segunda-feira, julho 31, 2006

Ai! Se sêsse! ...

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!


Zé da Luz

dito em sines por Lira Paes do "Cordel do Fogo Encantado

www.cordeldofogoencantado.com.br

domingo, julho 30, 2006

Beirute


















Beirute, 1976


Mais fotos em
http://www.cedarland.org/warpics.html

uma das primeiras exposições de fotografia que vi, e que desde então me ficou gravada na memória visual, mostrava a cidade de Beirute totalmente destruída após uma das inúmeras guerras sofridas no território.
não me lembro do fotografo, nem da data das fotografias.
mas lembro-me do pó da destruição entranhado na pele, das casas abandonadas onde entrei, das ruas vazias que percorri.
e principalmente lembro-me de ter achado tudo muito familiar.
como se a guerra fosse aqui, ao meu lado, na minha rua, na cidade onde vivo,
como se o vazio, a destruição, a perda fossem também meus.
ao vaguear pelas fotografias senti um estranho reconhecimento,
como se eu pertencesse (ou tivesse pertencido) àquela cidade destruída.

um lugar chamado manhã

WILL there really be a morning?
Is there such a thing as day?
Could I see it from the mountains
If I were as tall as they?

Has it feet like water-lilies?
Has it feathers like a bird?
Is it brought from famous countries
Of which I have never heard?

Oh, some scholar! Oh, some sailor!
Oh, some wise man from the skies!
Please to tell a little pilgrim
Where the place called morning lies!


Emily Dickinson, Nature

terça-feira, julho 25, 2006

sunscreen




já cá tinha colocado o discurso, agora fiquem com o produto total!
(obrigada Folha de Chá por me lembrares esta mensagem!)

sábado, julho 22, 2006

tão longe de mim distante

Quem Sabe?

I.
Tão longe de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!
Tão longe de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!

Quizera saber agora
Quizera saber agora
Se esqueceste,
Se esqueceste o juramento

Quem sabe se é constante
S'inda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade, da saudade agro tormento

II.
Vivendo de ti ausente,
Ai meu Deus,
Ai meu Deus que amargo pranto!
Vivendo de ti ausente,
Ai meu Deus,
Ai meu Deus que amargo pranto!

Suspiros angustiadores
São as vozes,
São as vozes,
São as vozes do meu canto

Quem sabe
Pomba innocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei,
Te entreguei já n'este canto


Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (1836-1894)
Antônio Carlos Gomes (1836-1896)

Peer Gynt, em busca de si mesmo

O Curso de Teatro e Educação em colaboração com O Teatrão apresentam o espectáculo Peer Gynt, no âmbito do Projecto de Intervenção do 4º ano daquele curso da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), de 20 a 29 de Julho no Polo II da ESEC.

http://www.oteatrao.blogspot.com/


Peer Gynt, embora não chegue a ser uma profecia sobre o “dirigismo pelos outros”, trata do perigo da falta de identidade, do perigo de uma pessoa ser uma cebola humana, toda feita de camadas sobrepostas, sem nenhum centro. - Eric Bentley


Peer Gynt, considerada uma das obras precursoras do teatro moderno – o teatro de discussão de ideias – apresenta um homem que da juventude à velhice procura o seu verdadeiro eu, a sua identidade.

Peer Gynt condensa o percurso de uma vida. Uma vida que, embora revestida por acontecimentos fantásticos, com surpreendentes aventuras com trolls, pastoras ninfomaníacas, beduínas no deserto de Marrocos, directores de hospício no Cairo, figuras alegóricas e simbólicas, pode perfeitamente ser a nossa.

Se não vejamos: Peer Gynt quer ser imperador, mas não sabe bem de quê, nem porquê, apenas quer sê-lo porque daí, pensa ele, lhe pode advir uma grande respeitabilidade e admiração social. No entanto, nada faz de palpável para concretizar este sonho. Fica à espera que o destino, por um qualquer golpe de mágica lhe ofereça de mão beijada aquilo por que tanto anseia. Deixa-se ir ao sabor do tempo, segundo as circunstancias, agarrando com toda a força do seu ser as pequenas oportunidades que lhe vão aparecendo. As três premissas que Peer orgulhosamente diz regerem a sua vida são: nunca dar um passo decisivo; avançar com prudência entre as mil ciladas da vida; deixar atrás de si espaço suficiente para bater em retirada. Premissas que assentam em princípios que nunca o comprometem com nada nem ninguém. Nunca decide, nunca opta e tem sempre a possibilidade de reconsiderar. É o mundo que faz Peer e não Peer que interfere no mundo. É o homem feito por sucessivas camadas e sem centro.

Ibsen afirmou sobre esta personagem: Peer Gynt sou eu nos meus piores momentos. E Peer Gynt não somos nós quando nos deixamos comandar pelo destino em vez de agirmos sobre ele? Não somos nós quando não tomamos opções, quando não decidimos o que verdadeiramente queremos ser ou ter, quando não traçamos objectivos para nossas próprias vidas e nos pomos a deambular sem rumo à espera que as oportunidades nos caiam do céu? Não somos nós quando queremos “bastar-nos a nós mesmos”, sem olharmos para o mundo à nossa volta? Quando, ao invés de arregaçarmos as mangas e lutarmos por algum projecto válido, ficamos imóveis, passivos, à espera que um qualquer D. Sebastião, numa noite de nevoeiro, nos venha libertar dos males de que padecemos?

quinta-feira, julho 20, 2006

solilóquio no ciberespaço

Sinto que a vida esqueceu-se de mim.

