segunda-feira, agosto 29, 2011

close


"Hold me close to your heart"
Patricia Piccinini



Now that you have a free hand

Istambul


"Now that you have a free hand, kiss the coral lips of your darling:
First press your face on hers, then kiss her alluring eyes.

Your heart is now crowned with glory because you are right at her feet.
Take her lips in your mouth: be a man, kiss her, heart and soul.

No sugar is as sweet as she, only wine is delicious like her.
She is the one who serves the drinks: rub your face on her feet, kiss her skirt

While her hands are busy playing games, wrap your arms around her;
Fondle her fragrant mole, kiss her sweet-scented eyebrows.

Lover, she is God's gift to you, cherish her value:
Keep caressing her neck and off and on kiss her smiling lips."



Suleyman, the Magnificent
(1520 - 1566)

terça-feira, agosto 16, 2011

sentimental

open the love window






Oh, dia, levanta! Os átomos dançam
As almas, loucas de êxtase, dançam
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança
Ao ouvido te direi aonde a leva a sua dança.






There is some kiss we want with
our whole lives, the touch of

spirit on the body. Seawater
begs the pearl to break its shell.

And the lily, how passionately
it needs some wild darling! At

night, I open the window and ask
the moon to come and press its

face against mine. Breath into
me. Close the language-door and

Open the love window. The moon
Won't use the door, only the window.






sábado, agosto 13, 2011

quinta-feira, agosto 11, 2011

quarta-feira, agosto 10, 2011

improvisação


Recebo a luz enquanto caminho
de olhos fechados
encontro-me no espaço
e sou só o tempo em que me dou
ao movimento
em que me sinto e insiro.

Confio no ritmo universal da vida
que guia o meu corpo ao encontro
com outro corpo em que
me espelho, cúmplice.

"Saio de mim para me encontrar"
perco-me no tempo
invento-me no espaço
procuro o sopro,
o respirar.

No espaço em branco reescrevo-me
na memória do corpo encontro
o segredo do movimento imóvel
e sou poema vivo.

2000


(Entre 1999 e 2001 fiz vários workshops de movimento e dança contemporânea, foram vários fins de semana de re-descoberta do corpo, meu e dos outros, do espaço, do tempo, de novas possibilidades de movimento e de pensamento. Frequentemente, quando chegava a casa, com o corpo e a mente ainda em movimento interior, escrevia coisas como a que está aqui. )

segunda-feira, agosto 08, 2011

nu


Eduardo Viana
MNAC

quinta-feira, agosto 04, 2011

no trapézio





Inábeis, sabemos o que é preciso fazer mas vamos no sentido contrário.
Sabemos que, se olharmos melhor, encontramos a tal peça do puzzle mas preferimos tentar colocar um quadrado dentro dum círculo.
Ficamos muitas vezes tristes, solitários. 
Podemos até deixar de tentar, de arriscar. Enchemo-nos de cautelas, jogamos à defesa.
Fingimos estar bem, não queremos ver, tapamos os olhos.
Temos o vislumbre do que pode ser mas não temos mais forças e coragem para nos atirarmos, sem rede, para o vazio.
Precisamos das escolhas da maturidade mas pensamos como crianças e queremos tudo.


É preciso abdicar de uma coisa para agarrar a outra, totalmente, de corpo e alma.
A hesitação é a morte do artista, é a queda do trapézio.
É preciso superar este lado trágico que somos.
É preciso a poesia e a catarse.
É preciso a auto-superação

Março de 2011



terça-feira, agosto 02, 2011

dois de agosto de mil novecentos e noventa e nove

quetzalcoatle, a serpente emplumada


"Serenamente toco no chão com as palavras e não sinto já medo. Estou na terra e ela está em mim. Os meus pés deslizam suaves pelas ervas no chão e não sentem já a diferença que há entre eles e o território em baixo.
Dos pés emerge algo forte, profundo e sólido como a própria terra, e esta energia envolve-me todo o corpo, eleva-me os pensamentos, que fluidos, se misturam com tudo o que me rodeia.

E vejo as pessoas, sou como elas;
Vejo o rio, deixo-me levar na sua corrente;
Olho o céu e brilho no luzir das estrelas, mergulho na escuridão do universo;
Encontro-me com a Lua e sou só o olhar que lhe dirijo, pertenço-lhe;
Nasço com o sol e a sua luz ilumina-me o espirito, o seu calor derrete-me o corpo, sou só energia;
Oiço a chuva na natureza, sinto a sua fresca humidade, e lavo de mim todas as impurezas;
Mergulho no mar e sou de sal e água, de sol e vento, de luz e fogo, de terra e ar.
Estou aqui e tudo está em mim, sou só este instante breve que passou...

Serenamente, olho o passado e não estou nele; serenamente invento um futuro e ainda não estou nele. Estou aqui, na minha vida, no meu presente, que se altera minuto a minuto, pensamento a pensamento.

Toco o chão com palavras imaginárias, com pés reais e imagens só minhas.
Toco o chão e sinto o meu peso, sinto a gravidade que me empurra para a terra, que me puxa, que me envolve com doces palavras, que me promete uma tranquilidade ainda utópica. Presa ao chão (como réptil?), já não é o desconforto que sinto, mas apenas um chamamento maior, que me aproxima de tudo o que há de bom em mim.

Serenamente, misturo o sonho de voar com a força das raízes que me prendem à terra, e entre a ave que não sou e o réptil que não quero ser, invento um novo espaço, uma nova forma de estar, um pássaro  que voa envolvido no conforto da terra..."

2-08-1999