
sexta-feira, outubro 10, 2014
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