deito-me e fragmentos de poesia aparecem
queria varrê-los da minha memória porque são passado
e não tenho a energia e talento para os sublimar em arte.
são só imagens, preciosas, belas, únicas, momentos de ternura, luz, prazer, solidão, vida, lágrimas, amor e perda, tudo ao mesmo tempo.
eu sei que vão deixar-me um dia.
talvez se transformem em pequenos pontos de luz na memória densa, pirilampos de saudade, estrelas mortas mas brilhantes e belas enquanto desaparecem.
um campo de malmequeres no coração como uma vez li num livro.
um cemitério de sonhos e esperanças, onde nos sentamos para prestar homenagem à parte de nós que desapareceu.
o luto é sempre poético e kitsch e poético.
como todas as cartas de amor são ridículas.
preciso, mas não sei como, guardar todas estas imagens sem as ferir.
talvez, por enquanto, colocá-las num cofre "que se não pode fechar de cheio"
e deixá-las lá
à espera do "vento que as mereça".
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