Jeff Koons
quinta-feira, abril 28, 2011
terça-feira, abril 26, 2011
Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me
sentir como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater
os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava
os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira
Que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
E o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto
Quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera
um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do império
mas a única coisa que consegui apanhar
foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar
uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito
e idiota como tu
mas que tem o coração doce, ainda mais doce
que os pasteis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros
para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete
Salazar estava no poder
nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram
nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre
nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas
a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho
Que Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca
Jorge de Sousa Braga, O Poeta Nu
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me
sentir como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater
os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava
os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira
Que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
E o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto
Quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera
um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do império
mas a única coisa que consegui apanhar
foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar
uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito
e idiota como tu
mas que tem o coração doce, ainda mais doce
que os pasteis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros
para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete
Salazar estava no poder
nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram
nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre
nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas
a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho
Que Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca
Jorge de Sousa Braga, O Poeta Nu
segunda-feira, abril 25, 2011
quinta-feira, abril 21, 2011
universo
Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
Se há outras matérias e outros mundos —
Haja.
Alberto Caeiro
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
Se há outras matérias e outros mundos —
Haja.
Alberto Caeiro
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
terça-feira, abril 19, 2011
valsa triste
"Ribombou o piano; uma valsa triste esvoaçou da sala para as janelas abertas de par em par, e toda a gente se terá lembrado que lá fora era Primavera, uma noite de Maio. Toda a gente terá sentido que o ar cheirava a folhas novas de álamo, a rosas e lilases. Riabóvitch, em quem, sob o poder da música, falou o conhaque bebido, olhou de soslaio para a janela, sorriu e pôs-se a seguir os movimentos das mulheres, já lhe parecendo que o cheiro a rosa, a álamo e lilás não vinha do parque, emanava dos rostos e dos vestidos delas."
"O beijo"
Contos de A. Tchékhov
"O beijo"
Contos de A. Tchékhov
sábado, abril 16, 2011
quarta-feira, abril 13, 2011
domingo, abril 10, 2011
quinta-feira, abril 07, 2011
I feel pretty
Há meninas que não se acham bonitas, ou suficientemente magras, ou espertas, ou outra coisa qualquer, porque lhes dizem que não são bonitas, ou magras, ou espertas e elas acreditam.
Algumas destas meninas entram em processos de auto-destruição. Algumas salvam-se.
Hoje conheci uma menina que (por enquanto) se safou porque deixou de acreditar no que alguns lhe diziam. E porque outras pessoas lhe devolveram outra imagem, uma imagem mais real e mais bonita, como ela é.
Quando eu tinha 5 ou 6 anos, não sei bem, um amiguinho mais novo disse-me, numa daquelas zangas normais em crianças, que era feia. E eu, que nunca me tinha passado pela cabeça tal coisa porque fui na primeira infância uma criança cheia de auto-estima, fiquei com dúvidas.
Lembro-me de ter sido apanhada pela minha avó a olhar fixamente, talvez a chorar, para o meu reflexo no espelho da casa de banho, em casa dela, numa daquelas maravilhosas e longas tardes de sábado. Perguntei-lhe se eu era feia e ela, claro, disse que não, não era nada feia. E eu acreditei. Pelo menos até à adolescência, quando as dúvidas regressam com outra intensidade. Mas então já estava protegida da malidicência.
quarta-feira, abril 06, 2011
nódoas negras
Tenho as pernas cheias de nódoas negras, uma delas é do tamanho da China e já passou por todas as cores.
Coisas que acontecem quando se cai. E eu caio muitas vezes.
Lembro-me quando torci pela primeira vez um dos meus pequenos e frágeis pés. Devia ter 12 ou 13 anos e ia de boleia para casa com um vizinho e amigo dos meus pais. Quando entrei no carro, no sítio onde devia pôr os pés havia um enorme garrafão. Não sei como fiz, ao tentar encaixar-me no carro, coloquei mal o pé e pumba! torcidela.
A dor era terrível, o pé inchou e ficou vermelho, sentia dentro do sapato o sangue a latejar. Mas mantive-me calada e serena, sem dar um ai. Ninguém deu conta. Quando saí do carro mal conseguia pousar o pé no chão, mas continuei como se não fosse nada, e só quando cheguei a casa a dor tomou conta de tudo.
Gelo, muito gelo, ligaduras elásticas, pomadas. Um ritual que repito com alguma regularidade.
Desta vez também adiei a dor. Mal caí senti dores terríveis, mas levantei-me e continuei a fazer o que tinha de fazer, como se nada fosse, sem saber se tinha sangue a escorrer pelas pernas, se a coisa seria mais grave do que parecia. Estava a meio de um espectáculo e só quando sai de cena a dor veio.
Faço isto muitas vezes: adiar a dor. Agora não, que tenho mais que fazer; estou ocupada, não posso. Mas ela vem, a puta da dor, vem sempre.
Gelo, muito gelo, ligaduras, pomadas... Rituais.
Coisas que acontecem quando se cai. E eu caio muitas vezes.
Lembro-me quando torci pela primeira vez um dos meus pequenos e frágeis pés. Devia ter 12 ou 13 anos e ia de boleia para casa com um vizinho e amigo dos meus pais. Quando entrei no carro, no sítio onde devia pôr os pés havia um enorme garrafão. Não sei como fiz, ao tentar encaixar-me no carro, coloquei mal o pé e pumba! torcidela.
A dor era terrível, o pé inchou e ficou vermelho, sentia dentro do sapato o sangue a latejar. Mas mantive-me calada e serena, sem dar um ai. Ninguém deu conta. Quando saí do carro mal conseguia pousar o pé no chão, mas continuei como se não fosse nada, e só quando cheguei a casa a dor tomou conta de tudo.
Gelo, muito gelo, ligaduras elásticas, pomadas. Um ritual que repito com alguma regularidade.
Desta vez também adiei a dor. Mal caí senti dores terríveis, mas levantei-me e continuei a fazer o que tinha de fazer, como se nada fosse, sem saber se tinha sangue a escorrer pelas pernas, se a coisa seria mais grave do que parecia. Estava a meio de um espectáculo e só quando sai de cena a dor veio.
Faço isto muitas vezes: adiar a dor. Agora não, que tenho mais que fazer; estou ocupada, não posso. Mas ela vem, a puta da dor, vem sempre.
Gelo, muito gelo, ligaduras, pomadas... Rituais.
terça-feira, abril 05, 2011
Subscrever:
Mensagens (Atom)