sábado, novembro 17, 2012

alegria

“Gente triste nem é Cristão nem é Escuteiro nem é coisa nenhuma. Gente triste anda no mundo pensando em entristecer os outros. Quaisquer que sejam as nossas dificuldades, os nossos problemas e as nossas agruras, a nossa obrigação é tratar disso de noite, enquanto dormimos e enquanto os outros dormem, e todas as manhãs aparecer tendo lançado fora todos os problemas que nos podem afligir, para chegarmos aos outros e lhes dar a maior esmola e o maior amparo que efectivamente podemos dar, que é o amparo da nossa própria alegria e do nosso entusiasmo ao ver aquele dia que rompe”.

 Agostinho da Silva, "Baden-Powell, Pedagogia e Personalidade", 1961



era bom ser sempre alegre, saber deixar a noite e o descanso fazerem o seu trabalho, e acordar com essa energia e entusiasmo "do dia que rompe".

era bom saber aprender com a tristeza, a depressão é normalmente um sinal de que estamos demasiado instalados em alguma ideia ou situação, e um sinal para mudar alguma coisa.

era bom conseguir aproveitar o mistério que é o inesperado de cada dia, e aceitar o que ele nos dá.

era bom sermos menos complicados, mais abertos à luminosidade que há mesmo no escuro mais denso.

era bom sermos.

ao contrário do que possa parecer, para os sábios também não é fácil, como para nós não é, manter esse estado de permanente alegria, entusiasmo, ou melhor, de presença.

só que eles perseveram. nós não.

podemos, no entanto, perceber que caminhos seguiram e para onde apontam, não necessariamente para lhes seguir a direcção, mas para perceber que é possível e, dentro das nossas capacidades, ir ao encontro do que queremos para nós.

apesar dos céus negros, apesar dos tempos inquietos em que vivemos, apesar das pequenas e grandes desilusões do quotidiano, apesar dos erros e das quedas e dos fracassos e das lágrimas, apesar do sentimento de impotência, apesar do constante reformular de expectativas, do constante desafio ao pensamento e às emoções, apesar de tudo,

há dias em que acordamos.

acordamos verdadeiramente "acordados" para o dia, o momento, o agora.
podemos não estar radiantes de alegria e entusiasmo
mas estamos vivos.
e isso basta.






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