Um dia pensei que tinha o mundo nas minhas mãos, que podia ser e fazer o que quisesse, que tinha quase tudo para ser feliz.
O mundo avança para os outros. Para os outros que podem ter sonhos, que podem fazer planos, que podem pensar no futuro...

Vejo-me a andar para trás. Intelectualmente, profissionalmente e como pessoa.
Não sei quanto tempo tenho e como posso dispor dele.
Sinto-me inútil, perdida e sem rumo.

Eu não escolhi nada disto.
Queria os horários apertados, as rotinas monótonas, os dias cheios e sem tempo para mim.
Escolhi um caminho que me privou do afecto básico que pensei ser imutável e garantido mas que me restituiu a paz, a tranquilidade, a liberdade e o amor que queria para mim.
Mas caramba, se me falha a minha mãe pode falhar tudo, não é?

Não preciso de nada.
Só me queria de volta.
Desculpa.
Beijo.



(eu ouvi-te)

Nota: este texto não foi escrito por mim, mas para mim.

segunda-feira, julho 17, 2006

domingo, julho 16, 2006

diário delírio

ontem distraí-me com as andorinhas ou outra coisa qualquer no céu não importa e caí estatelei-me num chão de cimento partido os joelhos magoados a mão direita com as marcas do chão os musculos doridos de suportar o meu peso o pé dorido por ter torcido a cabeça em desequilíbrio.

ontem distraí-me e percebi que o chão suporta as minhas quedas quando tento escapar para longe com o olhar com o pensamento com os sonhos com os planos que faço e que estão sempre lá mais adiante sem que tenha mãos para lá chegar sem que tenha asas para evitar a queda.

ontem distraí-me e quase não percebia que o pensamento tinha mudado da cabeça para as mãos mas ainda não para o centro que agora consigo fazer mais e pensar menos desses pensamentos que estorvam a acção em vez de a incitarem embora ainda tenha os olhos no longínquo céu.

ontem distraí-me.

hoje está calor demais não me apetece sair de casa não me apetece ficar em casa não me apetece comer não me apetece dormir não me apetece ler não me apetece passar horas a ver televisão não me apetece ver 50 vezes o e-mail não me apetece passar horas na internet à procura de mim não me apetece não me apetece não me apetece

hoje está calor demais e tenho ainda as marcas da queda as marcas do sonho as marcas da descoberta mas agora porra o que faço com isto que não serve para nada se estou aqui em casa sem ter vontade de nada nem da praia nem do vento nem do frio da água, sem ter vontade porque não há nada a fazer ou construir.

hoje está calor demais.

sexta-feira, julho 14, 2006

something




(martinha, parece que andamos sintonizadas!)

13

obscura noite de bruxas
lua quente, vermelha, intensa

à espera da tempestade
que quer rebentar

(água que alivia
terra que redime)

na brisa suave
um desejo por cumprir

quinta-feira, julho 13, 2006

Oriente

Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece
Vê se não se esquece
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração

Considere, rapaz
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação

Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do Sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão


Gilberto Gil
(cantada por Ney)

terça-feira, julho 11, 2006

ney





o verdadeiro rei lagarto não cantou esta balada do louco ontem
(canção que me devolve as longas viagens de carro em família)
sóbrio, acústico, mas libertando das entranhas tudo o que de si quer partilhar
ney matogrosso levou-nos numa viagem ao cruzeiro do sul
num transe discreto, mas eficaz.

empolgante

sexta-feira, julho 07, 2006

milhafre

a lua prateada
contrasta com o negro
majestoso do milhafre
que vejo, mal pouso na cidade

lembra-me um anjo
o milhafre

e para mim, é sempre um bom presságio.

"quando nós, os mortos, despertarmos"

RUBEK
(repete como num sonho) Uma noite de Verão nas montanhas. Contigo. Contigo. (os olhos de Rubek e Irene encontram-se:) Oh, Irene - a nossa vida podia ter sido assim! Foi isto o que deitámos fora, tu e eu.

IRENE
Só nos iremos aperceber do irreparavel quando... (Interrompe-se.)

RUBEK
Quando?

IRENE
Quando nós, os mortos, despertarmos.

RUBEK
(balança tristemente a cabeça) E aí veremos o quê?

IRENE
Veremos que nunca vivemos.

(Ela dirige-se até à colina e desce. A Diaconisa dá-lhe passagem e segue-a. Rubek fica sentado, imóvel, perto do rio.

MAJA
(ouve-se o seu canto alegre nas montanhas)

Estou livre, livre, livre,
Livrei-me da prisão!
Sou livre como um pássaro,
Livre, livre, livre!


Excerto do final do II Acto
"Quando nós, os mortos, despertarmos"
Henrik Ibsen

Ed. Cotovia.

quinta-feira, julho 06, 2006

quarta-feira, julho 05, 2006

festival de almada

para quem puder passar por lá:

www.ctalmada.pt


(oportunidade para ver "waiting for godot" do teatro meridional, no dia 8)

terça-feira, julho 04, 2006

fogueiras

Céu escuro
Crescente de lua

As fogueiras preparam as raparigas
Para o salto
E para a colheita

Saltam as moças
As velhas e as meninas
O calor entra
No corpo
De todas

Também no corpo
Dos homens
O calor espera

O salto
Ardente
No escuro
Das raparigas

segunda-feira, julho 03, 2006

almedina

foi preciso vir a fnac do forum e a bertrand do dolce vita, para a velha almedina se modernizar...
é bonita, tranquila e variada a nova loja do estádio.

www.almedina.net

domingo, julho 02, 2006