quarta-feira, junho 26, 2013

wild at heart






ando para rever este filme há séculos.
quando o vi, no ex-cinema do Girasolum, com um grupo de colegas da faculdade, logo no meu primeiro ano em Coimbra, e quando ninguém gostou excepto eu, devia ter logo percebido que tinha um "gosto desviante" do da maioria mainstream.

tramado ter passado todos os anos da faculdade a gostar de muitas coisas diferentes do meu grupo de pares, ter de ir quase sempre ao cinema e ao teatro sozinha, porque ninguém arriscava o que não era "garantido".

com o tempo, lá fui arranjando companhia para algumas coisas, e fui também conhecendo algumas pessoas que iam às mesmas coisas que eu.

e o gosto foi-se aprimorando quando, anos mais tarde, conheci pessoas que não só gostavam dos mesmos filmes que eu, como sabiam muito sobre cinema e ainda me levaram a conhecer filmes que de outra forma nunca veria.
foi a minha fase cinéfila, cliente habitual do ex-Estúdio 2 do Avenida.
vi quase tudo o que aparecia nessas sessões especiais, cheguei a ver dois filmes por dia.

infelizmente, como tenho uma memória de peixe, lembro-me mal de muitos dos filmes que vi. o que piorou quando, há cerca de três anos, numa furia súbita de "deixar o passado no passado", destruí todos os bilhetes antigos de cinema que na altura guardava, alguns com pequenas "críticas".

mesmo do "wild at heart" tenho mais memórias sensoriais do que a precisão da narrativa. o que, na verdade, acontece-me com quase tudo o que vejo, e muito em particular com os filmes do David Lynch.

senti, quando o vi, que alguma coisa tinha mudado na minha forma de apreciar cinema. o filme levou-me para um outro patamar, abriu-me a outra estética, fez-me perceber o cinema para além da história, tocou em sítios que nem hoje sei bem definir.

se "a insustentável leveza do ser" do Milan Kundera, e "o diario" de Anais Nin" foram os livros que marcaram a minha saída da adolescência, o "wild at heart" foi o filme que me transportou um bocadinho mais para uma maturidade estética que considero ainda em construção.



2 comentários:

Anónimo disse...

Até a velocidade do scroll do texto é perfeita:) Na sala escura do cinema lembro-me de andar com a cabeça de um lado para outro, entre as pessoas, já a saírem, a tentar 'trazer' mais algo do filme:)

(15 dias de férias e consigo agora respirar um pouco, mesmo no final...)

bj

natalie disse...

que exagero, isso do scroll :)

(eu ainda agonizo por ter férias...)