quarta-feira, dezembro 31, 2014

terça-feira, dezembro 30, 2014

Aniversário



No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...



15/10/1929

Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos

quarta-feira, dezembro 24, 2014

céu


Calvin & Hobbes, Bill Watterson



quase todas as vésperas de Natal, na aldeia, tinham um momento assim, de profunda maravilha e contemplação, ao olhar o céu estrelado, enquanto as mãos e os pés gelavam.
mas o apelo das estrelas era mais forte que o frio, e mesmo que só conseguísse permanecer na rua por poucos minutos, sentia-me magnetizada pelo brilho de todas aquelas luzes, num espaço sem fim. 


que haja luz. que brilhem estrelas sempre dentro de nós. que o sonho permaneça. que tenhamos sempre capacidade de nos maravilharmos. que o desconhecido nos deslumbre.

bom natal

domingo, dezembro 21, 2014

domingo, dezembro 14, 2014

ondas





Lucien Clergue, Géantes de la Mer, Camargue, 1978

terça-feira, dezembro 02, 2014

blue tango

(a maravilha de descobrir novas coisas velhas, a propósito de uma publicidade)